BRASÍLIA ? Quando chegou para o primeiro de cinco mandatos de deputado federal em Brasília, aos 28 anos, Rodrigo Maia era um garoto que tinha um problema a resolver na construção de sua carreira política: separar sua trajetória e deixar de ser uma sombra do pai, o ex-prefeito e hoje vereador César Maia. Articulador de bastidor, foi reeleito sucessivamente, foi líder, presidiu e modernizou o Democratas. E não surpreendeu aos caciques da base e da oposição ao encerrar o mandato tampão e em seis meses conquistar a reeleição para mais dois anos de mandato como presidente da Câmara. De filho de político famoso, hoje é o principal nome do Democratas, aliado de primeira hora do Planalto, elevando o partido a um novo patamar no cenário nacional.
Cauteloso, mesmo com o apoio do blocão e com a reeleição praticamente garantida, circulando pelo plenário durante a votação, evitou cantar vitória:
? Só falo do futuro quando ele acontecer.
Na comparação com o antecessor Eduardo Cunha, afastado e preso na Operação Lava-jato, parlamentares de todos os partidos concordam: Rodrigo Maia não é o rei da simpatia, mas pacificou o plenário ? embora às vezes impaciente com a guerra no microfone ? e conseguiu implementar uma pauta que contemplou as reformas fundamentais para o governo, e também pautas polêmicas, de interesse dos políticos, como a anistia ao caixa dois. Pelo desempenho no mandato tampão, dizem, conquistou crédito de confiança para mais dois anos.
? Conheci o Rodrigo garoto e naquela época era difícil imaginar que chegaria onde chegou. Mas foi conquistando espaços. Seu processo de crescimento é parecido com o do Luis Eduardo Magalhães, que era filho de ACM e precisava construir seu próprio nome. Em seis meses de gestão promoveu o reencontro da Casa com a felicidade. Conseguiu implementar uma pauta difícil de votações e hoje temos paz ? diz o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), contemporâneo de Maia desde sua chegada á Casa.
? Nesses seis meses o Rodrigo desanuviou o ambiente do plenário. No final da gestão Cunha, era sempre uma relação muito tensa apesar do ritmo intenso de votações ? diz o deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
No dia 14 de julho último, quando venceu o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) para o mandato tampão, Maia chorou e prometeu governar com simplicidade. Segundo aliados, mais que simplicidade, agiu com firmeza para assumir o debate de temas polêmicos e impopulares. Na madrugada de 24 de novembro de 2016, no encerramento da sessão legislativa, Rodrigo colocou em pauta a emenda para anistiar parlamentares acusados de corrupção com doações de campanha. A matéria está no Senado.
? O Rodrigo enfrentou temas difíceis com coragem, para cumprir compromissos assumidos. Votou o projeto de abuso de autoridade, anistia para caixa dois e a PEC do Teto ? diz o deputado Danilo Forte (PSB-CE).
Durão e pouco afeito a brincadeiras, tem se mostrado sisudo, o que leva alguns deputados a brincar que, se fosse por simpatia, Rodrigo Maia ficaria em último lugar na eleição . Hoje, entretanto, horas antes da votação, ele circulou no plenário por todas as bancadas, inclusive do PT e PSOL, que lançou a deputada Luiza Erundina ( PSOL-SP) para disputar o cargo de presidente da Câmara. O deputado Vicentinho (PT-SP), apesar de ter votado em André Figueiredo (PDT), era só elogios à gestão do democrata no mandato tampão.
? Simpatia não me cabe medir. Me cabe medir a postura. O Rodrigo teve, no geral, uma postura equilibrada e não dá nem para comparar com Eduardo Cunha. Apesar de alguns rompantes, foi bem e espero que no próximo mandato não impeça a entrada do povo na Casa ? diz Vicentinho.
Com apenas 46 anos, mas com uma consistente trajetória política, Maia liderou a oposição durante o escândalo do mensalão, em 2006. Em 2007, foi alçado a presidência do então PFL para suceder o presidente do partido na ocasião, Jorge Bornhausen, com a missão de rejuvenescer o partido, tirar a imagem de legenda conservadora com base no Nordeste, e ganhar o eleitor da Zona Sul carioca. Como presidente do partido, Rodrigo Maia foi um dos principais articuladores da refundação do PFL, em 2007, que se tornou DEM.
O objetivo era dar uma imagem mais moderna à sigla, com uma atuação mais de centro. Em 2009, com Maia ainda na presidência, o DEM entrou com ação no Supremo Tribunal Federal contra a reserva de vagas, em vestibulares, para negros e pardos, mas a cota racial foi considerada constitucional.
