Sediar uma Olimpíada pode trazer consequências bem variadas para a performance esportiva de uma nação. Após receber os Jogos de Atenas, a Grécia, que anteriormente estava em 17º lugar, caiu para a 59ª posição na edição seguinte, em Pequim. Já a Grã-Bretanha, que amargou um 10º lugar em Atenas, chegou ao 3º lugar ao sediar os Jogos de Londres, em 2012 ? já no Rio, ficou em 2º lugar, atrás apenas dos Estados Unidos. Qual trajetória o Brasil seguirá a partir de agora: a grega ou a inglesa?
O ?Seminário Brasil Esportes?, realizado no último dia 04, no Museu do Amanhã, discutiu o legado Olímpico e contou com a presença do Ministro dos Esportes, Leonardo Picciani, atletas e representantes do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Um mês depois de terminados os Jogos Rio 2016, com o Brasil na 13ª posição no quadro de medalhas (a melhor performance do país na história olímpica), a cidade parece ter retomado sua rotina. A tocha já foi apagada, os turistas voltaram para as suas casas e as férias escolares terminaram. Porém, muito do que foi feito para os Jogos Rio 2016 fica no Brasil.
Durante o seminário, Leonardo Picciani explicou que o maior desafio agora é integrar e tirar o melhor proveito da malha de equipamentos esportivos criados para o evento. Isso inclui estádios, arenas e centros de treinamento, localizados em todas as regiões do Brasil.
? Em Lauro de Freitas (BA), criamos o Centro Pan-Americano de Judô; em Brasília, o Centro de Excelência em Saltos Ornamentais. Também há o Centro de Hipismo, em Barretos (SP), e o Centro de Treinamento de Canoagem de Velocidade, em Foz do Iguaçu. Esses são apenas alguns exemplos de estruturas criadas não só para os atletas de hoje, mas para os que estão em formação. Essa rede precisa funcionar de forma integrada ? explica o Ministro.
No Rio, os destaques são os Parques Olímpicos da Barra da Tijuca (administrado pela Prefeitura) e de Deodoro (sob o comando das Forças Armadas). Na Barra, o projeto prevê o reaproveitamento de duas arenas, que vão se transformar em dois centros de treinamento de natação, montados em comunidades de baixa renda na Zona Oeste do Rio. A Arena do Futuro será usada para construir quatro escolas públicas, cada uma com capacidade para 500 alunos. A estimativa é que o projeto leve até dois anos para ser concluído.
Outras instalações, porém, devem estar disponíveis em breve ? como o Velódromo, do Centro de Tênis e da Arena Carioca 1. Picciani acredita que o aproveitamento das estruturas é fundamental para que o Rio se torne uma referência no esporte mundial.
? Temos 17 eventos esportivos programados para o Rio até o fim de 2016. São provas indoor e outdoor, com algumas modalidades olímpicas. Não podemos falar de legado se não tivermos um calendário esportivo intenso, com competições nacionais e internacionais. Esse é um ponto fundamental para que a cidade se transforme, um dia, na capital do esporte mundial.
Desburocratização da Lei de Incentivo ao Esporte
Dividido em dois painéis, o Seminário Brasil Esportes discutiu as conquistas para as futuras gerações de atletas brasileiros e o legado dos Jogos para o país. Entre os convidados estava o ex-velejador Torben Grael, hoje coordenador técnico da Confederação Brasileira de Vela. Ele elogiou a Bolsa Atleta Pódio, que apoia atletas com chance de disputar finais e medalhas olímpicas. Além disso, Grael defendeu a isenção de impostos na importação de equipamentos esportivos, fundamentais para o desenvolvimento de uma série de modalidades. Grael também sugeriu a desburocratização da Lei de incentivo ao esporte, que possibilita que empresas e indivíduos façam doações para projetos esportivos em troca de incentivos fiscais.
? Boas políticas devem ser incentivadas. O esporte traz valores agregados muito importantes, como a disciplina e o convívio.
O legado da Paralimpíada
Edilson Alves da Rocha, diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro, enfatizou o legado intangível de receber a Paralimpíada. Para ele, os mais de 2 milhões de ingressos vendidos e o recorde de público no Parque Olímpico da Barra (que recebeu 167 mil pessoas no dia 10 de setembro) mostraram que a população abraçou o evento. O resultado desse envolvimento é a mudança na percepção em relação ao atleta e a deficiência em si.
? Vimos crianças sem deficiência jogando vôlei sentado e cobrindo os olhos para jogar futebol de cinco, por exemplo. Elas enxergaram o talento do atleta acima de sua deficiência, e curtiram o evento do início ao fim. Isso segue como aprendizado para que uma nova geração valorize o esporte paralímpico ? explica.
Medalhistas criam ONGs para revelar os esportistas de amanhã
Depois de ganhar um ouro inédito no boxe brasileiro, Robson Conceição decidiu criar um projeto social em sua terra natal, Salvador, inspirado no ex-judoca Flávio Canto ? o ex-atleta dos tatames é referência no trabalho social esportivo. Ele fundou o Instituto Reação, que ensina judô em cinco polos próximos a comunidades do Rio e ajudou a revelar Rafaela Silva, medalha de ouro na Rio 2016.
O Projeto Grael, tocado pelo ex-velejador Torben e sua família, desenvolve um método educacional baseado na cultura dos esportes náuticos, programa profissionalizante e programa ambiental. Ele já existe há 18 anos.
Mas o desafio é grande. Um exemplo é o Instituto Robson Caetano, criado pelo ex-velocista em dez comunidades de baixa renda no Rio, passa por dificuldades. O projeto, que chegou a contemplar 900 crianças, hoje corre o risco de fechar as portas. A esperança está em um site de financiamento participativo, em que Robson busca contribuições para atender, ao menos, 80 jovens.