CASCAVEL

Mortes no trânsito: ‘Desrespeito’ e imprudência são as maiores causas

Cruzamento da Rua Paraná com Avenida Piquiri é palco de vários acidente e, infelizmente, a primeira vítima fatal foi uma criança

Cruzamento da Rua Paraná com Avenida Piquiri é palco de vários acidente e, infelizmente, a primeira vítima fatal foi uma criança. Foto: Paulo Eduardo/O Paraná
Cruzamento da Rua Paraná com Avenida Piquiri é palco de vários acidente e, infelizmente, a primeira vítima fatal foi uma criança. Foto: Paulo Eduardo/O Paraná

A morte de uma criança de apenas 9 anos que estava na calçada com a mãe e um amigo esperando para atravessar a via na última sexta-feira (14), inflamou os ânimos da presidente da Transitar, autarquia de trânsito de Cascavel, Simoni Soares, que em coletiva à imprensa, ontem (17), fez uma pergunta bastante clara a toda sociedade da cidade: “Até quando vamos minimizar a responsabilidade do condutor neste tipo de situação?”

O óbito do pequeno Fernando Lorenzo Gehlen ocorreu próximo das 19h, enquanto ele aguardava para atravessar a via, na presença da mãe e de um amigo, quando o carro furou a preferencial do cruzamento da Rua Paraná esquina com a Avenida Piquiri, e após colidir com uma motocicleta, acabou subindo na calçada, atropelando os pedestres. O menino acabou sendo mais atingido e, com as gravidades dos ferimentos, acabou morrendo ainda no local. A mãe e o amigo tiveram apenas ferimentos leves.

A motorista do carro fez o teste do bafômetro que apontou que ela não havia ingerido bebida alcoólica. Após a colisão e o atropelamento, ela se escondeu em uma loja alegando medo de ser linchada. Agora, o caso está sendo tratado pela Polícia Civil que recebeu relatos de que ela estaria utilizando o aparelho celular no momento do acidente, o que está sendo investigado. Depois disso, ela foi encaminhada para a Delegacia Cidadã para prestar depoimento.

A delegada de Polícia Civil, Thais Zanatta, que atendeu o caso, disse que ela pode ser indiciada pelos crimes de lesão corporal culposa e homicídio culposo, onde não há intenção direta no cometimento do crime. A pena máxima é de 6 anos de prisão, sendo que o veículo e o aparelho celular dela foram apreendidos e vão passar por perícias para tentar o esclarecer as circunstâncias do acidente.

O cruzamento teve a sinalização invertida em abril do ano passado e, mesmo com toda a sinalização – faixa de pedestre, sinalização vertical e horizontal – o cruzamento é palco de muitos acidentes, segundo relatam os próprios comerciantes.

Ação efetiva

De acordo com o Corpo de Bombeiros de Cascavel, em um pouco mais de 5 meses, foram registrados 22 atropelamentos de pessoas de até 14 anos, em todo perímetro urbano.

Segundo Simoni Soares, o cruzamento será incluído como “área de periculosidade” efetiva e de engenharia, mas deixou claro que não tem problema de sinalização no local e que a dificuldade maior “é o desrespeito dos condutores”. Mesmo assim, a presidente disse que um estudo mais aprofundado vai apontar uma possível ação para redução na velocidade da via e a instalação de um equipamento de videomonitoramento para coibir os excessos que ocorrem no local.

Com este sistema, os condutores que passarem utilizando o celular, avançarem a preferencial ou não estiverem utilizando o cinto de segurança serão flagrados e multados. “Ali fizemos a alteração há mais de um ano, ou seja, não é problema nem de adaptação e nem de visibilidade; o que ocorreu foi o avanço da parada obrigatória”, reforçou.

Durante a coletiva, Soares disse ainda que quando ocorre este tipo de acidente a “sociedade”, pela própria comoção da situação, acaba atribuindo o problema ao Poder Público. “Vamos colocar uma lombada em cada quadra? Ou um agente para cuidar das pessoas no celular? Temos que falar de quem é a responsabilidade, sendo que a CNH é nacional. Os condutores precisam conhecer e respeitar as placas e largar o celular enquanto dirigem”, asseverou.

20 mortes

A presidente disse que somente neste ano ocorreram 12 mortes dentro da cidade e 3 deles em cruzamento com semáforos e outros seis em locais com parada obrigatória. “As pessoas não respeitam a sinalização e não respeitam a placa e este trágico acidente é um exemplo disso. Se colocamos um radar a Transitar quer arrecadar, como se a responsabilidade fosse da autarquia e não quem estava correndo. Por isso, neste tipo de situação que comove a todos temos que pedir que as pessoas tenham responsabilidade no trânsito”, desabafou.

Segundo dados do Cotrans (Comitê Intersetorial de Prevenção e Controle de Acidente de Trânsito), em 2024 já são 20 mortes registradas ao todo na cidade e na rodovia. No ano passado, no mesmo período, tinha sido 23. Na tarde de ontem (17), mais um acidente tirou a vida de um ciclista na BR-277, em trecho que corta o perímetro urbano. Ele foi atingido por um caminhão furgão quando tentava atravessar a rodovia.