O diálogo com diferentes partidos, inclusive o PT, para viabilizar sua candidatura à presidência da Câmara no mandato tampão, foi mudança de postura do parlamentar, considerado tímido pelos mais próximos e arrogante pelos que não partilham de seu círculo mais íntimo. Maia fez oposição ferrenha aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e não tinha trânsito na Câmara nas gestões petistas.
? O Rodrigo Maia vem há tempos construindo essa situação de presidente da Câmara. Se preparou. Foi líder e presidente do partido. Construiu amizades e se preparou tecnicamente para esse momento. Agora seu compromisso é com as reformas para reconstruir o Brasil, votando uma agenda para o País ? diz o líder do Democratas na Câmara, Pauderney Avelino (AM).
CHILENO COM CIDADANIA BRASILEIRA
Chileno de nascimento ? nasceu quando o pai, César Maia, estava exilado no Chile ? Rodrigo Maia foi registrado no Consulado e tem cidadania brasileira. Começou muito cedo na política. Antes de se eleger deputado, aos 26 anos, foi secretário de governo do prefeito do Rio, Luís Paulo Conde. Teve uma gestão bem avaliada com a criação da Secretaria Especial do Trabalho e o Projeto Cidadania, que atendia população de baixa renda. Dois anos depois foi eleito para o primeiro mandato de deputado federal e foi reeleito até hoje.
A maior derrota política de Rodrigo Maia aconteceu na eleição municipal de 2012, quando os Maia se juntaram aos Garotinho para formar a chapa ?Um Rio melhor para os cariocas?. O filho de César Maia saiu como candidato a prefeito e a filha de Antony e Rosinha Garotinho, Clarissa, como vice-prefeita. Foi um fiasco. A chapa foi fragorosamente derrotada e obteve apenas 3% dos votos. Eduardo Paes, do PMDB se reelegeu fácil.
Numa festa no apartamento do então senador Demóstenes Torres (DEM-GO), em 2007, no governo Lula, Rodrigo Maia se envolveu num bate-boca com os então ministros Nelson Jobim e Walfrido dos Mares Guia, e acabou chamado de ?guri de merda? e de ?professor de Deus?. Irritado com as investidas do Planalto para que a senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) votasse a favor da prorrogação da CPMF, Maia foi tirar satisfação com os ministros em plena festa.
Maia é casado com Patrícia Vasconcelos, enteada do ministro Moreira Franco. A cerimônia, em 2005, na Igreja de São Francisco de Paula, no Centro do Rio, foi marcada por protesto de estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ), que exibiam cartazes com a frase ?Não procriem?. Eles reclamavam da retirada de mendigos e camelôs da praça em frente à igreja, pela Guarda Municipal, especialmente para o casamento. O casal tem quatro filhos.
Maia foi cotado para ser líder do governo Temer na Câmara, mas acabou preterido por André Moura (PSC-SE), que teve o apoio do então presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dos partidos do centrão. Nos últimos dias se aproximou do presidente interino Waldir Maranhão (PP-MA) e para ganhar o voto da esquerda, articulou o engavetamento da CPI da UNE. Ligado ao setor financeiro, e tido como um político que atende aos interesses do mercado, Maia foi funcionário dos bancos BMG e Icatu, antes de entrar para a política.
LAVA-JATO
Como a maioria dos caciques políticos no Congresso, o presidente da Câmara não escapou de citações nas delações da Operação Lava-jato. O ex-diretor da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, disse, em sua delação, que em 2013 Maia teria recebido R$100 mil para ajudar na tramitação da Medida Provisória 613, que dá incentivos tributários para o setor petroquímico, beneficiando empresas do grupo. Essa é a mesma MP que Melo acusa o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) de ter recebido propina para ajudar a aprovar. Os dois negam.
Na lista de beneficiários feita por Cláudio Melo, Rodrigo Maia recebeu o apelido de ?Botafogo?, pro causa do seu time do coração.
?Durante a fase final da aprovação da MP 613, o deputado, a quem eu pedi apoio para acompanhar a tramitação, aproveitou a oportunidade e alegou que ainda havia pendências da campanha de prefeito do Rio de Janeiro em 2012. Solicitou-me uma contribuição e decidi contribuir com o valor aproximado de R$ 100 mil, que foi pago no início do mês de outubro de 2013?, o ex-diretor da Odebrecht.
Segundo o ex-executivo da Odebrecht, Rodrigo Maia funcionava como um interlocutor na defesa dos interesses da empresa dentro da Câmara. Segundo a delação, o deputado já tinha recebido um pagamento em 2010.
?Sei que o pagamento, no valor de R$ 500 mil, foi atendido?, disse.
Rodrigo Maia afirmou que todas as doações recebidas foram legais e declaradas ao TSE e disse que nunca recebeu vantagem indevida para voltar qualquer matéria na Casa.