Rosberg entrou para o GP de Abu Dhabi com 12 pontos de vantagem e a certeza de que só perderia o título se sofresse um problema mecânico, porque tinha carro para chegar no mínimo em terceiro lugar. Sabia, porém, que seu companheiro faria tudo em busca do tetra. Estava certo. Hamilton usou de astúcia para evitar o sucesso de Nico, numa ?estratégia de elástico? que quase enlouqueceu o boxe da Mercedes, onde Toto Wolff roía as unhas, e o muro dos boxes, onde o sempre tranquilo Paddy Lowe, diretor-técnico da equipe, foi levado ao desespero.
TABELA: Resultados e classificação final da F-1 em 2016
Lewis largou com uma só preocupação: a de fazer a primeira curva na frente e determinar o ritmo da corrida. Conseguiu. Sua vitória nunca esteve em risco, mas ele deixou evidente sua intenção de infernizar a vida de Nico e da equipe. Para que um errasse e a outra pagasse pelos problemas mecânicos em seu carro durante a temporada.
Rosberg, porém, cumpriu brilhantemente seus objetivos. Escoltou Hamilton o tempo todo e mereceu o título, porque se mostrou veloz, constante, cometeu menos erros e teve mais sorte. Depois de 206 corridas, nada mais justo do que comemorar com ?zerinhos? perfeitos.
5 curiosidades sobre o campeão da F-1 Nico Rosberg
A corrida guardou as emoções para as voltas finais, quando Verstappen e, posteriormente, Vettel chegaram a encostar em Rosberg. Que não perdeu a calma e administrou impecavelmente o segundo lugar. Terminou o ano com menos vitórias do que Lewis ? 9 contra 10 ? mas, como pretendia, com cinco pontos de vantagem ? 385 a 380 ? no Mundial.
Rosberg campeão da Fórmula-1 em 2016
? Definitivamente não foi a corrida mais gostosa da qual eu já participei. Com Max no começo, depois com todo mundo chegando no final, não foram últimas voltas agradáveis. Estou feliz que acabou, e extasiado ? comemorou o alemão de 31 anos, lembrando-se do título do pai, Keke, em 1982. ? Estou muito orgulhoso em ter conseguido o mesmo feito que meu pai atingiu.
INGLÊS DÁ EMOÇÃO À CORRIDA
Hamilton foi cruel. Sabia que, andando na frente e com um carro dominador e saudável, numa pista difícil para ultrapassagens, sua única possibilidade era contar com a ajuda de Reds ou Ferrari. Abriu boa vantagem e começou a fazer seu jogo. Baixou o ritmo de corrida, reduzindo os tempos de volta para não abrir muita vantagem sobre os carros mais lentos e dar a eles a possibilidade de tentar a aproximação e, quem sabe, complicar a vida de Rosberg.
Chegou a andar quase dois segundos mais lento do que podia e, por pouco, não conseguiu seu objetivo. Nas voltas finais, primeiro Verstappen e depois Vettel se tornaram ameaças. O boxe da Mercedes ficou diante de um dilema. Sabia que era impossível dar uma ordem direta a Lewis, que brigava pelo título. Sabia também que Rosberg não poderia se aproximar, porque Hamilton se distanciaria quando bem entendesse. O cenário para o drama estava pronto.
Foi aí que Lowe não aguentou mais e entrou no circuito pedindo a Hamilton: ?Determine um ritmo de corrida?. Não fez o menor sucesso, porque o inglês, controlando o que acontecia logo atrás, deixou clara sua posição: ?Sou o líder da corrida, estou tranquilo e não vejo qualquer ameaça?. Carne de pescoço, o inglês pressentiu o final tenso.
Todas as emoções de Abu Dhabi devemos a Lewis, mas há que se reconhecer o trabalho perfeito de Rosberg, que corria pelo campeonato. Pressionado nas últimas duas voltas por SebVet, que tinha pneus supermacios e era mais veloz, se defendeu com perfeição mesmo sabendo que o terceiro lugar lhe daria o título. A diferença entre os dois na bandeirada foi de oito décimos de segundo.
Hamilton ganhou, mas perdeu. E lamentou os problemas mecânicos em sua Mercedes nesta temporada, que poderiam ter mudado o rumo do campeonato:
? Eu fiz tudo o que poderia fazer nessas últimas quatro corridas. Não se pode vencer todas. Tive uma série de problemas, e é por isso que estou nessa posição. Mas eu sou grato pelo sucesso e pelos altos e baixos que tivemos como equipe.
O Mundial foi para as mãos do preferido pela Mercedes. Não que tenha havido favorecimentos a Nico ou qualquer interferência nos problemas sofridos por Hamilton. A equipe sempre entregou aos dois carros rigorosamente iguais. O motivo é simples: fabricantes sempre defendem a tese de que seus carros contam mais do que os pilotos.
Pelo andar da carruagem, apesar das apostas em contrário, por causa das mudanças no regulamento, acredito que a vantagem continuará com os prateados em 2017. Por uma simples razão: eles arrasaram com o campeonato deste ano sem andar no limite.
Não façam ?ohhh? para as atuações de Vettel e Verstappen. O resultado da corrida foi o que Hamilton queria, e só por causa dele as estratégias de Ferrari e Reds acabaram produzindo algumas emoções. Vettel fez grande corrida, e a decisão de fazer longo período com macios, para ter a borracha mais veloz nas últimas voltas, funcionou à perfeição. Mas teria sido assim se Lewis não ficasse ?cozinhando o galo? e esperando por ele?
Seb resgatou o pódio para a Ferrari num ano ruim para o time italiano, que conseguiu apenas 11 pódios. Pior que 2015, que terminou com 3 vitórias e 16 pódios. Melhor que 2014, também sem vitórias e só com 2 pódios, o que resultou na demissão de Luca di Montezemolo e Stefano Domenicalli.
MASSA E BUTTON SE DESPEDEM
Verstappen largou com supermacios porque acreditava na possibilidade de fazer uma parada a menos e se enroscar com os líderes. Sua estratégia foi demolida por um erro nas primeiras curvas, que o fez rodar. Caiu para último e fez um corridaço, recuperando posições e cuidando ao máximo dos pneus para fazer uma só parada. Funcionou em termos. Os pneus acabaram e, ao sair com os macios, tinha voltas demais a cumprir para ser competitivo até o final.
A última corrida foi diferente para Jenson Button e Felipe Massa, pilotos muito queridos na Fórmula-1 porque sempre contribuíram para dar um toque de humanidade num universo frio e essencialmente técnico.
Massa se despediu com um nono lugar, marcando o máximo de pontos que seu Williams permitia. Na volta aos boxes, usou os acostamentos para saudar o público e ganhou muitos aplausos.
Já Button teve que abandonar a corrida por uma quebra na suspensão dianteira. Ao voltar aos boxes, foi recebido pela mãe, e o carinhoso abraço dos dois valeu por um pódio.