Esportes

Golfe brasileiro testa apostas para Tóquio-2020 no Latino-Americano

CIDADE DO PANAMÁ – Os seguidores do golfe têm uma linha de pensamento que pode divertir os leigos: todos perdem, mas vence quem perder menos. Mais que mera anedota, refere-se à natureza peculiar do esporte, em que acertar os buracos de primeira — uma vitória “pura”, incontestável — trata-se de feito tão excepcional que praticamente foge à regra. Para os seis jovens golfistas brasileiros, com idades entre 18 e 23 anos, que disputam a partir desta quinta-feira o Campeonato Amador Latino-Americano (LAAC, na sigla em inglês) no Club de Golf do Panamá, o ditado se aplica também ao ciclo olímpico para Tóquio-2020, um relógio em contagem regressiva.

A chave não é forjar a perfeição, e sim equilíbrio emocional para minimizar os tropeços antes de chegar ao limite: no golfe, chama-se “par”, o número de tacadas considerado necessário para acertar um buraco (geralmente varia entre três e cinco). Excessos ou jogadas “pouco econômicas” custam caro. Na busca por Tóquio, o limite também é um par: a pontuação no ranking classificatório, elaborada a partir de resultados em torneios profissionais, começa a ser contabilizada dois anos antes dos Jogos.

– Estamos apostando nesses garotos para Tóquio. Não sabemos se todos vão passar de amadores a profissionais até lá. É preciso ter regularidade. Eu digo a eles: o problema não é errar uma tacada, mas continuar errando. – avalia o técnico da equipe brasileira no LAAC, Nico Barcellos.

A equipe brasileira conta com Herik Machado, de 19 anos; Pedro Nagayama, 19; Daniel Ishii, 23; Gustavo Chuang, 23; Marcos Negrini, 19; e Rohan Boettcher, de 18 anos. À exceção de Chuang, todos já haviam participado do LAAC no ano anterior, quando o título ficou com o surpreendente Paul Chaplet, da Costa Rica, à época com apenas 16 anos.

PORTA DE ENTRADA

Agora em sua terceira edição, o LAAC desponta como um dos torneios mais fortes na América Latina para golfistas amadores. A edição de 2016 teve classificação B em uma escala que vai até F. O vencedor ganha um convite para o Masters, importante torneio profissional nos EUA e dificilmente acessível por outras vias. Além do nível de competição mais elevado, é preciso patrocínios de centenas de milhares de dólares para arcar com custos de participação nos maiores circuitos profissionais — realidade distante em países como o Brasil, onde o golfe padece de baixa popularidade e da imagem de ser restrito a pequenos grupos.

Fundado por três grandes instituições do golfe dos EUA – R&A, Masters Tournament e USGA -, o LAAC ainda representa um alívio financeiro para a Confederação Brasileira de Golfe (CBG), que escapa dos gastos comuns com viagem e hospedagem de atletas. Embora tenha visto aumentar sua participação nos repasses via Lei Agnelo Piva, a CBG tem uma das menores fatias dos recursos federais no esporte olímpico: a previsão é receber R$ 2,26 milhões em 2017.

A confederação evita precipitar a entrada da nova geração no circuito profissional. Há atletas que permanecem amadores por mais tempo como parte do planejamento: não recebem premiações vultuosas, mas também não gastam tanto e podem evoluir seu jogo com maior tranquilidade.

– O apoio financeiro da CBG é fundamental para os atletas amadores. Herik Machado e Daniel Ishii (os dois melhores brasileiros no ranking mundial amador) estão conseguindo viajar para mais de 20 torneios por ano. É uma rotina de jogador profissional. O problema para entrar no circuito profissional é justamente que precisa de muito dinheiro – pondera Barcellos.

Não apenas os jovens amadores do LAAC, todos atuantes no Brasil, são apoiados pela CBG. Golfistas profissionais como Adilson da Silva, de 44 anos, representante masculino do Brasil na Rio-2016, e Lucas Lee, de 30, que fizeram suas carreiras no exterior, também entram no programa de alta performance da entidade e são beneficiados pelo Bolsa Atleta, que contemplou 27 golfistas em 2016. Caso a nova safra não vingue a tempo deste ciclo olímpico, a tendência natural é que jogadores já adaptados aos campeonatos profissionais, que contam pontos para a Olimpíada, recebam mais atenção nos próximos anos.

COMPANHIA FORTE

No LAAC, as duas primeiras rodadas são disputadas em trios de jogadores. Cada rodada tem 18 buracos, o percurso total do campo, e os 50 melhores jogam a fase final, no sábado e no domingo, com mais 36 buracos. O melhor brasileiro na última edição foi Herik Machado, que figurava entre os melhores até os últimos dois buracos, quando precisou de tacadas a mais e acabou caindo para 13º. Neste ano, Herik terá de lidar com a pressão desde o início: está no grupo do chileno Matías Dominguez, nº 34 do mundo e vice-campeão do LAAC em 2015.

– Prefiro cair em um trio forte. Um jogador bom puxa o nível dos outros para cima. Isso é importante porque os resultados das primeiras rodadas não são descartados, eles contam na pontuação final – avalia Herik, atual nº 202 no ranking mundial amador, a melhor colocação de um brasileiro hoje.

– Um grupo mais fraco pode acabar sendo uma espécie de âncora: você entra mais relaxado e seus resultados ficam lá para baixo – completa Pedro Nagayama, quarto melhor brasileiro no ranking, em que ocupa a posição nº 1078.

*O repórter viaja a convite do LAAC