O Botafogo escolheu a via do drama, do sofrimento, do épico. O time desacreditado desde o Brasileiro do ano passado, chegou à Libertadores, pegou o caminho mais duro possível no sorteio e agora está na fase de grupos, onde se encontrará com o campeão Atlético Nacional, da Colômbia; Estudiantes, da Argentina; e Barcelona, do Equador.
A cada jogo decisivo, um herói, um símbolo. Nesta quarta-feira, o alvinegro aprendeu da pior forma que não há jogo controlado, por melhor que sua defesa marque, quando a bola está sempre perto de sua área. O Olimpia achou um gol já na parte final do jogo e venceu por 1 a 0. Nos pênaltis, Gatito Fernández, que entrara no lugar do machucado Helton Leite, foi brilhante: fez três defesas e garantiu a vitória por 3 a 1. Pelo visto, a lesão do goleiro que começara jogando foi só mais um capítulo desta incrível saga.
Obrigado a jogar decisões muito cedo em 2017, a superar desfalques de peso, um após outro, o Botafogo foi aprendendo a romper obstáculos. Conhecedor do elenco, tendo o tempo de casa a seu favor, Jair Ventura quase sempre interveio com precisão.
Nesta quarta-feira, as opções foram menos felizes. Na ausência de Jonas, fazer de Marcelo um lateral marcador pela direita funcionou, ao menos defensivamente. Mas havia muito mais a superar. Sem Montillo, maior contratação do ano, Jair colocou Camilo junto a Pimpão no ataque e, no meio-campo, pôs Bruno Silva e João pelos lados, com Aírton e Matheus Fernandes à frente da zaga.
POSTURA DEFENSIVA
A estratégia fez o Botafogo ser preciso na tarefa de conter o rival. A marcação bem feita exigia dos paraguaios uma criatividade que não têm. E, a rigor, o primeiro tempo transcorreu quase sem sustos. Mas é difícil convencer um torcedor alvinegro, angustiado diante de um jogo em que o relógio parece passar tão devagar, que houve, de fato, poucos riscos. É verdade que Helton Leite fez uma única defesa difícil, a dois minutos do intervalo. Mas ver a bola, o tempo todo, tão perto da área do Botafogo, causava angústia.
Não há jogo sob controle quando a bola circula sua própria área, local em que qualquer pequeno acidente pode ser fatal. O Botafogo não mantinha a bola longe de seu gol. Em boa parte, porque o meio-campo escolhido por Jair, eficiente para combater, não tinha uma grande opção de velocidade. Em raros momentos, trocou passes, mas sem criação a partir de uma posse de bola cadenciada. E, principalmente, não contribuía para as transições rápidas, os contra-ataques que caracterizam este Botafogo. Pimpão, o homem veloz do time, demorava uma eternidade a ser acionado. Teve uma boa chance, somente aos 41 minutos.
Diante do empate sem gols, uma opção difícil se colocava para Jair Ventura: arriscar o equilíbrio defensivo ou tentar assustar um pouco o rival com mais estocadas no ataque. Renunciar à bola por longo tempo costuma impor castigos.
SUFOCO E SOFRIMENTO
A opção após o intervalo foi manter a forma de jogar. Entrou Gílson, um segundo lateral pela esquerda, mas atuando na linha de meias, à frente de Victor Luís. João Paulo passou a formar dupla de volantes com Aírton e o time piorou. O Botafogo perdeu ainda mais poder de reação diante da pressão cada vez mais sufocante, embora pouco criativa, do Olimpia.
O time perdeu retomada de bola, presença física no centro do campo. E Gílson, embora protegesse o lado esquerdo da defesa, não era uma válvula de escape com a bola. O Botafogo marcava e devolvia a bola aos paraguaios. Não havia descanso, ainda que as finalizações do Olimpia fossem raras. Roque Santa Cruz encobriu Helton Leite e, mais tarde, já com Gatito Fernández no gol, Ortiz levou perigo.
A forma como saiu o gol paraguaio provou que o Botafogo flertava fortemente com o risco. Ganhava a maioria das disputas, mas todo o roteiro do jogo era em torno de sua área. Até Marcelo fazer um desarme, a bola rebater num rival e se oferecer a Montenegro. A onze minutos do fim, estava decretado: haveria pênaltis. Menos mal que Camilo, Pimpão e Victor Luís acertaram as cobranças, e Gatito foi perfeito com três defesas de antologia.