Cotidiano

Presidente angolano nomeia filha bilionária chefe da estatal de petróleo

2016 913706987-201606030740300461_AFP.jpg_20160603.jpgLUANDA ? O presidente da Angola, José Eduardo dos Santos, indicou a folha empresária para ser chefe da empresa Estatal de energia Sonangol em uma reviravolta que cimenta a dinastia no poder da maior exportadora de petróleo da África. Classificada pela revista Forbes como a mulher mais rica do continente, Isabel dos Santos se tornou executiva máxima da companhia com a demissão do quadro dirigente da petroleira por meio de um decreto presidencial. Em abril, o país anunciou que reestruturaria a Sonangol para aumentar a eficiência e a lucratividade da empresa, que sofreu com a interrupção de fornecimento em meio a ataques de militantes na Nigéria.

A venda de petróleo significa 90% dos rendimentos da Angola no comércio internacional, o que faz da Sonangol, de longe, a maior fonte de dólares e financiamento do Estado. Colocar a mulher de 43 anos no comando poderia significar que Dos Santos falava sério sobre as reformas, mas também poderia ser considerada uma concessão à família do líder angolano há 36 anos a fim de controlar o pilar central da economia do país quando deixar o posto. O filho dele, Jose Filomeno, é chefe do Fundo Soberano angolano.

? Sonangol sempre foi vista como uma das mais eficientes companhias de petróleo nacionais, mas a governança escorregou consideravelmente na última década em meio a problemas nos quais fatores políticos influenciaram em grande parte ? disse o analista de energia da África Antony Goldman. ? Ela não é engenheira nem uma especialista em energia, mas é alguém com histórico de fazer cumprir acordos e negociações.

Educada em Londres, Isabel nega qualquer ambição política e diz que começou sua carreira de empresária aos seis anos, quando vendia ovos. Ela tem sido uma grande investidora em empresas de telecomunicações angolanas e portuguesas e nos setores bancário e petroleiro.

? O caso pode certamente ser entendido que é um movimento político em que o presidente reforça o seu controle ? explicita Cobus de Hart, analista da NKC African Economics na Cidade do Cabo. ? Mas a notícia de que firmas de consultoria globais vão colaborar na estratégia de reforma é, pelo menos, um passo na direção certa.

Um banqueiro de Joanesburgo disse que a indicação do presidente poderia dificultar os negócios entre bancos estrangeiros e a Sonangol, a partir da percepção criada de nepotismo na empresa. Em fevereiro, a companhia angolana declarou que a dívida com empresas internacionais de petróleo havia aumentado e que a corporação esperava um ano difícil. A Angola importa cerca de 6 milhões de metros cúbicos ao ano de produtos refinados, de acordo com estatísticas nacionais.

Dos Santos, um dos chefes de Estado mais longevos da África ao ostentar o poder desde 1979, disse em março que pretendia deixar o posto de presidente em 2018. Não deu, no entanto, motivo para a decisão nem mencionou um nome que o sucederia. Seu comportamento suave e indecifrável contrapõe a força com que comanda a ex-colônia portuguesa, onde supervisionou uma economia centrada no petróleo e um boom da construção para reconstruir, a partir de 2002, o país após a devastadora guerra civil de 27 anos no território.

Críticos acusam o mandatário de 73 anos de administrar mal a riqueza proveniente do petróleo e de criar em Angola uma elite, basicamente composta por seu família e seus aliados políticos, vastamente rica e classificada como uma das mais corruptas do mundo. Dos Santos, que raramente aparece em público ou concede entrevista, disse em 2009 que sua gestão cultivava ?tolerância zero? para práticas corruptas.