Cotidiano

UFRJ detecta superbactéria em praias da Zona Sul

RIO – A cada mergulho no mar, o carioca pode acabar entrando em contato com
superbactérias. E isso pode acontecer não apenas em praias comumente impróprias
para banho, como Flamengo e Botafogo, mas em Copacabana, Ipanema e Leblon, como
mostra estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentado
ontem em evento científico na instituição. A pesquisa identificou a presença de
Klebsiella pneumoniae Carbapenemase (KPC) nesses locais.

Para o estudo, foram coletadas dez amostras de água em
cinco praias, entre setembro de 2013 e setembro de 2014, em pontos onde o
Instituto Estadual do Ambiente (Inea) recolhe material para aferir a
balneabilidade. A análise dos dados só foi concluída no fim de maio deste ano. A
KPC é encontrada principalmente em ambiente hospitalar e, segundo especialistas,
não causa danos imediatos à saúde de pessoas saudáveis. Porém, em indivíduos com
o sistema imunológico debilitado pode provocar infecções pulmonares e urinárias
e até levar à morte.

SEM PARÂMETROS

Em 2014, a UFRJ divulgara outra pesquisa, com coleta
feita em fevereiro de 2013, apontando KPC no Flamengo e em Botafogo. Os
resultados levaram à ampliação dos estudos. No trabalho mais recente, a taxa
média no Leblon foi de 3,4 Unidades Formadoras de Colônias (UFC) a cada 100
mililitros de água; 2,2 UFC, em Ipanema; 0,02 UFC em Copacabana; 3,9 no
Flamengo; e 1.091 em Botafogo.

O microbiologista e médico Rafael Duarte, professor da
UFRJ, diz que não existe padrão para a presença de superbactérias em água de
recreação:

? Em todo lugar existirá bactéria. Mas a quantidade de
superbactérias no mar deveria ser zero. A presença delas significa um grave
problema de saúde pública. E pode estar relacionada a esgoto hospitalar.

Para a professora do Instituto de Microbiologia da UFRJ e
coordenadora da pesquisa, Renata Picão, o resultado indica que a falta de
saneamento ainda é um problema no Rio. Para ela, são as ligações clandestinas de
esgoto nos rios, que desembocam nas praias e na Baía de Guanabara, que causam
esse cenário. Segundo ela, a coleta dos dados foi feita até 2014, mas nada
indica que o resultado seria diferente hoje, mesmo com a construção de galerias
de cintura na Lagoa e na Marina da Glória:

? O trabalho mostra que há um risco, relacionado à falta de saneamento.

O engenheiro sanitarista Dario de Andrade Prata Filho, professor da UFF,
concorda:

? Galerias de cintura só captam o esgoto jogado clandestinamente em galerias
de águas pluviais em tempo seco. Em dias de chuva, não há como fazer a captação.
Existe uma passagem para o material sair.

O infectologista Edmilson Migowski, presidente do
Instituto Vital Brazil, também acha pouco provável que o cenário tenha mudado,
?mas tudo depende da poluição que chega ao mar?.

O Inea informou que segue a legislação federal, que não
determina a análise de superbactérias, e que ?não há estudos científicos
suficientes que correlacionem a contaminação de bactérias tipo KPC dentro do
ambiente aquático?. Além disso, ?os estudos atuais correlacionam os riscos de
contaminação no ambiente hospitalar?.