Opinião

Coluna Amparar: Casamos com o cônjuge ou com sua família?

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Quem já acompanhou uma cerimônia de casamento em igreja lembrará da frase extraída dos Evangelhos: “O homem deixará pai e mãe e se unirá à sua esposa e serão os dois uma só carne”. Vamos pensar aqui um pouco sobre esta frase desde a perspectiva sistêmica, deixando de lado o seu sentido religioso.

Quando o casal se decide casar toma a decisão de “deixar para trás pai e mãe”. É uma renúncia à tendência de assumir a família de origem como modelo para a nova família. O casal decide formar algo novo em base ao compartilhamento de dois sistemas independentes. Para que a relação tenha êxito é necessário que tanto o homem quanto a mulher abandone (“deixe para trás”) sua família de origem. Isso implica em que a deixe não apenas fisicamente no sentido de abandonar a casa dos pais, mas, sobretudo, a deixe interiormente. É preciso renunciar a alguns princípios e valores que na família de origem são importantes, mas que podem não fazer parte da nova família. Em compensação, estabelece novos princípios e valores de comum acordo do casal.

As dificuldades para construir um novo sistema não são poucas. Com efeito, cada um de nós nasce dentro de um sistema familiar que molda o nosso modo de ver o mundo. Somos movidos naturalmente a fazer seja o que for para assegurar nosso pertencimento à família dentro da qual nascemos. Os valores que dela recebemos são heranças que atravessam gerações. Reside nisso sua força sobre nosso comportamento.

Em geral assumimos inconscientemente como verdades absolutas esses valores, crenças e princípios herdados da família. A crise nos casamentos, em grande parte das vezes, está relacionada ao fato de o cônjuge sentir a dor de sentir-se excluído de sua família de origem e, consequentemente, se afasta ou se torna agressivo “aparentemente sem motivos”. Na verdade, está defendendo um “território”: a história e valores da sua família de origem.

O que é importante que o casal compreenda quando se decide por um casamento? Precisa ter presente que, com isso, o sistema de cada parceiro é trazido junto para a nova família. O novo núcleo familiar que o casal decidiu formar é a junção dos dois núcleos anteriores. A situação mais comum, porém, é cada membro do casal considerar a sua família como a melhor e, consequentemente, procurar impô-la como padrão. Ao agir assim, a pessoa obedece inconscientemente ao seu impulso de pertencimento sem saber que, com isso, coloca a relação em risco.

É importante que o casal considere o casamento não apenas como a união com uma pessoa singular, mas a união com o sistema inteiro do cônjuge. Quando a pessoa casa, de certa forma casa com a família de seu cônjuge. Isso significa que no novo sistema familiar não apenas é preciso chegar a um acordo sobre as diferenças de religião, quando o casal tem religiões distintas, de etnia e tradição cultural, mas também acolher e integrar o sistema do outro. Acolher e integrar significa honrar, respeitar, valorizar, mas não reproduzir! Essa atitude implica em considerar os dois sistemas como iguais em seu valor. Implica em respeitar e amar a família do cônjuge como se fosse o próprio cônjuge!

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp: https://bit.ly/2FzW58R