Cotidiano

Relator da CCJ defende que plenário não altere pena aprovada pelo Conselho de Ética

BRASÍLIA ? O deputado Arthur Lira (PP-AL), relator da consulta que poderá beneficiar o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na votação do processo de cassação no plenário da Câmara, defendeu, nesta quinta-feira, que apenas a punição aprovada pelo Conselho de Ética, nos processos por quebra de decoro parlamentar, seja submetida ao plenário. Se o conselho aprovar uma pena mais branda para Cunha, só ela irá a voto e, mesmo que não obtenha maioria, o plenário não poderá votar a pena de cassação. Os aliados de Cunha sabem que, com o voto aberto, será muito difícil evitar sua cassação pelo plenário. A decisão sobre o assunto será tomada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Lira afirmou que está finalizando o relatório e que deverá entregá-lo à CCJ ainda esta semana, para que a consulta seja pautada na próxima terça-feira. O relator disse que ainda analisa tecnicamente a questão, mas a tendência é responder que o que vai à voto no plenário é o projeto de resolução com a indicação da pena e não o relatório completo.

O deputado também deve dizer que não cabem emendas, nem para aumentar, nem para reduzir a pena aprovada pelo Conselho de Ética. E, se a recomendação do conselho não obtiver os 257 votos sim para ser aprovado, o processo vai para o arquivo. No caso de Cunha, se os aliados dele conseguirem aprovar no conselho uma pena mais branda, o plenário não poderia votar a representação que pede a cassação do mandato de Cunha.

? Ou é cassação ou absolvição, ou é suspensão ou não suspensão. O que vai a voto é o que for aprovado no Conselho, o órgão colegiado específico. Se não, para que serve o conselho? É uma questão técnica, dúvida sobre como proceder no plenário. Mas ainda estou avaliando ? disse Lira.

O deputado, que é amigo de Cunha, diz que é uma discussão técnica e que apenas apresentará o relatório. A decisão será tomada pelos deputados da CCJ. O entendimento sinalizado por Lira não é consensual. Deputados da CCJ afirmam que é o que estará em debate é se o Conselho de Ética tem ou não poder de limitar o julgamento em plenário.

Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), o plenário é sempre soberano. Ele afirma que o conselho é um órgão opinativo, mas que a decisão final será sempre do plenário. E que a dúvida surgiu depois que Código de Ética foi alterado e houve a inclusão de penas alternativas mais brandas que a cassação.

? É claro que a decisão sobre cassação é do plenário. Se o plenário não quiser uma pena alternativa, a representação que pede a cassação deve ir a voto. Isso já foi objeto de questão de ordem, e a decisão foi de que a representação tem que ser submetida ao plenário ? disse Alencar.

Opositores de Cunha consideram que a consulta, apresentada por aliados do presidente afastado, é mais uma manobra para tentar livrá-lo do risco de ter o mandato cassado em plenário. A consulta foi feita pelo deputado Wellington Roberto (PR-PB), aliado de Cunha, enviada à CCJ pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que tem dado decisões favoráveis ao presidente afastado e tem Lira, amigo de Cunha, como relator. O parecer aprovado pela CCJ é opinativo. Pode ser referendado, pelo presidente da sessão, durante a votação. Mas, cabe recurso dessa decisão, e o apoio de 171 deputados permite que a decisão seja submetida ao plenário.

Aliados de Cunha ainda avaliam a oportunidade de votação da consulta na CCJ, aguardando o resultado da votação no Conselho de Ética, marcada para a próxima semana, do parecer de Marcos Rogério, que pede a cassação do mandato de Cunha. Eles continuam pressionando o presidente afastado a renunciar à presidência, o que facilitaria a aprovação de uma pena alternativa mais branda. Cunha, segundo eles, continua resistindo e não admite renunciar ao cargo.

No Conselho de Ética, nem os opositores de Cunha, nem os aliados têm certeza do resultado da votação do relatório que pede a cassação na próxima semana. Foram feitas mudanças no conselho, mas segundo os deputados o voto considerado uma incógnita é o da deputada tia Eron (PRB-BA). A deputada substituiu Fausto Pinato (PRB-SP), relator que votou pela admissibilidade do processo e foi destituído do cargo por recurso de Cunha contra os procedimentos.

Pinato votou contra Cunha no parecer preliminar, que dava andamento ao processo, empatando a votação e permitindo que o presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PR-BA) votasse, desempatando a favor da continuidade do processo. A deputada Tia Eron é reservada e, mesmo com os colegas de conselho, não revela seu voto.

Nos bastidores, muitos acreditam que ela poderá ajudar Cunha, outros lembram que a votação neste sentido poderá prejudicar campanhas municipais, do partido, principalmente a candidatura de Celso Russomano (SP) à prefeitura de São Paulo. A pressão sobre ela vem de ambos os lados. Mas, a deputada tem dito que irá analisar todos os dados e decidirá na hora certa.

A cada dia que passa, com a pressão forte da opinião pública contra Cunha e seu afastamento da presidência e do mandato, começa a diminuir o número de aliados que se dispõem a se expor e defendê-lo publicamente. A chamada ?tropa de choque? de Cunha no Conselho perdeu esta semana o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), que renunciou à vaga de suplente. Segundo os colegas, ele precisou sair para se dedicar a campanha nas eleições municipais.

Na sessão de quarta-feira, onde foi feita a leitura do parecer de Marcos Rogério, apenas o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) voltou, no final, para defender que o julgamento de Cunha tem que se ater ao que ele disse na CPI e que as demais acusações serão julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. Marun minimizou o fato de outros aliados terem deixado a sessão sem se pronunciar.

? A sessão demorou muito. A discussão acontecerá na próxima semana. É nela que vamos ver como cada um irá se posicionar. Vamos tentar derrotar o parecer do Marcos Rogério. Ele omitiu informação, mas, a pena de cassação é uma pena de morte para um político. Defendo uma pena alternativa ? disse Marun, acrescentando:

? Não acredito que ele (Cunha) esteja perdendo voto.