Assim como existe um modo leviano de separar-se, existe também um modo leviano de tratar a relação com os ex-parceiros. Uma primeira questão diz respeito às relações íntimas que um parceiro teve na sua relação anterior. Esse é o caso, por exemplo, quando, em um segundo relacionamento, uma das partes pergunta à outra: “como era sua vida íntima com seu marido ou com sua esposa?”. As consequências desse comportamento são fatais. Algo se destrói, diz Hellinger, porque com isso se comete uma traição em relação ao parceiro anterior e se entorpece a relação com o novo parceiro. Por isso, afirma Hellinger, “entre os cônjuges tudo aquilo que se refere à relação íntima com um parceiro anterior deve ser guardado como um segredo; disso não se deve falar. Assim o exige o respeito ao outro parceiro e o respeito a si mesmo” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p. 209).
A esta forma de violação da intimidade com respeito à relação anterior pode ser acrescentado outro comportamento reprovável: a atitude de um dos cônjuges que procura o cônjuge do relacionamento anterior de seu parceiro. Assim, por exemplo, a esposa de um segundo casamento do marido procura a primeira esposa dele para colher informações sobre ele. Quer saber, por exemplo, como ele se comportou em relação a ela, o que levou à separação, como lidava com os filhos, etc. Esse comportamento é uma violação grave porque, diz Hellinger, “tudo aquilo que se refere à relação íntima com um parceiro anterior deve ser guardado como um segredo”; é, no final das contas, uma questão de respeito ao parceiro anterior, mas também a si mesmo.
Outro ponto em relação ao qual frequentemente são cometidas violações se refere ao modo como se lida com os ex-parceiros em um segundo relacionamento. A esse respeito Hellinger é taxativo: “Um segundo relacionamento só pode ser bem-sucedido quando o vínculo com os ex-parceiros for reconhecido e valorizado, e se os novos parceiros souberem que permanecem subordinados aos primeiros e estão em dívida com eles” (Hellinger, B. Mein Leben. Mein Werk, 2018 – tradução nossa). Assim, por exemplo, uma mulher que toma um segundo marido deve tomar em sua totalidade o que o primeiro marido deu a ela. Unicamente desse modo pode levar o bom do primeiro vínculo junto com ela para a segunda parceria. Obviamente, o mesmo se aplica ao marido em um segundo relacionamento.
O modo adequado de reconhecer o débito em relação ao parceiro anterior do marido ou da esposa e de honrá-los é o segundo marido dizer interiormente ao primeiro marido da esposa: “Eu tenho minha esposa à sua custa e respeito isso. Você é o primeiro e eu sou o segundo. Agora a tomo como minha esposa”. Igualmente, a segunda esposa deve dizer interiormente à primeira esposa do marido: “Eu tenho meu marido à sua custa e respeito isso. Você é a primeira e eu sou a segunda. Agora o tomo como meu marido”. Se houver filhos no segundo casamento, pode-se pedir interiormente aos ex-parceiros que olhem amavelmente para os filhos.
Assim como a separação leviana pode acarretar a expiação pelos filhos, não honrar os parceiros anteriores pode ter consequências semelhantes. Muitas vezes eles representam o parceiro anterior não honrado. Inconscientemente, assumem seus sentimentos e podem se tornar bastante rebeldes se, por exemplo, o ex-parceiro ainda carrega rancor.
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.