Não há quem discorde que o brasileiro tem uma vocação única para torcer. Se não há nenhum compatriota em ação, sem problemas: escolhe-se alguém – um atleta, um time, às vezes até um juiz – e abraça-se com todo fervor. Neste domingo, no último dia da Paralimpíada, o público que praticamente lotou a Arena Carioca 1, no Parque Olímpico, adotou o time australiano, em especial o incansável astro Ryley Batt, que enfrentou os Estados Unidos na final do rúgbi em cadeira de rodas.
Em uma final eletrizante, com direito a duas prorrogações, a Austrália conquistou o bicampeonato ao vencer por 59 a 58. Os EUA, bronze em Londres-2012, adiaram por mais uma Paralimpíada o sonho do terceiro ouro (após os títulos em Sydney-2000 e Pequim-2008). Já o Japão, que nunca tinha subido ao pódio na modalidade, derrotou o Canadá por 52 a 50 e ficou com o bronze.
Quase 16 mil pessoas assistiram ao confronto, o maior público do rúgbi em uma Paralimpíada. Certamente, muito poucos já conheciam o esporte e suas regras. Para quem só queria se despedir dos Jogos vendo “uma partida qualquer” no Parque Olímpico, Austrália e EUA ofereceram bem mais. O jogo foi emocionante do início ao fim. Em uma modalidade em que os gestos são brutos, os choques, barulhentos, e as quedas, inevitáveis, o altíssimo nível da disputa – a maioria dos atletas tem membros superiores e/ou inferiores amputados – surpreendeu os mais desavisados.
– Por alguns segundos, quando fomos para a última prorrogação, achei que não iríamos conseguir. Nosso time chegou muito forte, muito determinado, e trouxemos a trovoada para essa final. Acho que os torcedores gostaram disso – comemorou o novato Matt Lewis.
Ryley Batt, que já havia experimentado as vaias brasileiras na última quinta-feira, quando comandou a vitória da Austrália sobre o Brasil por 72 a 45, desta vez foi ovacionado. Maior nome do time e artilheiro da final, com 27 gols, o melhor jogador de rúgbi sobre rodas da atualidade ganhou a torcida com seu jogo agressivo e habilidade.
Sabendo que aquelas vaias não foram nada pessoal, ontem ele incendiou e se deixou incendiar pela torcida. Aos 27 anos e com jeito de durão, caiu em prantos quando o jogo acabou. Aplaudido de pé pelo público, o time retribuiu levando a bandeira brasileira junto à australiana para o centro da quadra.
– Naquele jogo, fiquei muito impressionado. Nunca tinha sido tão vaiado, mas até gostei de ver a paixão da torcida. Hoje, aconteceu isso… Os brasileiros são mesmo incríveis. Foi emocionante – disse o bicampeão paralímpico Bratt, prometendo mais show em Tóquio-2020.