Cotidiano

?O governo deve enfrentar os desajustes econômicos antes que se agravem?

Online - Pedro Malan.jpgO Brasil não pode ficar à deriva até outubro de 2018, na expectativa de que só em janeiro de 2019 o novo governo tenha um programa de combate à inflação, retomada do crescimento e ajuste da desordem fiscal. A afirmação foi feita pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, na última terça-feira, no ?Edição Especial?. O encontro, promovido pelo jornal O Globo, discutiu os cenários futuros do Brasil após o processo de impeachment, que passou o comando do país ao presidente interino, Michel Temer.

A iniciativa teve patrocínio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

? Há problemas que parecem longínquos, mas na verdade não são. Têm que ser enfrentados agora, antes que se agravem. O custo será tanto maior quanto mais se demora a encontrar soluções ? disse Malan.

O ex-ministro chamou a atenção para a urgência de o governo buscar saídas para resolver o rombo fiscal do país, cujo déficit é de R$ 170,5 bilhões para este ano, ressaltando que as medidas devem ser graduais, mas precisam levar em conta as ?urgências no gradualismo? e caminhar no sentido de dar início a um esforço de austeridade.

Responsável pela condução da dívida externa brasileira entre 1992 e 1993 e pela equipe que lançou o Plano Real de estabilização macroeconômica, em 1994, o ex-ministro afirmou que o segredo para se conseguir domar os desajustes econômicos chama-se ?equipe?.

? O Brasil é complexo demais para colocar todas as suas expectativas em um salvador da pátria, um messias. A solução é uma boa equipe ? afirmou.

Embora haja dificuldades na área política, o presidente interino, Michel Temer, conseguiu montar uma equipe de peso e credibilidade na área econômica, ressaltou Malan, destacando Henrique Meirelles (Fazenda), Ilan Goldfajn (Banco Central), Pedro Parente (Petrobras), Maria Silvia Bastos Marques (BNDES) e José Serra (Relações Exteriores). Este último, na opinião do ex-ministro, mudará uma política externa que ?apequenou o Brasil?.

Segundo ele, parte dos desequilíbrios da economia estão sendo vencidos, embora à custa de recessão e desemprego. E enfatizou que, para restaurar a confiança interna e externa, estabelecendo o consumo e os investimentos, é preciso resolver o desequilíbrio fiscal. A baixa produtividade da economia é outro nó a ser desatado.

A questão foi abordada nos debates pelo economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, que perguntou ao ex-ministro como fazer as reformas, minimizar a recessão e evitar o aumento de impostos, uma vez que a falta de dinheiro circulando na economia gera desemprego e fechamento de empresas. Segundo Carlos Thadeu, somente no ano passado 100 mil lojas do comércio foram fechadas no país.

Malan disse que não tem dúvidas de que a economia voltará a crescer, mas mostrou preocupação com a velocidade e o custo desse processo, citando o desemprego elevado, a perda de poupança e a falência de milhares de empresas.

O ex-ministro apontou três questões prioritárias para o Brasil: a reforma da Previdência, pressionada pela mudança do perfil demográfico do país; investimentos em educação ? segundo a Avaliação Nacional da Alfabetização, feita pelo governo em 2014, é péssimo o desempenho das crianças de até 8 anos do ensino público em leitura, escrita e matemática ? e, por fim, a perda de substância dos partidos, que leva ao ceticismo da população com os políticos e torna as coisas ainda mais difíceis.

Realizados no espaço da Maison de France, no Centro do Rio, os debates do ?Edição Especial? foram conduzidos pelos colunistas Miriam Leitão (economia) e Merval Pereira (política), com mediação de Pedro Doria.

Participaram também o diretor de Redação de O Globo, Ascânio Seleme, os colunistas Ancelmo Gois, Jorge Bastos Moreno, Lauro Jardim e Ricardo Noblat, além dos editores Alan Gripp (País), Flávia Barbosa (Economia) e Sergio Fadul (chefe da sucursal de Brasília).