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Vitor Hugo é o único representante do Brasil nos 100m na Rio-2016

Vitorhugo_100m_wc_001.jpgApós a vergonhosa campanha no último Mundial de Atletismo, em Pequim, no ano passado, quando terminou com apenas uma medalha de prata, conquistada por Fabiana Murer (salto com vara), o atletismo brasileiro corria sérios riscos de ficar fora dos 100m, prova mais nobre do esporte, nos Jogos Olímpicos do Rio. Mas, na quinta-feira, no último dia de tentativa do índice (10s16) para o megaevento, o carioca Vitor Hugo dos Santos, de 20 anos, correu 10s11, seu melhor tempo na carreira, na semifinal do Troféu do Brasil, em São Bernardo do Campo (SP). Foi também o quarto melhor tempo de um brasileiro na distância, igualando a marca que Sandro Ricardo Viana fez em 2009.

? É um alívio saber que tem brasileiro nos 100m da Olimpíada. Já era planejado tentar na semifinal. Minha estratégia foi: o primeiro tiro do dia era para se classificar para a semi, o segundo era para tentar o índice, e o terceiro, para vencer. Como eu ainda não tinha índice, precisava correr forte ? disse Vitor, que venceu a final com um tempo mais modesto (10s21). ? Na final, já estava sentindo cansaço. A perna estava pesada. Poderia ser um pouco melhor.

Brasil não fica fora dos 100m desde 1968

Apesar de evitar que o Brasil ficasse fora dos 100m no megaevento, algo que não acontece desde os Jogos do México, em 1968, o tempo de Vitor ainda está muito aquém dos melhores do cenário internacional. Nesta temporada, seu tempo é apenas o 65º do mundo, sendo que mais outros cinco velocistas correram os mesmos 10s11. Sua marca pode ser rebaixada ainda mais neste ranking nos próximos dias, com os resultados das seletivas jamaicana, iniciada ontem, e americana, que começa hoje.

Para Lauter Nogueira, comentarista de atletismo da Rede Globo, Vitor precisa melhorar muito o seu tempo se quiser passar das eliminatórias do megaevento. O especialista prevê que, para ir à semifinal na Rio-2016, será preciso correr na casa dos nove segundos, uma marca nunca alcançada por um brasileiro. O recorde nacional, e também sul-americano, nesta distância pertence a Robson Caetano, com 10s00 feitos no México, em 1988.

Nos 100m do Mundial de Pequim, em 2015, 16 dos 24 velocistas que foram às semifinais correram acima dos 10 segundos. O pior deles, o francês Christophe Lemaitre, fez 10s24. Para chegar à decisão chinesa, os 10 semifinalistas correram, no máximo, em 9s99. Já na Olimpíada de Londres, em 2012, apenas os americanos Justin Gatlin e Ryan Bailey, entre 24 competidores, foram às semifinais correndo abaixo dos 10 segundos. O jamaicano Usain Bolt, que chegaria ao bicampeonato da prova, passou por esta primeira fase com 10s08. Já para chegar à última final olímpica, Richard Thompson, de Trinidad e Tobago, foi o único entre os oito finalista que não correu a semifinal na casa dos nove segundos ? fez 10s02. Info 100 metros

? Acredito que 10s05 seja o suficiente para se chegar à final olímpica no Engenhão ? disse Robson Caetano, contrariando a afirmação de Lauter. ? É muito difícil fazer projeções de marcas para avançar de fase sem levar em conta as condições climáticas do dia da prova, a tensão entre os velocistas, a emoção… O Vitinho (apelido de Vitor Hugo, que hoje treina em São Paulo) está acostumado a competir no Engenhão, enquanto a maioria dos outros velocistas nunca foi ao estádio. São pontos que podem fazer diferença.

Apesar do pouco tempo, Robson acredita que Vitor tem condições de chegar aos 10s05 até os Jogos. Independentemente de projeções, é impensável acreditar que algum velocista tenha chance de medalha olímpica sem estar correndo na casa dos nove segundos. E é quase impossível que Vitor consiga esse ineditismo entre os velocistas brasileiros para a Rio-2016.

? O Vitor é o único sopro de esperança brasileira que temos nos 100m. Hoje, a maioria dos nossos principais velocistas estão com cerca de 30 anos e sem resultados expressivos internacionalmente. O Vitor é novo e tem muito a evoluir. A Rio-2016 será para ganhar experiência. Mas ele tem condições de fazer algo expressivo em 2020 (em Tóquio, próximo palco olímpico), desde que faça as escolhas certas. E isso inclui ir treinar fora do país, escolher os treinadores certos ? analisa Lauter, completando. ? O Vitor tem tudo para quebrar a barreira dos nove segundos que tanto incomoda o atletismo brasileiro.

MONTANHA VENCE NO MARTELO

Robson também acredita que Vitor, hoje, é um ponto fora da curva entre os velocistas do país:

? Ele ainda precisa melhorar na primeira parte da prova. Mas dá para ver que está sobrando. Na final do Troféu Brasil, ele começou mal, mas conseguiu vencer com certa tranquilidade, mostrando domínio da prova.

Na quinta-feira, o pernambucano Wagner Domingos venceu com tranquilidade o lançamento de martelo do Troféu Brasil, com 74,49m. O atleta surpreendeu ao se tornar o quarto melhor do ano na modalidade, ao fazer 78,63m no último dia 19.