Cotidiano

Conselho Curador da EBC apoia retorno do uso de ?presidenta?

BRASÍLIA – Símbolo da disputa de poder em torno da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o uso de “presidenta” para se referir a Dilma Rousseff voltou, oficialmente, aos canais da emissora. Em memorando, o Conselho Curador da estatal apoiou o retorno da flexão de gênero, que já havia sido determinado informalmente por Ricardo Melo desde que ele reassumiu a EBC, há pouco mais de uma semana, por decisão liminar do Supremo Tribunal Federal. O antecessor, Laerte Rimoli, alçado ao cargo pelo presidente interino Michel Temer, aboliu a expressão.

Mais que uma discussão sobre regras de português, o banimento do termo foi uma das muitas mudanças determinadas por Rimoli, em cerca de 20 dias dias à frente da EBC, com forte simbolismo político. Ele extinguiu a palavra ?presidenta? dos canais da emissora sob o argumento de buscar uma padronização com os demais veículos de comunicação, fez demissões de quadros supostamente ligados ao PT e cancelou contratos com entidades simpatizantes da sigla, como sindicatos filiados à CUT.

Na última sexta-feira, Rimoli teve que deixar a cadeira para que Ricardo Melo reassumisse. Mas, como a recondução do jornalista à estatal precisa ser confirmada pelo plenário do Supremo, e com o processo de impeachment ainda em curso, nada é definitivo na empresa. Melo voltou à EBC prometendo rever todos os atos do antecessor, mas não informou, até agora, se anulou alguma deliberação de Rimoli, exceto a extinção do ?presidenta?.

No ofício remetido à diretoria, o Conselho Curador da EBC, formado por trabalhadores e integrantes da sociedade civil, argumenta que, além de o termo presidenta ser gramaticalmente correto, o Manual de Jornalismo da estatal estabelece o respeito à forma como os entrevistados se autodeclaram, nos conteúdos de imagem, som e texto. Como Dilma Rousseff se apresentava com a flexão de gênero na palavra que designa o cargo ocupado, o colegiado defende que a EBC a chame de presidenta.

A recomendação pelo uso da flexão de gênero já havia sido feita por Rita Freire, presidente do Conselho Curador. O memorando assinado nesta terça-feira oficializou a posição do colegiado junto à diretoria da EBC. A chegada de Rimoli não foi bem aceita pelo conselho, que critica a troca de presidente da estatal antes do mandato terminar como uma ingerência política. O governo Temer argumenta que o cargo é de livre nomeação e que Melo foi indicado na véspera da votação do impeachment, o que caracterizaria um desvio de finalidade de Dilma ao colocá-lo na EBC.