Sob o ponto de vista financeiro, a segunda edição da Primeira Liga aponta para o crescimento. Afinal, só a cota de TV quase quintuplicou. No entanto, sob o ponto de vista político, o torneio, nascido como movimento reformador do calendário, de afirmação do poder dos clubes de gerir as próprias competições e de ser uma alternativa na porção da temporada ocupada pelos Estaduais, se fragilizou.
Do enfraquecimento político, resulta o esportivo. A tabela reserva para hoje, às 19h30m, dois clássicos nacionais: Flamengo x Grêmio e Internacional x Fluminense. Dos quatro, três equipes serão totalment e reservas ou mistas. A exceção é o Flamengo. Nos Estaduais, todos têm usado força máxima. A Chapecoense, obrigada a fazer dois jogos em menos de 24 horas, terá titulares hoje, pelo Catarinense, e um sub-23 amanhã, pela Primeira Liga, contra o Cruzeiro.
Após enfrentar federações em 2016 na briga por espaço, a Primeira Liga se contentou com os raros espaços disponíveis no calendário. A reforma anunciada pela CBF para 2016 reduziu só uma data dos Estaduais, de 19 para 18. Restou à Primeira Liga fazer o torneio com quase seis meses de paralisação entre a fase de grupos e as quartas-de-final. E, a partir daí, as etapas decisivas vão coincidir com as ?datas-Fifa?, reservadas à seleção. Algo que os clubes sempre questionaram.
As quartas, em agosto, serão na véspera de Brasil x Equador, penúltima rodada das eliminatórias; as semifinais, às vésperas de Colômbia x Brasil; já a final deve coincidir com um amistoso do time de Tite.
Internamente, dirigentes reconhecem que razões particulares levaram cada clube a aderir à Primeira Liga: desavenças locais com suas federações em alguns casos, oposição à CBF em outros, objetivos financeiros ou até ambições políticas no cenário nacional. A ideia da Liga Nacional como objetivo nem sempre foi uma ambição de todos.
? O sistema (CBF, Federações) estava desarticulado ao extremo. Mas a incapacidade dos clubes de pensar coletivamente fragilizou a Primeira Liga como causa, como movimento político ? disse Romildo Bolzan, presidente do Grêmio. ? Achei que poderíamos transpor isso e caminhar para a Liga Nacional. Na minha visão, nem vai avançar mais.
Bolzan diz não ter certeza, sequer, se haverá nova edição em 2018. Nas reuniões da liga, já avisava que o Grêmio usaria reservas e faria da competição ?um laboratório”.
Mas há outro entendimento na liga: o de que a sustentação financeira do torneio o fará ganhar espaço e representatividade para alterar o calendário de forma mais impactante. O desafio é o diálogo entre os clubes. A discussão sobre divisão de cotas provocou as saídas de Coritiba e Atlético-PR.
? É hora de colocar questões políticas de lado e reorganizar o torneio. Fortalecendo comercialmente, dialogando com federações e CBF, ele decola. Cai no gosto do torcedor ? disse o presidente do Fluminense, Pedro Abad.
Atingir o formato ideal é, segundo o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, uma questão gradual.
? É um projeto de longo prazo. Não se faz revolução de uma hora para outra. No primeiro ano só tivemos cinco datas, agora melhorou. A cota de TV e a premiação aumentaram. Em dez anos, vai ocupar o lugar devido ? disse, antes de ser perguntado se o Flamengo tinha postura mais combativa do que outros clubes. ? Cada clube tem suas questões. Há situações em que nem todos se dispõem a comprar uma briga.