Tudo começou com ares de jogada de marketing: para incentivar a construção do novo estádio do Estudiantes, que será inaugurado neste ano, o atual presidente do clube e ex-jogador Juan Sebastián Verón prometeu que voltaria aos gramados se conseguisse vender 65% dos camarotes em três meses. A torcida, que tem “La Brujita” como ídolo, cumpriu o desafio em dois. Verón também fez sua parte: aos 42 anos e depois de três temporadas aposentado, voltou a ser relacionado para um jogo oficial nesta terça-feira, para encarar o Botafogo pela Libertadores, em um caso raro de presidente-jogador.
A brincadeira, no entanto, ficou séria. O Estudiantes apresenta problemas no time desde o fim de 2016, quando engatou quatro jogos sem vitória e caiu da liderança para o 4º lugar. Em sete amistosos de pré-temporada, só venceu dois. E voltou a perder na retomada do Argentino, na última quinta-feira, para o Vélez Sarsfield. De repente, Verón deixou de ser visto como trunfo fora de campo e passou a ser tratado como reforço essencial no time argentino.
– Pelo momento econômico do futebol argentino, o clube não fez contratações fora de série. A incorporação mais importante do Estudiantes foi a volta de Verón – avalia Martin de Simone, correspondente do diário esportivo “Olé” em La Plata, cidade do Estudiantes.
Embora o time tenha um dos ataques mais eficientes do Campeonato Argentino até aqui, com 25 gols em 15 jogos, De Simone destaca que o setor ofensivo não desperta confiança desde a saída do meia Gastón Fernandez, que acertou com o Grêmio neste ano.
– Hoje, a falta de criatividade ofensiva faz com que o Estudiantes seja um time sem muito poder de fogo. A precisão de Verón daria mais jogadas à equipe. A ideia é que ele jogue contra o Botafogo, o que modificaria o esquema e faria a equipe atuar com um meio-campista a mais, tirando um atacante. Não imagino Verón atuando mais recuado. “La Bruja” provavelmente teria uma dupla de volantes às suas costas – analisa De Simone.
Sem Verón, que deve ser utilizado apenas na Libertadores, o Estudiantes costuma atuar com dois atacantes, dois meias e dois volantes — normalmente Damonte (ou Braña) e Ascacibar. Estes últimos, segundo o jornalista do “Olé”, são os pontos fortes da equipe, devido à explosão e capacidade de marcação.
O provável time titular conta com dois remanescentes da conquista da Libertadores de 2009 (três, se Verón jogar): o zagueiro Desábato e o goleiro Andújar. A derrota por 3 a 2 para o Vélez, na retomada do Argentino, foi definida por um erro de Andújar na saída de bola, já nos acréscimos, que acabou dando origem ao gol de Pavone.
A filosofia de evitar chutões e priorizar a saída à base do toque de bola já motivou críticas da imprensa ao técnico do Estudiantes, Nelson Vivas, devido aos riscos que a equipe corre. Vivas, de 47 anos, foi contemporâneo de Verón no futebol. Eles foram titulares da seleção da Argentina na Copa do Mundo de 1998, na França.
Antes da viagem ao Rio para enfrentar o Botafogo, Verón tentou argumentar que o cargo de presidente do clube não determina sua presença o time. “La Brujita” disse em entrevista ao programa “De fútbol se habla sí”, da Directv argentina, que não faz questão de ser titular e que se contentava em estar à disposição. Vivas treinou o time na segunda-feira, na Gávea, com o veterano entre os titulares. A opção indica tanto a confiança do treinador e ex-companheiro quanto o peso de Verón para o Estudiantes.
– Verón e Vivas são bastante reservados. Há uma boa relação – aponta De Simone. – Não sei se chega a ser de amizade, mas eles se dão bem e se respeitam. Até porque, sendo Verón presidente além de jogador, Vivas não seria o treinador se tivessem uma relação ruim.