Os motoristas que passavam apressados nesta terça-feira pela rua Frei Caneca provavelmente nem sabiam que ali ao lado o Sambódromo recebia uma competição olímpica. A julgar pelo diminuto público nas arquibancadas, pouca gente sabia. Enquanto algumas arenas no Parque Olímpico ou em Copacabana, no vôlei de praia, sofrem com as longas filas, no palco do samba carioca, que recebe as provas de tiro com arco, o clima é de tranquilidade. Até demais.
– Não é um esporte muito popular, muito conhecido, né? – analisava, quase se desculpando, o integrante da Força Nacional responsável pelo check de segurança no raio-x ao comentar o fraquíssimo movimento.
Dentro do Sambódromo, o que mais se via eram lugares vazios. Pouco mais de 100 pessoas encaravam o sol forte, se protegendo como podiam, para acompanhar as disputas eliminatórias. Ao lado da Praça da Apoteose, os atletas se enfrentavam em disputas individuais, arrancando aplausos a cada flecha acertada no centro do alvo. “Ten! Dez!”, anunciava o locutor, empolgado. Mas a sensação era que de algo soava estranho. Talvez faltasse a voz de Jorge Perlingeiro para anunciar, categoricamente, um “Deeeeeez”.
Entre uma disputa e outra, o telão mostrava aulas de samba, com um apresentador e duas mulheres tentando ensinar, em inglês alguns passos básicos. No intervalo entre as duas sessões de competição, ritmistas da Unidos de Vila Isabel se apresentaram.
Enquanto tentava se proteger do forte sol em um dos poucos cantos com sombra, um casal de brasileiros, de Campinas, observava atentamente as disputas. Gustavo Scalzilli revelou que a ideia deles era justamente a de respirar ‘novos ares1.
– Estamos vendo vários esportes diferentes. Compramos ingressos para modalidades que não temos o costume de acompanhar. Já fomos na canoagem slalom, no rugby, ainda vamos ao golfe, e hoje viemos conferir o tiro com arco. Está bacana – disse ele, ostentando orgulhosamente uma camisa do Guarani.
Vestindo uma camisa do Botafogo, o carioca Marcos Cruz confessou ser um marinheiro de segunda viagem no tiro com arco. Na segunda-feira, ele havia acompanhado pela TV algumas provas. Gostou tanto que resolveu comprar um ingresso.
– Estou gostando mais ainda de acompanhar ao vivo. Foi muito fácil de entrar, sem fila alguma, mas seria bom ter um pouco mais de gente, né? Fica meio chato essa arquibancada vazia – lamentou.
Para os brasileiros que competiram, isso pouco importou. A torcida fez sua parte e foi um componente importante apesar dos resultados negativos. Não importa se eram 10 ou 100, o barulho animou e emocionou.
– Acho que veio bastante gente até. A torcida está muito educada, vibra na hora certa – disse Sarah Nikitin, que perdeu logo na estreia e não escondeu as lágrimas. – Bate uma emoção quando penso em tudo que passei para estar aqui.
Bernardo Oliveira ainda venceu uma disputa, contra o australiano Alec Potts, mas depois foi eliminado pelo chileno Ricardo Soto. Nem a empolgação de uma torcida quase particular, que soltava a garganta com gritos de “Vamos virar, Bê!”, ajudou o brasiliense a superar o número 13 do mundo.
– Eu sabia que seria difícil. Na Olimpíada estão os melhores do mundo, não tem combate fácil. A torcida foi fenomenal. Vou levar isso para o resto da vida. Saio chateado de não poder ter dado uma alegria a eles.