Cotidiano

?Suíça era um país confiável? para receber propina em 1999, diz Cerveró

BRASÍLIA ? Os depoimentos que integram o acordo de delação premiada do ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró são marcados em muitos momentos pela informalidade. Em apenas um deles, prestado em 9 de dezembro do ano passado, houve palavrões, ironias e até bate-papo sobre futebol com seus interrogadores. Ao todo, Cerveró prestou mais de 30 depoimentos em novembro e dezembro.

O ex-diretor da Petrobras recorreu à ironia para comentar a mudança de postura das autoridades suíças, que vêm colaborando com outros governos para evitar que dinheiro de corrupção fique depositado no país. No depoimento prestado em 9 de dezembro do ano passado, Cerveró contou que abriu uma conta num banco suíço em 1999 para receber propina, quando os tempos eram outros.

? Foi em torno de US$ 600, 700 mil (de propina). Repare que eu era gerente, não era diretor ? disse Cerveró, concluindo: ? Foi mais ou menos nessa época que eu abri (conta na Suíça) para poder receber o dinheiro direto. Nessa época a Suíça era um país confiável.

Cerveró relatou até mesmo que, uma vez diretor, delegava o recebimento de propina a subordinados.

? Eu sempre trabalhei em equipe, ao contrário do meu pai, que era um centralizador. Eu não sei por que eu não sei trabalhar sozinho. Esses questões, até de detalhe de propina, essas coisas eu delego. Tem gente que não abre mão de negociar. Eu delego. Eu só trabalho com gente que eu confio e em quem confio na capacidade técnica ? afirmou Cerveró.

As negociações de Cerveró para fazer uma delação levaram à prisão do ex-senador Delcídio Amaral. Uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, mostrou Delcídio tentando comprar o silêncio do pai dele. O ex-senador foi preso em 25 de novembro do ano passado e, depois, viria também a firmar um acordo de delação premiada. No depoimento que prestou em 9 de dezembro, Cerveró já antevia esse caminho.

? Vocês viram que o advogado do Delcídio é o Figueiredo? ? questionou Cerveró, numa referência a Antônio Figueiredo Basto.

? O senhor está bem informado. As informações estão passando rápido ? respondeu um dos interrogadores.

? Figueiredo é especializado em colaborações. Agora colaboração do Delcídio… ? devolveu Cerveró, sem concluir a frase, apenas sorrindo.

No depoimento, há espaço até mesmo para falar de futebol.

? O técnico do Flamengo vai ser Muricy (Ramalho) ? disse Cerveró.

? Vai ser o Muricy o técnico do Flamengo? ? questionou um dos interrogadores, surpreso.

? Fechou. Tava no jornal ontem. Vai virar uma máquina ? respondeu Cerveró, sorrindo.