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Imagina na Copa: futebol da Rússia sofre em meio a escrutínio por doping

“Imagina na Copa”, bordão que virou febre no Brasil em meio às dificuldades de organização do Mundial de 2014, é uma frase que serve como luva para a situação atual da Rússia, sede da Copa do Mundo de 2018. O escrutínio internacional após a revelação de um escândalo de doping envolvendo o governo, e que pode até impedir a participação do país na Olimpíada de 2016, tirou o norte das autoridades russas. Faltando dois anos para o Mundial de 2018, o futebol da Rússia parece seguir ladeira abaixo.

Mais do que a decadência, preocupa a falta de perspectiva de melhora. O fracasso da Rússia na Eurocopa, eliminada na primeira fase da Eurocopa após empatar com a Inglaterra e perder para Gales e Eslováquia, deu origem a uma petição online, com quase 1 milhão de assinaturas, pedindo o desmantelamento da seleção russa de futebol.

Após a campanha pífia, o treinador: Leonid Slutsky abandonou o cargo e voltou para o CSKA, clube da primeira divisão russa. Desde então – e isso já faz um mês -, a União de Futebol da Rússia (RFS) não anunciou substituto. Durante a competição, vale lembrar, a Rússia chegou a ser ameaçada de exclusão pela Uefa após seguidos episódios de violência de seus torcedores, levantando um alerta de possíveis problemas com hooligans na Copa do Mundo de 2018.

– Depois de um torneio como esse, é preciso que outra pessoa assuma a seleção – resumiu Slutsky ao anunciar sua demissão.

O presidente da RFS é Vitaly Mutko, que também acumula um posto no Comitê Executivo da Fifa e o cargo de ministro de Esportes da Rússia. No fim de semana, questionado pelo site “Life.ru” sobre a petição contra a seleção, Mutko surpreendeu e declarou que a equipe nacional russa “está desmobilizada”, ou seja, “não há time” atualmente. O vice-presidente da RFS, Nikita Simonyan, explicou as declarações dizendo que não há ninguém para selecionar jogadores atualmente. Slutsky, embora tenha se demitido, ainda é aguardado pelos dirigentes para dar sequência ao trabalho.

MUTKO NO OLHO DO FURACÃO

Mutko tem preocupações mais urgentes do que decidir o futuro da seleção de futebol. O ministro de Esportes da Rússia se viu implicado no centro do escândalo de doping do país após a divulgação do relatório da comissão independente da Agência Mundial Antidoping (Wada), nesta segunda-feira. O documento confirma participação ativa do governo russo no encobrimento de casos de doping nos Jogos de Inverno de Sochi-2014 e no Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013. Segundo o relatório, Mutko “dirigiu, controlou e supervisionou a manipulação” de exames.

– Espero que o COI seja guiado pelo bom senso e leve em consideração o fato de que não há confirmação concreta de violação por este ou aquele atleta no relatório – declarou Mutko à agência “Tass” nesta segunda-feira.

As acusações da comissão independente, chefiada pelo canadense Richard McLaren, fizeram a Wada sugerir a proibição de governantes russos em eventos esportivos internacionais, como a Olimpíada de 2016. A Wada ainda recomendou à Fifa que investigue a participação de Mutko em possíveis encobrimentos de doping no futebol.

O relatório da Wada apontou que pelo menos 10 jogadores russos de futebol tiveram resultados positivos em exames antidoping encobertos pela técnica definida como “desaparecimento de positivo”, isto é, a destruição de amostras que acusaram a presença de substâncias proibidas. Além disso, um jogador estrangeiro da primeira divisão da Rússia, cuja identidade não foi revelada, teve um exame antidoping destruído por ordem direta de Vitaly Mutko, ministro de Esportes e presidente da RFS, segundo o documento.

PIOR COLOCAÇÃO NO RANKING

Em meio às turbulências políticas, o desempenho da seleção russa em campo caiu bastante nos últimos quatro anos. Na última atualização do ranking da Fifa, em julho, a Rússia apareceu na 38ª posição. É a pior colocação do país desde 1998, quando estava em 40º no ranking. Em 2012, a seleção chegou a ocupar a nona posição.

A seleção russa vive uma dificuldade para renovar seu time principal. Na Eurocopa deste ano, a Rússia era a terceira seleção mais velha do torneio (empata com a Itália), com média de idade de 28,57 anos. O italiano Fabio Capello, que antecedeu Slutsky no comando da seleção, chegou ao extremo de convocar, em 2015, o jovem zagueiro Nikita Chernov, de 19 anos. Chernov atuava pelo time de juniores do CSKA e, até hoje, nunca entrou em campo na primeira divisão do Campeonato Russo.

– Precisamos admitir que não temos jogadores de alto nível atualmente. Esta é a situação em termos objetivos – resumiu Mutko à agência “Tass” após a derrota para Gales, que decretou a eliminação na Eurocopa.