Esportes

Investimento recorde e fator-sede não renderam como deveriam

Em número de ouros e em total de medalhas, o Rio-2016 foi a melhor campanha olímpica do Brasil. Foram festas inesquecíveis no Maracanã, no Maracanãzinho, em Deodoro, na Lagoa e na Barra, de brasileiros celebrando a garra, os triunfos e os esforços de outros brasileiros. Nada disso será esquecido. Não foram alcançadas, porém, as metas de um investimento recorde no esporte olímpico. O resultado, no rigor da análise, é o de uma delegação que ficou devendo.

O desempenho do Brasil na Olimpíada do Rio

AS METAS

Com sete ouros, seis pratas e seis bronzes, o Brasil não chegou ao Top 10 olímpico, nem no quadro qualitativo, ordenado pelo número de ouros, nem no total de medalhas, que era a aspiração do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Em julho de 2014, Marcus Vinicius Freire, diretor executivo de Esportes do COB, disse que para chegar à 10ª colocação, o Brasil precisaria conquistar de 27 a 30 medalhas. Mas, por se tratar de ?um documento vivo?, esses números poderiam variar. Com o passar do tempo, abaixou esse número para 23 ? um chute preciso, uma vez que, em total de medalhas, o Canadá ocupa o décimo lugar, com 22. Mas, depois, Freire desistiu de falar em número de medalhas e apostou apenas na décima posição do ranking. No fim, o Brasil empatou em 12º lugar com a Holanda ? que era considerada pelo COB o rival a ser superado ?, com 19 medalhas no total. No desempate, os laranjas tiveram mais ouros: 8 a 7.

O INVESTIMENTO FEDERAL

Para o Rio-2016, o COB traçou como meta ampliar o leque de opções de medalha, priorizando modalidades individuais, e o governo federal ampliou a quantidade de atletas beneficiados com ajuda financeira, por meio do Bolsa Atleta. Em 2011, um ano antes de Londres, 2.700 atletas eram beneficiados com bolsas nas categorias nacional, internacional e olímpico, que abrangem competidores olímpicos, com um investimento de R$ 41,8 milhões naquele ano. Em 2016, as categorias reúnem 4.200 atletas, para um custo de R$ 61,6 milhões.

Todas as medalhas do Brasil no Rio-2016

A meta de estar entre os 10 primeiros levou à criação de uma nova categoria, o Bolsa Pódio, dentro de um plano lançado pela presidente Dilma Rousseff em 2012: o Brasil Medalhas. Enquanto as três categorias inferiores pagam bolsas de R$ 925 a R$ 3.100, o Bolsa Pódio remunera o atleta com valores de R$ 5.000 a R$ 15.000. Todos os medalhistas brasileiros no Rio-2016 recebem o Bolsa Pódio. O custo anual aos cofres públicos é de cerca de R$ 28 milhões.

Se somados aportes de estatais, convênios com confederações, dinheiro de programa de alto rendimento de atletas das Forças Armadas e recursos da Lei Agnelo/Piva, o valor se aproxima de R$ 3 bilhões no ciclo olímpico de quatro anos. Só o plano específico para pódios, o Brasil Medalhas destinou R$ 1 bilhão, dos quais R$ 328 milhões se destinaram a apoio a seleções, o que inclui o Bolsa Pódio, contratações de técnicos, compras de equipamentos e viagens. Outros R$ 452 milhões se referem a construção, reforma e equipagem de centros de treinamento.

Brasil é ouro no vôlei masculino

O Ministério do Esporte irrigou ao menos 26 confederações e clubes com recursos por meio de convênios. Outra frente foi o patrocínio de estatais, via Plano Brasil Medalhas: Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Correios, BNDES e Banco do Nordeste investiram em 22 esportes.

O APOIO DAS FORÇAS ARMADAS

Uma outra frente de injeção de dinheiro público se fez notar nos pódios, com brasileiros batendo continência. A maioria dos medalhistas brasileiros no Rio-2016 integra os quadros das Forças Armadas, dentro do Programa de Atletas de Alto Rendimento, existente no Ministério da Defesa desde 2008. As três forças oferecem a patente de terceiro-sargento e uma remuneração de R$ 3,2 mil, além de outros benefícios, para atletas já prontos e medalhados em competições diversas. O investimento anual supera R$ 18 milhões.

Brasil x Alemanha: as imagens do ouro olímpico

A SEDE QUE BRILHOU MENOS

O Brasil ainda tinha a seu favor o fato de sediar os Jogos. Nas últimas sete Olimpíadas, desde Seul-1988, os países-sede ganham 80% mais medalhas do que sua média nos três Jogos anteriores. Dentro do mesmo raciocínio, espera-se dos países-sede um ganho de 150% mais medalhas; o Time Brasil ficou em 91%.

DECEPÇÕES

A entidade nunca divulgou metas por modalidade, mas tinha suas apostas. O carro-chefe era o judô, que sonhava com seis medalhas. Assim como o COB, a CBJ esperava bater o desempenho de Londres-2012 qualitativa e quantitativamente. Há quatro anos, o judô somara quatro pódios ? um ouro e três bronzes. No Rio, foram três (ouro de Rafaela Silva, bronzes de Mayra Aguiar e Rafael Silva), frustrando as duas metas.

Das quatro duplas de vôlei de praia e dos dois times de quadra, esperavam-se seis medalhas. Vieram três. A meta nunca foi falada abertamente, mas era natural diante do excelente desempenho internacional das modalidades.

O feminino de quadra, vice no ranking mundial, caiu nas quartas e perdeu a chance de tentar o tri olímpico. Na praia, Pedro/Evandro e Larissa/Talita ficaram sem pódio. As apostas nas meninas eram maiores, principalmente em relação a Larissa, que sai de sua terceira Olimpíada sem nunca ter disputado o ouro.

Mas talvez não haja decepção maior do que na natação. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) esperava ter de três a cinco pódios: no mínimo, a equipe empataria com o resultado de Atlanta-1996, o melhor da natação nacional em Jogos Olímpicos (prata e bronze com Gustavo Borges e bronze com Fernando Scherer). Tanto em Pequim-2008 quanto em Londres-2012, o Brasil obteve duas medalhas (três com Cielo, uma com Thiago Pereira). Apostava-se em Bruno Fratus e Cielo, nos 50m livre (que não se classificou), Pereira, nos 200m medley, e no revezamento 4x100m livre. Felipe França e João Gomes Júnior, nos 100m peito, correriam por fora. No feminino, a esperança maior e era com Ana Marcela Cunha, na maratona aquática 10km. No fim, a única medalha da natação veio com Poliana Okimoto, que ganhou um bronze na prova no mar.

ESPORTES EM ALTA

Thiago Braz é ouro no salto com vara

A canoagem brilhou. Isaquias Queiroz conquistou medalha em três provas: prata na prova em dupla de 1.000m, com Erlon Souza, bronze na individual dos 200m, e prata nos 1.000m.

O atletismo surpreendeu. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) não contava com medalhas e saiu no lucro. Thiago Braz, ouro no salto com vara, saltou a maior marca de sua vida (6,03m) e compensou a expectativa não realizada por Fabiana Murer em três edições.

Na ginástica masculina, Arthur Zanetti ganhou a prata nas argolas. Mas Diego Hypolito e Arthur Nory surpreenderam ao conquistarem a prata e o bronze no solo.

O boxe também estava fora da contagem e fez história. Robson Conceição, vice mundial em 2013 e bronze no Mundial de 2015, ganhou o primeiro ouro do país no esporte.

Por fim, com Maicon Siqueira, o taekwondo repetiu o inesperado bronze de Pequim-2008.