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Isaquias Queiroz diz que nunca vai deixar de morar em Ubaitaba

Êxtase, multidão, festa e reconciliação, num pedido de desculpas com a mais apaixonada promessa possível. ?Eu nunca vou deixar de morar em Ubaitaba. Quero ser enterrado aqui?. Consagrado na Lagoa Rodrigo de Freitas, Isaquias Queiroz se sente à vontade é na pequena cidade do sul da Bahia, e foi assim com essas palavras, num palanque na Praça da Cultura, que ele encerrou a mais emocionante das comemorações pelo feito das três medalhas olímpicas, um desfile no carro de bombeiros por ruas de sua cidade natal, na noite desta sexta-feira. Isaquias

O evento passou a ser cercado de certa tensão desde que o canoísta, na tarde de quinta-feira, dera declarações criticando os conterrâneos. Ao programa de Jackson Cristiano na Rádio Ubaitaba ? o líder de audiência na cidade, veiculado nos altos falantes da praça principal e da rodoviária, na hora do almoço ?, Isaquias desabafou sua revolta com comentários sobre sua namorada, Larissa, nas redes sociais e nas ruas da cidade. O sucesso do canoísta nos Jogos fez voltar a circular nas redes um vídeo de Larissa beijando outra mulher, há dois anos, quando não estava com ele, e desatou uma série de maledicências preconceituosas contra a jovem.

Ao defendê-la, com indignação, Isaquias cometeu o pecado de generalizar e chamou os ubaitabenses de ?mal-educados? e ?imbecis?.

? Ele errou, mas pediu desculpas. O povo é muito maldoso, também, cidade pequena, né? Fazem fofoca dela. Tinha gente até reclamando que ele não ganhou ouro, vê se pode? Achei que ia ter mais gente aqui ? comentava Jéssica Santana, uma das centenas de pessoas que aguardavam a chegada do herói local.

Foi Isaquias chegar à cidade, vindo do aeroporto de Ilhéus, pouco antes das 18h de ontem, que qualquer dúvida sobre o quanto ele é querido se desfez. O que poderia ser um público apenas razoável foi se transformando numa multidão ao longo de 1h15m de percurso. Na conta da Polícia Militar, quase três mil pessoas seguiram o desfile, fora pelo menos outras mil que acompanharam paradas nas calçadas, janelas e varandas. Número marcante para um município de pouco mais de 20 mil habitantes.

Cidade parada: melhor não morrer

Com as duas pratas e o bronze no peito, e a bandeira de Ubaitaba amarrada no pescoço, Isaquias acenava do alto do carro, reconhecendo rostos familiares e mandando beijos. Na impossibilidade de alcançar o canoísta, um morador inventou a selfie terceirizada: acenou a Isaquias e arremessou seu celular para ele, que tirou uma autofoto sozinho na imagem e devolveu o aparelho ao dono. O sucesso fez com que várias outras pessoas imitassem a tática e guardassem o registro de Isaquias, mesmo sem sair na foto.

Ao passo que foi enchendo a passeata, a cidade parou. Pessoas saíam dos carros e dos bares para acenar, já de noite. Quase nada se podia fazer além de aplaudir o ídolo, e mesmo morrer era pouco recomendável: apesar do enorme letreiro na fachada ?Plantão 24 horas?, a Funerária Santo Antônio, referência também para cidades vizinhas, estava fechada, fato raro, segundo os moradores.

Ao final do desfile, Isaquias recebeu o beijo da mãe, Dona Dilma, e subiu num carro de som parado na praça para falar aos conterrâneos, que ignoraram a chuva fina. Citou o nome de vários bairros e foi ovacionado após bonitas palavras de reconciliação com seu povo.

? Quero dizer para vocês que continuo o mesmo. Não vou sair daqui de Ubaitaba. Posso ir remar em outro lugar, mas sempre vou morar aqui. Quando morrer, quero ser enterrado aqui. Não vou botar salto alto por causa de medalha nenhuma ? prometeu, para encerrar fazendo novo desagravo a Larissa. ? E essa aqui é minha namorada, para quem gosta ou quem não gosta dela ? e concluiu com um beijo.