São muitos os pontos em comum entre Mariana Pajón, 24 anos, e Priscilla Stevaux, 22. Um deles, a paixão que surgiu na infância pelo BMX, modalidade mais radical do ciclismo e caçula entre as disciplinas olímpicas do esporte (a estreia foi em 2008, nos Jogos de Pequim). Outro, o estilo em cima da bicicleta. Tanto a colombiana quanto a paulista do interior são consideradas atletas de técnica apurada, velozes, que costumam ter desempenhos melhores em pistas mais exigentes e perigosas, com saltos mais desafiadores.
Não há apenas semelhanças, porém. Entre as duas existe, pelo menos por enquanto, o abismo entre o que já conquistaram e o recursos de que dispõem para alcançar seus sonhos.
Mariana tem 13 títulos mundiais, nove latino-americanos e dez pan-americanos. Ouro na Olimpíada de Londres-2012, é também campeã mundial. Com todas essas credenciais, fica difícil não apontá-la como favorita na Rio-2016. Não à toa, tem o apelido de “Rainha do BMX”. Sua moral é tanta que a Prefeitura de Medellín, onde nasceu, construiu uma pista neste ano, homologada pela União Ciclística Internacional (UCI), e batizou com o nome dela.
Priscilla vai disputar sua primeira Olimpíada. Para conquistar a única vaga brasileira, precisou botar dinheiro do próprio bolso. E sequer tem uma pista com padrão olímpico (de Supercross, mais rápida e com rampas maiores) para treinar. Na reta final, buscou, com participações em três Copas do Mundo, um Mundial e um Intercontinental, ganhar a experiência necessária para desafiar as melhores do mundo.
? Se você consegue entrar numa final olímpica, entre as oito melhores, a sorte é lançada. Vou estar no Brasil, em casa, a torcida será toda minha. Isso iguala tudo ? confia a sorocabana.
Na pista do Parque Radical, em Deodoro, ela sonha em duelar com, adivinhem só: Mariana Pajón, a número 1 do planeta.
? Meu melhor sempre foi a técnica de salto, ganho muita velocidade nos saltos e ao longo do percurso, diferente de outras garotas, mais fortes e explosivas na largada ? explica.
Ela gosta de estudar as adversárias, e faz a comparação com a colombiana famosa:
? O forte da Mariana sempre foi parecido com o meu, é a técnica. Meu maior sonho é disputar lado a lado com ela, na parte técnica. Vai dar uma disputa boa. É meu forte, onde eu sempre fui mais elogiada. Se a gente estiver lado a lado, de igual para igual, vai ser muito legal ? prevê, com uma risada em seguida, que denuncia o quanto Priscilla pretende se divertir com sua inédita experiência olímpica.
Para a brasileira o passo, primeiro, será classificar-se à final e depois pensar na possibilidade de uma medalha. A competição terá 16 meninas, com oito vagas disponíveis para a bateria decisiva. Entre as principais concorrentes, além de Mariana Pajón, estão a americana Alise Post e a australiana Caroline Buchanan, que têm sido bastante regulares nas últimas competições.
Diferente de Priscilla, que não hesitou em citar as rivais que considera mais duras, a campeã não quis botar azeitona na empada alheia.
? Qualquer uma ali é muito boa. Eu foco no que posso fazer, no que posso melhorar em relação aos últimos Jogos Olímpicos. Penso apenas em mim como minha maior adversária ? filosofa a rainha Pajón.