Política

Levantamento mostra falácias do Plano de Metas do Beto

Documento registrado em cartório na eleição de 2014 previa geração de 400 mil empregos, 20 novos presídios, duplicação de 750 km de rodovia e contratação de mais 10 mil policiais

Curitiba – O ano de 2017 se despede em menos de um mês, 2018 bate à porta e não se pode esquecer que é um ano eleitoral para definir governador, presidente e deputados estaduais e federais.

Nesta que será a reta final de gestão, o Jornal O Paraná analisou o que foi prometido e o que foi feito pelo Governo Beto Richa em seu segundo mandato (2015/2018), conforme o Plano de Metas que foi registrado por ele em cartório durante a campanha eleitoral de 2014. São diversas promessas de investimentos e avanços. E a conclusão não é boa ao povo paranaense.

Segundo levantamento realizado pela reportagem com base nas principais metas propostas, boa parte dos principais itens está muito longe de se tornar realidade.

Há promessas que ficaram no vácuo, a exemplo de transformar o Estado do Paraná em área livre da febre aftosa sem vacinação ainda em 2017. O governador se propôs a atuar em favor disso, o que ainda está longe de acontecer. A certificação é feita por organismos internacionais e as auditorias e todos os processos legais são feitos pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Richa trouxe em seu plano que traria este status ao Paraná neste ano, mas, se tudo ocorrer dentro do esperado e conforme o cronograma do Mapa, a vacinação deve seguir pelo menos até 2021, podendo ser antecipado seu fim de acordo com o que for apurado na auditoria de janeiro próximo. Ocorre que a certificação internacional só promete chegar em 2023.

As promessas incluem ainda duplicação de rodovias, construção de presídios, contratação de policiais, implantação do ensino em tempo integral, aumento do número de leitos e geração de emprego.

Na edição de hoje e ao longo desta semana você confere algumas dessas metas e o que existe na prática até agora.

Promessa: Criação de 400 mil novos empregos

Realidade: Perda de 107 mil postos de trabalho

Em seu Plano de Metas – que antes estava disponível no site de sua campanha, mas que foi retirado do ar -, o governador Beto Richa prometeu a criação de 400 mil novos empregos com carteira assinada de 2015 a 2018. Ainda restam 13 meses para o fim deste prazo, mas o desafio agora é maior. Isso porque de 1º de janeiro de 2015 até 30 de setembro de 2017, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostra uma derrocada no emprego formal, com aumento desenfreado do desemprego.

Em 2015 o Paraná fechou 76.196 postos formais de trabalho; em 2016 foram extintas 59.828 vagas e apenas neste ano, de janeiro a setembro, o cenário se inverteu e registrou a abertura de 28.623 empregos. Mas o saldo ainda é negativo. No total, desde 2015 o Paraná fechou 107.401 postos de trabalho formais. Ou seja, para cumprir a promessa dos 400 mil empregos, agora o governo tem um ano para criar 507 mil.

Vale lembrar que em 2014, quando Beto Richa já era governador e disputava a reeleição, o Estado só havia gerado 39 mil empregos diretos.

Promessa: R$ 10 bi de investimentos em energia

Realidade: Setor produtivo enfrenta apagão

Outra promessa de campanha diz respeito ao setor energético, no qual o então postulante à reeleição, Beto Richa, prometera, em 2014, o investimento de R$ 10 bilhões no setor, com ênfase em energias renováveis.

Ocorre que o setor produtivo, especialmente da região oeste, passa por um preocupante apagão.

Bandeira do Programa Oeste em Desenvolvimento, o tema vem sendo amplamente debatido em encontros estaduais devido à gravidade. Hoje, o setor produtivo da região não consegue expandir suas atividades justamente porque há falhas graves na distribuição de energia elétrica, e a que é entregue chega de forma precária com picos frequentes que colocam equipamentos que custam milhões em risco.

Somente em um caso relatado pelo O Paraná em outubro deste ano, uma indústria está investindo R$ 20 milhões para a ampliação da rede para construção de uma nova fábrica em Assis Chateaubriand.

Promessa: construção de 20 novos presídios

Realidade: rebelião, superlotação e nenhuma obra concluída

Quanto à construção de unidades prisionais anunciada ainda no plano de governo de 2011 e reforçada no documento registrado em 2014 (vigência de 2015/2018), eram previstas 20 novas unidades, mas elas não vão sair do papel, ao menos não por enquanto. O próprio secretário de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita, já reconheceu isso.

Segundo levantamento do portal “Gazeta do Povo”, de 14 unidades anunciadas em 2011 – lembrando que em 2014 a promessa passou para 20 -, 12 estão totalmente paradas e as duas em execução caminham em passos lentos. Tratam-se da cadeia pública de Campo Mourão e da unidade prisional no complexo penitenciário de Piraquara. Das outras seis, nem sinal.

Vale lembrar que a promessa do governo era entregar todas as unidades até 2014, prazo que foi estendido para 2017. Neste momento, não sequer nova previsão para que isso ocorra.

Em entrevista coletiva mês passado, Mesquita afirmou que pelo menos quatro obras serão retomadas neste ano, entre elas a ampliação da PIC (Penitenciária Industrial de Cascavel). Em inúmeras reportagens publicadas pelo O Paraná ao longo dos dois últimos anos, essa retomada foi anunciada e não cumprida pelo menos cinco vezes. E, um mês depois do anúncio, ainda não saiu do papel.

Segundo o secretário, o que emperrou os processos para a realização das obras foi a burocracia do processo licitatório.

Sem os novos presídios, as unidades existentes seguem superlotadas e não há como transferir presos. Um exemplo trágico disso diz respeito à última destruição da PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) na rebelião registrada no dia 9 de novembro e, mesmo assim, o espaço que antes era ocupado por quase mil detentos, segue alojando cerca de 800 mesmo sem condições de segurança e de higiene. Os presos estão amontoados, sem roupas, sem colchões e sem cobertas, dividem espaços minúsculos para a higiene pessoal ou as necessidades fisiológicas.

Para o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na subseção de Cascavel, Charles Daniel Duvoisin, o temor é para que este amontoamento e permanência sem condições básicas desencadeie uma nova rebelião.

Ainda durante a rebelião, uma das reivindicações dos presos era justamente a transferência da PEC, situação negada pelo Depen (Departamento Penitenciário do Estado) porque não há vagas no sistema estadual.

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