RIO – A combinação não podia dar certo. Debaixo de um sol a pino, com temperatura média na casa dos 36 graus, uma multidão caminhava longas distâncias, sem qualquer sombra, desbravando um complexo esportivo descampado de uma lado para o outro. Para se refrescar, água – mas água não havia, nem nos banheiros, nem nos refeitórios, nem nos bebedouros, problema hidráulico que só foi parcialmente solucionado no fim da tarde. A única água que havia era a que era vendida nos quiosques de alimentação: uma garrafinha de meio litro a salgados R$ 8, mesmo assim, com longas filas para comprá-las. Dezenas de pessoas passaram mal e lotaram os postos médicos no primeiro dia de funcionamento do Complexo Esportivo de Deodoro. Mas nenhum caso grave foi registrado.
Por volta das 14h, uma das funcionárias do setor de limpeza do Rio Fest, espaço de lazer do complexo, foi levada às pressas, desmaiada, para um dos postos de atendimento. Seu setor estava completamente sem água desde cedo, e como sua função é manter a área d elazer descampada limpa, ela havia varrido horas sob sol forte, o que causou a baixa de sua pressão.
– Trabalhamos de 7h às 19h, e só temos uma hora de almoço. Não é possível ficar tanto tempo embaixo desse sol, ainda mais sem água – comentou outra funcionária do mesmo setor, explicando que a única hora que tem de almoço não é suficiente para cruzar o complexo, comer e voltar, e como não podem entrar com comida, ficam muito tempo sem se alimentar.
Além dos funcionários que trabalhavam embaixo do sol forte, os estrangeiros e as crianças foram quem mais sofreram com o calor intenso ao longo do dia. Muitos reclamavam que as longas filas para comprar bebidas, alimentos e para entrar nas arenas também contribuíam para a exaustão dos menos acostumados ao clima brasileiro.
– Eu fui muito bem atendida no Posto Médico, tive uma queda de pressão por causa do calor mas já estou melhor. Mas acho que podiam ter previsto o problema e criado mais formas de assistência, como pequenas duchas ou espaços com sombra – listou a australiana Hannah Mitchell,36 anos, que aguardava para ver o jogo da Austrália contra o Brasil no fim da tarde.
Com o calor, as poucas áreas de sombra embaixo das árvores do complexo viraram uma espécie de ‘praia’ improvisada. Em frente à Arena da Juventude, muitos turistas estendiam suas bandeiras como se fossem cangas, tomavam “banho de bebedouro” enchendo as garrafas numa das poucas fontes que tinham água ao longo da tarde, tiravam as camisas e descansavam entre um jogo e outro. E comiam biscoito Globo, das poucas opções de lanche que não esgotaram no Complexo.
– A água está custando R$ 8, com este calor, a gente gasta muito dinheiro. Prefiro ficar na fila do bebedouro, apesar do sol — ponderou o economista gaúcho Antonio Coelho, 39 anos, na fila para encher duas garrafinhas de refrigerante vazias.
Produtor cultural e diretor de teatro, Anderson Barnabé elogiou a organização do evento,mas salientou que pequenas ideias poderiam deixar o público menos vulnerável ao calor.
– Podiam ter colocado mais tendas, para sol para crianças, distribuído leques, pequenos suvenires que fazem diferença. São muitas famílias que não estão acostumadas, e esses detalhes ainda são possíveis de ajustar. São Pedro deu uma trégua e o calor esta cozinhando as arquibancadas.