Comportamentos de risco e maus hábitos têm integrado cada vez mais as rotinas dos jovens, principalmente adolescentes, e esses fatores têm aumentado consideravelmente a probabilidade de desenvolvimento de doenças crônicas. É o que indica um estudo recente realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, em conjunto com a Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp.
O estudo foi realizado por cientistas de ambas as universidades, com 120 mil adolescentes, com faixa etária entre 13 e 17 anos, e o resultado é bastante preocupante. 80% deles apresentam ao menos dois fatores importantes para doenças crônicas não transmissíveis, cuja sigla é DCNT. Entre as mais conhecidas DCNT, estão os problemas cardiovasculares, como alterações na pressão arterial, diabete e até mesmo câncer.
Adolescentes e jovens adultos possuem os mesmos fatores em comum
Um estudo prévio, realizado na Faculdade de Medicina da UFMG e publicado na renomada revista científica Preventing Chronic Disease, já apontava para esse cenário, embora englobasse um público-alvo de 18 a 34 anos. Contudo, os resultados são muito parecidos. O consumo demasiado de açúcar, a alimentação pobre em nutrientes e o sedentarismo são pontos comuns no observável em ambos os estudos.
Doenças crônicas afetam a economia e a sociedade na totalidade
Trata-se, portanto, de um grave problema de saúde pública. As DCNT são responsáveis por mortes prematuras e sofrimento. Para a sociedade na totalidade, são também um problema econômico: elas demandam mais recursos dos sistemas públicos de saúde, já bastante precarizados. Além disso, impactam grandemente a força de trabalho, pois são, em sua maioria, doenças incapacitantes.
Conhecendo os principais hábitos de risco
O principal fator de risco levantado pelos estudos é a falta de atividade física. Quase 75% dos entrevistados afirmam não praticar exercícios: o recomendado é cerca de 150 minutos por semana. Mais da metade não consome alimentos naturais, como frutas e verduras, em quantidade e frequência adequadas – ao menos cinco dias na semana.
Há ainda o consumo frequente e demasiado de doces e refrigerantes. Nos grupos etários mais velhos, está, em um grau um pouco menor, o consumo de álcool e também o tabagismo. Estes juntos formam o grupo mais perigoso para a formação das DCNT, principalmente se ocorrem ao mesmo tempo. Hoje, mais de 60 milhões de brasileiros possuem ao menos uma DCNT, sendo elas a causa de cerca de 70% dos óbitos no país.
Os impactos são sentidos em médio e longo prazo
A ocorrência cada vez mais cedo de doenças crônicas não transmissíveis leva a uma população adulta muito doente. Logo, a mudança de hábitos deve começar quanto antes. A troca da brincadeira por jogos e distrações eletrônicas e das refeições saudáveis por alimentos prontos e ultraprocessados são alguns desses hábitos que vêm prejudicando os mais jovens, com a anuência dos pais.
Obviamente, a rotina apressada dos pais também os prejudica, uma vez que certamente gostariam de oferecer o melhor para seus filhos. De qualquer forma, o acúmulo dessas doenças nos primeiros anos da vida adulta, principalmente em idade laboral, leva a uma perda de produtividade. Afinal, algumas DCNT são doenças que aposentam, como artrite, asma e doenças cardíacas.
A mudança deste cenário é algo que compete a todos. Do poder público aos pais, passando pelas escolas, um estilo de vida mais regrado e saudável deve ser incentivado. Para Alanna Gomes da Silva, pesquisadora da Escola de Enfermagem da UFMG, “compreender e abordar os comportamentos de risco durante a adolescência são pontos cruciais para melhorar os resultados de saúde a longo prazo e reduzir a carga de doenças na idade adulta”.
Fonte: iStock/ Pocketlight