Opinião

Coluna AMC: A tulipa do Dr. Parkinson

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A Doença de Parkinson é assim chamada para homenagear o médico inglês James Parkinson, que viveu entre 1755 e 1824. Ele descreveu a “paralisia agitante” em 1817, ao apresentar o trabalho ‘Ensaio sobre a Paralisia’. O nome foi sugerido pelo francês Jean-Martin Charcot, um dos professores do neurologista e criador da psicanálise, Sigmund Freud. Parkinson, na fiel tradição enciclopedista dos médicos antigos, foi também sociólogo, botânico, geólogo, paleontólogo e ativista político (criticava o governo da época). A moléstia, erroneamente chamada no Brasil de “Mal de Parkinson”, naquela ocasião foi apresentada como um conjunto de sintomas: lentidão, rigidez e tremor. Através da observação de pacientes seus e de pessoas na rua, ele publicou uma anotação sobre seis pacientes que apresentavam uma doença lentamente progressiva caracterizada por movimentos involuntários (tremores), que apareciam principalmente quando as partes envolvidas do corpo não estavam em ação, tendência a força muscular diminuída, propensão para inclinar o tronco para frente e passar de um caminhar lento para uma marcha involuntariamente acelerada.

James Parkinson foi aprovado pela Corporação de Londres como um cirurgião. Além de sua prática médica, possuía um ávido interesse em geologia e paleontologia. Entre 1799 e 1807 publicou uma série de trabalhos médicos, incluindo um trabalho magistral sobre a gota. Ele também foi responsável pelos primeiros escritos sobre o tema da peritonite na literatura. Em 1812, James Parkinson assistiu seu filho médico no primeiro caso descrito de apendicite, sendo o primeiro momento em que a perfuração foi mostrada como causa da morte. Interessou-se também em melhorar a saúde geral e o bem-estar da população. Foi um grande lutador em favor dos que não tinham privilégios, num período logo após a Revolução Francesa, em favor da igualdade de direitos. Defendeu os portadores de doenças mentais e julgava necessário que o governo apoiasse os médicos e seus familiares, de forma especial, para que eles pudessem dar uma boa assistência aos pacientes. Podemos dizer, então, que o Dr. Parkinson foi um socialista (ao contrário do Dr. Alzheimer, que foi patrocinado por sua rica esposa).

O Dr. Jean-Martin Charcot, considerado o pai da neurologia moderna, deu continuidade ao trabalho do Dr. Parkinson, descreveu o espectro clinico da doença, observando a presença de demência em alguns casos. Foi o pioneiro em propor o tratamento da doença com uso de hiosciamina (um anticolinérgico), derivada da beladona. Curiosamente, desde abril de 2015, a tulipa vermelha é o símbolo utilizado por diversas associações e organizações pelo mundo todo para representar a Doença de Parkinson.

Em 1981, na Holanda, o floricultor JWS Van der Wereld, diagnosticado com a Doença de Parkinson, havia recentemente desenvolvido uma tulipa vermelha e branca. Ele a nomeou de “Dr. James Parkinson”, para homenagear o médico que primeiro descreveu a sua própria doença.  Essa tulipa recebeu vários prêmios na Europa, em função do vermelho cardeal brilhante com pequena borda branca nas pétalas, e a base externa esbranquiçada.

Dr. Márcio Couto – Médico Cardiologista – CRM-PR 14933 – Membro da diretoria da AMC.