Portos do Paraná movimentam 6% a mais de cargas no acumulado do ano
Portos do Paraná movimentam 6% a mais de cargas no acumulado do ano

Em meio à suspensão temporária da Lista Nacional Oficial de Espécies Exóticas Invasoras, resultado da pressão exercida pelo setor produtivo, que incluía a tilápia brasileira, determinada pela Conabio (Comissão Nacional de Biodiversidade), ligada ao Ministério do Meio Ambiente, uma pergunta causa inquietação entre os produtores de peixes de todo o Brasil: qual seria o interesse do governo federal, leia-se o presidente Lula (PT), em inserir a tilápia nacional nessa lista, prejudicando um setor responsável pela geração de milhares de empregos e renda às famílias, principalmente do Paraná, estado considerado o maior produtor?

Para entidades do setor, a causa disso tudo seria a autorização concedida pelo Governo Lula 3 à JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, possibilitando a importação da tilápia do Vietnã, após um ano de suspensão imposta pelo governo brasileiro. A liberação consta no Despacho Decisório 379, de 23 de abril de 2025, revogando a medida cautelar adotada em fevereiro deste ano.

A presença da tilápia vietnamita no prato do brasileiro elevou a tensão no setor. Relatos dão conta de que esse produto chega a ser 40% inferior ao praticado pela cadeia de produção brasileira. O primeiro contêiner – de um total de 32 –, contendo 700 toneladas de peixes das espécies tilápia, peixe-galo e peixe-basa, deve chegar ao Porto de Santos no dia 17 de dezembro.

Risco à saúde

A cadeia produtiva de peixes teme impactos severos nos critérios de sanidade, bem como na esfera econômica e regulatória. A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe-BR) aponta diferenças práticas no cultivo da tilápia entre Brasil e Vietnã, com risco, segundo a entidade, de trazer enfermidades para o país. “Isso requer uma fiscalização reforçada”, disse a Peixe-BR, em nota enviada à imprensa. A liberação das importações cabe ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Por trás dessa abertura de mercado de tilápia para o consumidor brasileiro, há outro ponto de interesse da JBS. Em contrapartida, o país asiático aceitou ampliar a entrada de carne bovina brasileira.

Audiência em Curitiba

Em entrevista ao Jornal O Paraná, o piscicultor e presidente do Sindicato Rural de Palotina, Edmilson Zabot, classificou como “covarde” a liberação da importação da tilápia vietnamita pelo governo federal. “Foi uma troca comercial. O Vietnã compra do Brasil o couro do boi e a carne e, em troca, temos que importar o filé de tilápia com um custo muito mais baixo, sem saber do controle sanitário”, aponta. “Não sabemos sequer se há algum tipo de fiscalização da tilápia no país asiático e muito menos se existem leis ou protocolos ambientais.”

Conforme Zabot, o produtor de peixes do Brasil já “sente a pancada” dessa importação. “Alguns grandes compradores de hipermercados e distribuidoras já procuraram as indústrias do Paraná para renegociar contratos, porque o peixe de lá vem mais barato”, denuncia. Para ele, é preciso informar que o peixe do Vietnã fica entre 60 e 90 dias dentro de um contêiner congelado. “Sabe lá qual tratamento foi dado. O governo federal trocou o pé pelas mãos, sem avaliar o risco à saúde pública que isso pode trazer, em benefício de um grupo da JBS, que é o grande importador desse produto.”

Brasil é o quarto maior produtor

O Brasil é o quarto maior produtor de tilápia do mundo. No ano passado, foram 662,2 mil toneladas produzidas, 14,3% a mais em comparação com o período anterior. Isso representa 68% da atividade pesqueira nacional. As informações constam no Anuário PeixeBR 2025.

São ao menos três milhões de empregos diretos e indiretos, movimentando US$ 59 milhões em exportações no ano passado. O consumo per capita também é outro ponto a ser ressaltado. O ritmo de crescimento é de 10,3%, por conta da oferta regular.

VBP de R$ 2,2 bilhões

A piscicultura paranaense gerou um Valor Bruto de Produção de R$ 2,29 bilhões em 2024, o que significa um aumento de 10,4% em comparação ao ano anterior. O dado é do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento e mostra que o setor segue em trajetória ascendente. A tilápia representa mais de 80% do valor gerado, com produção concentrada na região Oeste do Estado. Paranaguá, por sua vez, figura como região de pesca de captura, sobretudo do camarão, seguido pelos pescados marinhos.

Entre os 27 países que compraram os peixes paranaenses em 2024, o destaque é os Estados Unidos, com 7,4 mil toneladas. Em 2023, tinham sido 4,4 mil toneladas. Os recursos que entraram no Paraná subiram de US$ 17,6 milhões para US$ 34,3 milhões. O Canadá investiu US$ 227,8 mil para comprar 95,7 toneladas em 2024. No período anterior tinham sido 20 toneladas por US$ 45,9 mil.