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Maratonista faz gesto de protesto: 'Se eu voltar para a Etiópia, podem me matar'

RIO ? A princípio, parecia apenas um gesto de celebração pela medalha de prata conquistada na maratona masculina dos Jogos do Rio-2016 neste domingo. Mas ao lenvantar os braços e cruzar as mãos acima da cabeça na linha de chegada, o etíope Feyisa Lilesa, na verdade, protestava.

? Se eu voltar para a Etiópia, eles (o governo) podem me matar ? disse Lilesa durante a coletiva de imprensa após a maratona. ? Se eu não morrer, talvez me prendam. Se não me prenderem, vão me impedir de entrar na Etiópia. Tomei uma decisão. Talvez vá morar em outro país.

Desde novembro de 2015, cerca de 400 pessoas morreram e milhares ficaram feridas na Etiópia, vítimas de enfrentamento com tropas governamentais com a etnia Oromo.

Feyisa Lilesa 1.jpgOs protestos começaram após a aprovação de um plano urbanístico para expandir os limites da capital da Etiópia, Adis-Abeba. O ato poderia colocar em perigo as terras de cultivo dos Oromo, povo agrícola e seminômade que vive no local. Mas o governo acabou voltando atrás e cancelou esse projeto.

As manifestações mais recentes ocorreram no início de agosto em várias cidades da região para mostrar o descontentamento com as contínuas detenções e abusos contra opositores, ativistas e políticos.

Segundo as autoridades etíopes, os manifestantes têm “conexão direta” com grupos terroristas estrangeiros, como a Frente de Libertação Oromo (OLF, sigla em inglês), um movimento separatista que vem lutando há décadas pela independência da região de Oromia. Protestos similares aconteceram em abril de 2014 e também terminaram com mortes, feridos e detenções maciças de manifestantes.

A lei Antiterrorista etíope permite o uso ilimitado da força pelas autoridades contra os suspeitos de atos terroristas, incluindo a prisão preventiva de até quatro meses, que frequentemente é acompanhada de tortura.