São Paulo – O dólar disparou nessa terça-feira (27) e fechou com alta de 1,20%, a R$ 5,6827 – no maior nível desde 20 de maio, após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrar o interesse da base do governo para avançar com as reformas. O cenário de incerteza também afetou a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, que, já influenciada pelo cenário negativo em Nova York, fechou com queda de 1,40%, aos 99.605,54 pontos, na terceira perda consecutiva.
“Não sou eu que estou obstruindo, é a base do governo”, disse Maia ao falar das reformas. “Se o governo não tem interesse nas medidas provisórias, eu não tenho o que fazer. Eu pauto, a base obstrui, eu cancelo a sessão. Infelizmente, é assim”, disse.
O parlamentar ressaltou que conversou com os partidos da esquerda sobre fazer com que a PEC da reforma administrativa possa avançar sem passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que está parada desde o ano passado. Maia encerrou a sessão de ontem sem votar as medidas provisórias e convocou nova sessão para 3 de novembro.
Em resposta, o real passou a lira turca, moeda que sofre um derretimento este mês, e teve o pior desempenho no mercado internacional, considerando uma lista de 34 moedas mais líquidas. Apesar do desempenho ruim do real, o dólar acabou recuando ante divisas fortes e de emergentes como México, Chile, África do Sul e Colômbia.
Projeções
“As preocupações fiscais persistem e os preços vão variar a depender das ações do governo nesta área”, afirma a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte. Nesse ambiente, o dólar pode ir de R$ 4,00 para mais de R$ 6,00, a depender de como fica a responsabilidade fiscal do governo. Para 2021, ela projeta a taxa entre R$ 4,80 e R$ 5,00.
O Bradesco também alertou para os riscos fiscais e vê um cenário de incerteza persistindo pela frente: “A situação das contas públicas ainda inspira cautela, já que existem riscos voluntários e involuntários de rompimento do teto dos gastos”, ressaltam os economistas do banco em relatório de revisão do cenário.
O banco leva em conta que não haverá flexibilização do teto, postergação do estado de calamidade ou eventual extensão do auxílio emergencial fora do teto de gastos, mas observa que o clima de dúvidas vai prosseguir. Com isso, o dólar deve encerrar o ano em R$ 5,40.