Após período sabático, o técnico Abel Braga está de volta ao Brasil e ao Fluminense. Um dos três técnicos da Série A de 2017 (os outros são Paulo César Carpeggiani, do Coritiba, e Paulo Autuori, do Atlético-PR) a ter erguido o título brasileiro (em 2012, com o Flu), ele disse ter estudado no período de folga: não descarta implantar um modelo de futebol ofensivo e mostra apreço aos três zagueiros de Antonio Conte no Chelsea.
Em seu tempo fora dos campos, você estudou ou foi à praia?
Claro que eu estudei, viajei, fui à Europa, assisti a jogos. Mas eu não gosto de ficar falando do que eu faço ou deixo de fazer, porque parece arrogância. O que eu digo é que, no futebol, quem não evoluir, estará morto. Só que o livro do futebol é o campo. Tem que estudar, mas estudar assistindo aos jogos, não apenas com os livros.
Renato Gaúcho foi criticado pela declaração sobre o estudo. De qual lado você está?
Cada um tem que seguir o lado que acha mais correto.
Como você vê a discussão em torno do modelo de treinador? Acha que todos devem ser discípulos de Guardiola?
Guardiola, para mim, é o maior técnico do mundo. No Bayern de Munique, teve muita dificuldade, assim como está tendo agora no Manchester City. Enquanto isso, o Conte, com o Chelsea, montou um time com três zagueiros centrais e não perdeu mais. Porque está atento. Itália, Juventus, Chelsea. Agora, quem jogar com três zagueiros no Brasil é dado como ultrapassado. Mas Conte vai ganhando a liga mais disputada do mundo.
O jogador brasileiro já evoluiu taticamente ou está longe do conceito europeu de participação coletiva?
O jogador peca, ainda, porque os treinadores exigem pouco do jogador. Eu estou chegando ao Fluminense com muito tesão e vou cobrar muito para formarmos um sistema coletivo muito forte.
Antes de ir embora do Brasil, do Inter, você tinha planos de usar três atacantes…
Eram três atacantes e apenas um homem de marcação no meio, Willians. Eu tinha o D’Alessandro, Rafael Moura e Jorge Henrique. Os laterais subiam. Só o Willians e os zagueiros marcavam…
Pensa em tentar sistema igual no Fluminense?
Isto, eu só vou saber quanto terminar o perfil do time que queremos montar. Se tivermos um homem de área, eu posso vir com três atacantes, jogando pelos lados. Já fizemos isso. Sempre fui ofensivo. Tínhamos Wellington Nem, Fred, Rafael Sóbis, Deco e Thiago Neves.
Você gosta de começar trabalhos. Em quanto tempo terá o time à sua feição e que cara será esta?
Eu não sei em quanto tempo, mas eu posso te garantir uma coisa: o time não terá esta cara feia que terminou o Brasileiro. Foi feio, sem comprometimento, desfigurado. Isso, eu não vou aceitar.
O que você pretende?
Intensidade. Dinâmica coletiva. Bem diferente de 2016. Eu vou cobrar muito, pode ter certeza. Vamos entrar para ganhar sempre, diante de grande, pequeno, todos.
Na sua visão, com a sua experiência, por que a simples mudança de comando técnico transformou a seleção?
O Tite ganhou logo o vestiário. Por quê? Porque ele não é adepto do confronto, bem diferente de Dunga, do qual eu falo porque ele é meu amigo. O Dunga é adepto do confronto, enquanto o Tite leva o jogador na manha. São os mesmos jogadores, a mesma equipe, mas pode ver como estão todos felizes. É quase tudo igual na seleção, mas só que diferente.
Já viveu isso?
Em 2011, no Fluminense, eu cheguei para ser o treinador e estava uma bagunça, porque o Emerson Sheik havia sido mandado embora na Argentina, era um clima muito ruim pelo qual o clube passava. Se eu não ganhasse o grupo naquele momento, logo na chegada, eu estava morto, eu pensei. Mas ficou tudo em paz rapidamente e fomos campeões no ano seguinte.
O Carioca será para aprontar o time ou para vencer?
Em time grande não existe isto de preparar o time. Vamos entrar com alma. Mas, mesmo assim, vou usar muitos garotos de Xerém. Eles serão privilegiados.
Só no Carioca ou no ano?
Eu vou te dizer uma coisa, que ouvi de um amigo tricolor, que chegou para mim e disse: ?Os jogadores de Xerém estão desfilando, não estão jogando?. Então, comigo, terão que jogar, terão que ser competitivos. Não tem isso de desfile, de se mostrar. Eu vou privilegiar, mas vou cobrar. Sempre revelei: Pato, Ibson, Henrique, Radamés… Até perdi a conta de tantos que revelei. Xerém, poderá ser responsável por até 60% do elenco.
E o restante?
O Fluminense não pode sair da linha que começou a seguir bem, de pagar salários em dia, porque não quero ninguém insatisfeito. Estamos trabalhando com três nomes para reforçar o time.
Você sempre foi crítico da estrutura do Carioca. Entende que melhorou ou piorou?
Melhorou, porque a fórmula de disputa é melhor. E, se não teremos o Maracanã no início, os clássicos poderão ser no Engenhão. E cada time tem estádio, com o Fluminense em Édson Passos, o Flamengo na Ilha, Vasco em São Januário e o Botafogo no Engenhão. E quando saímos para jogar, encontramos campos legais, como em Macaé, por exemplo.