Esportes

O ano muito especial de Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo ganhou.

Foi eleito o melhor do mundo versão Fifa, desbancando o argentino Lionel
Messi, do Barcelona, e o francês Antoine Griezmann, do Atlético de Madri, numa
eleição que, como qualquer premiação individual em esportes coletivos, pode ser
contestada. E neste ano, os advogados de Cristiano Ronaldo tiveram que reforçar
sua retórica: afinal, os defensores de Messi traziam na algibeira sólidos
argumentos em nome da temporada do argentino, como os que foram apresentados na
edição de ontem aqui por Carlos Eduardo Mansur, que analisou o ano Fifa de
ambos, de novembro de 2015 a novembro de 2016.

Fifa, eleição de melhor do mundo e gol mais bonito

No recorte de Victor Canedo, do site globoesporte.com,
que preferiu ver o ano inteiro, Messi marca um gol a cada 58 minutos, contra 69
de Cristiano Ronaldo, mas só 13% deles de pênalti, enquanto o português recorreu
a cobranças em 20%. Além disso, observa que Cristiano Ronaldo despertou apenas
em fevereiro de 2016, e só nas quartas de final da Liga dos Campeões, contra o
Wolfsburg, teve uma atuação de brilho na campanha vitoriosa dos ?merengues?.
Cristiano Ronaldo mal jogou a final da Eurocopa contra a França ? lesionou-se no
joelho e saiu nos primeiros 24 minutos.

Tudo isso é verdade, acrescido ainda de um argumento de fundo dos defensores
do Messi-2016: um título é uma construção coletiva, enquanto o desempenho
individual é o que realmente deve ser levado em consideração.

A RARA TEMPORADA DE 2016

A questão que precisa ser ressaltada, no entanto, é que os títulos do
Cristiano Ronaldo-2016 não são meras taças a empilhar, de valor igual a todas as
anteriores: eram justamente a façanha que inscreve o jogador como ídolo nos
corações de seu país de origem. Num raro ano de copas continentais paralelas,
Ronaldo e Messi tinham um confronto direto: a dupla missão de entrar para a
história de suas seleções sem se pouparem ou deixar de produzir por seus clubes,
resistindo às temporadas extenuantes de quarta a domingo.

Se Cristiano Ronaldo e Messi empataram com 61 gols no ano Fifa, é impossível
ignorar que foi em 2016 que o madeirense mudou a história de sua seleção,
façanha que Messi ainda luta para cometer ? e que sempre foi objetivo dos dois
übercraques. Ambos estiveram lá até o fim, jogando ou torcendo, como
Ronaldo à beira do campo na final da Euro.

Pense: só pela Argentina, craques indiscutíveis como Redondo, Verón e
Batistuta não tiveram essa oportunidade. Por Portugal, Eusébio e Figo nunca
conquistaram uma taça para a sala de troféus da seleção portuguesa adulta. Isso
não é apenas simbólico: é objetivo, é factual.

E Messi perdeu, na Copa América Centenário, um pênalti após 120 minutos de 0
a 0 contra o Chile. Ao perdê-lo, esmoreceu: deu em seguida uma declaração
compreendida como despedida da seleção argentina, o que dá a entender, pelo
contraste com o momento do português, que determinados fracassos trazem
consequências, mesmo quando você enfileira uma série de atuações pessoais
incontestáveis. Em seu sofrimento pessoal, o craque do Barcelona nos mostrou que
campeonatos são importantes e que ele certamente toparia ter jogado um pouco
pior, desde que ganhasse a primeira taça com a camisa albiceleste.

A quem pensa dessa forma, saiba que há boa companhia: Tite não deu o menor
moral para Messi. O comandante da seleção brasileira votou em Cristiano Ronaldo,
Neymar e Griezmann, nesta ordem, segundo os votos divulgados pela Fifa.

Ausente da festa, Messi foi lembrado pelo vencedor. Os jogadores do Barcelona
foram impedidos pelo clube de irem a Zurique, na Suíça, porque têm um jogo da
Copa do Rei, amanhã, contra o Athletic Bilbao, pelas oitavas de final. Os
catalães perderam o primeiro jogo por 2 a 1.

? Gostaria que Messi e os outros jogadores do Barcelona estivessem aqui, mas
eles têm um jogo da Copa (do Rei) na quarta. Entendemos perfeitamente ? disse
Ronaldo, premiado quatro vezes no total, e que mandou recado aos que
desconfiavam de seu favoritismo:

? Tinha muitas coisas para dizer, mas agora bloqueei um bocadinho. Havia
muitas dúvidas, mas o troféu mostrou que as pessoas não são cegas. As pessoas
veem os jogos, as competições. Depois do que eu ganhei com a seleção e com meu
clube, eu não tinha dúvidas que deveria ter ganho este troféu. Não tenho mais
nada a dizer. Os prêmios falam por si mesmo.

Imagens da Festa de Gala da Fifa