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Crise na AFA ameaça participação da Argentina na Copa América

A uma semana de sua estreia na Copa América, a Argentina vive uma série de problemas extracampo que podem causar até a exclusão da seleção do torneio que começa na sexta-feira, nos Estados Unidos. Além de ver o seu craque, Lionel Messi, enfrentando um julgamento da Justiça da Espanha por fraude fiscal, o país amanheceu nesta terça-feira com uma intervenção do governo Maurício Macri sobre a Associação de Futebol da Argentina (AFA). O governo federal suspendeu por 90 dias a eleição na federação marcada para o dia 30 de junho, causando um problema que pode bater nas portas da Fifa.

A intervenção do governo do ex-presidente do Boca Juniors, que foi eleito presidente da Argentina no ano passado, foi feita baseada no artigo 10 da lei 22.315, que permite ao governo se envolver em qualquer associação civil se forem verificados atos que violem a lei, o estatuto ou o regulamento. O governo alega que houve graves irregularidades administrativas. Por isso, tomou a decisão.

O problema é que o regulamento da Fifa proíbe que governos se envolvam em assuntos das federações de futebol. Quando isso acontece, a entidade pode até suspender as federações. Recentemente, a Indonésia, o Kuwait e o Benin foram suspensos por intervenções políticas em suas respectivas entidades. Uma decisão semelhante afetando a Argentina poderia até afetar o Boca Juniors, semifinalista da Libertadores. Se a AFA for suspensa, o Boca poderia ser excluído do torneio sul-americano.

A Inspeção Geral de Justiça (IGJ), órgão do Ministério da Justiça argentino, também designou dois superintendentes para fazerem uma auditoria interna na AFA: o advogado Luis Tozzo e a contadora Catalina Dembitzk, ambos funcionários do Departamento de Associações Civis da IGJ.

Para o secretário-executivo da AFA, Damián Dupíellet, houve uma ?clara ingerência na vida da AFA?. Ele adiantou que a entidade iria notificar a Conmebol e a Fifa. Ele não descartou ?a suspensão das atividades?de todas as categorias do futebol argentino, incluindo o retorno da seleção dos Estados Unidos.

– Entendemos que essa medida interrompe um processo eleitoral e faremos com que a Conmebol e a Fifa saibam disso para que se manifestem de acordo com os seus estatutos. Foi interrompido o processo eleitoral e isso é muito grave – disse Dupíellet. – Amanhã o Comitê Executivo (da AFA) decidirá sobre a seleção – completou o dirigente, adiantando que o futebol pode ser suspenso a partir do próximo fim de semana.

– Vamos esgotar todas as medidas administrativas. Se não obtivermos resposta, iremos pela via judicial.

ENTENDA O CASO

A AFA deveria eleger seu novo presidente em dezembro do ano passado, mas irregularidades na contagem dos votos fez a federação marcar uma nova eleição para o dia 30 de junho.

Esse novo adiamento para eleger o sucessor de Luis Segura, que está comandando provisoriamente a federação, se transformou numa briga entre dirigentes que pretendem estabelecer uma nova ordem para o futebol argentino e outros contrários à medida. Alguns dirigentes, entre eles os de Boca e River Plate, defendem a formação de um modelo de liga similar ao da Espanha na distribuição de dinheiro, mas os clubes menores resistem à proposta por considerar uma ameaça à competitividade destas equipes com relação aos grandes.

Além disso, há uma investigação em curso sobre o manejo irregular de milhões de pesos referentes aos direitos de televisão da liga e sobre o qual são acusados vários dirigentes. Entre eles, Segura e ex-funcionários do antigo governo da presidente Cristina Kirchner (2007-2015).

Por trás disso tudo, porém, está a possibilidade de ser eleito na AFA um dirigente que não conta com a simpatia de Macri. Hugo Moyano e Claudio “Chiqui” Tapia sonham em assumir a federação, mas ambos não são vistos com bons olhos pelo governo Macri. Ao contrário de Daniel Angelici, dirigente do Boca e homem de confiança do presidente.

– Não compartilho da decisão, carente de fundamentos, da IGJ que ordenou a suspensão das eleições da AFA. O processo se efetuou respeitando os prazos e as normas vigentes, já tendo candidatos apresentados. Esperamos que essa intromissão, que atenta contra a AFA e os clubes, não gere consequências para o futebol argentino dentro da Fifa – afirmou Tapia.