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Adriano quer revelar sua face e sair da sombra de Clodoaldo

Paralimpíada IMPRESSO 12/09Adriano de Lima, o Batman, quer sair das sombras. O terceiro maior paratleta da natação clama pelos holofotes e pelo pioneirismo na modalidade que inspirou uma geração, fato continuamente creditado a Clodoaldo Silva.

Neste domingo, Daniel Dias, que tem Clodoaldo como ídolo, ganhou a prata nos 100m peito S4, sua 19ª medalha em paralimpíadas. Clodoaldo tem 14 ao longo da carreira.

– Eu fui um cara motivador na vida deles. Muitos falam, eu não discordo, mas também não concordo, que começaram devido ao Clodoaldo. Mas ele teve que ganhar de mim para se destacar. E antes de Clodoaldo tinha Adriano de Lima. Comecei lá em 1993. Mesmo que não citem o meu nome, eu fui um incentivador não só para os brasileiros, mas para o mundo – afirmou Adriano hoje após ficar em 8º nos 100m peito S5 (limitação físico-motora). Ele, aos 43 anos, ainda nadará os 100m livre, mas admite não ter chance de pódio:

– Nos 100m livre, fui saber da convocação cinco dias antes dos Jogos, já estava no Rio. Fica difícil…

Dono de nove medalhas em paralimpíadas e 30 em parapans, Adriano saiu da piscina com a bandeira do Brasil enrolada nas costas como se fosse uma capa. Ao assumir o personagem vigilante dos quadrinhos e do cinema, elegeu Daniel Dias como menino prodígio, e ambos continuam inseparáveis, dividiam quarto em concentrações e são amigos desde a entrada do multimedalhista na seleção de natação. No entanto, neste episódio, o Robin acaba sempre superando o Batman. Mais uma vez surge a comparação com Clodoaldo, em um papel não bem definido, mas sempre como o rival a bater.

– Sou conhecido como o Batman da natação, tem a coisa da capa… O Daniel é o Robin. A gente brinca sempre. Só que eu comecei antes dele e do Clodoaldo também. Porém, não fiquei tão famoso devido aos resultados expressivos deles. No movimento, se forem fazer um top 5, eu sou o terceiro. Posso não ser tão famoso, mas sempre fiz minha parte, que foi brigar pelo resultado e incentivar – declarou.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

Adriano não se incomoda de ser o “pau para toda a obra”. Desde muito jovem, sempre foi em busca de seus objetivos. Quinto (ou sexto, ele não lembra mais) filho de uma família com 10 irmãos, achou que era mais seguro erguer um futuro na construção civil após ser feirante. O acidente que o derrubou de um galpão de sete metros fez com que sofresse lesões na medula espinhal e o deixasse paraplégico, mas em condições de enfrentar o destino e seguir em frente nas águas das piscinas de Natal, onde deu início à reabilitação três anos após a queda.

– Lembro como se fosse hoje do dia 3 de agosto de 1990. Achei que minha vida tinha acabado ali. Tinha apenas 17 anos, mas já era casado, tinha família para alimentar e ainda ajudava na casa dos meus pais… 10 irmãos. Havia vendido pastel e laranja na feira e arrumei o emprego na obra. Já estava há dois anos quando aconteceu a queda.

Ao perder equilíbrio e ir ao chão, Adriano só seguiu em frente com a ajuda da natação. Na transição, encontrou uma vocação onde só havia lazer.

– Sempre nadava em rios e no mar de Natal. E Ganhar nove medalhas paralímpicas não é para qualquer um. Se não fosse o esporte, eu não teria ido a seis paralimpíadas. Não estaria aqui dando esta entrevista. Vejo a deficiência como algo que aconteceu, mas que me deu capacidade de mostrar ao mundo do que eu posso. E estou encerrando meus seis ciclos paralímpicos. Foi um privilégio – concluiu.

As medalhas do Brasil na Paralimpíada