CORBÉLIA

Fossas esquecidas: Um buraco perigoso no meio do caminho

Descubra os impactos de fossas inadequadas na infraestrutura de uma cidade. Conheça os riscos para a saúde e o meio ambiente - Foto: Prefeitura de Corbélia
Descubra os impactos de fossas inadequadas na infraestrutura de uma cidade. Conheça os riscos para a saúde e o meio ambiente - Foto: Prefeitura de Corbélia

Corbélia - Uma cidade desenvolvida tem a oferecer à sua população a infraestrutura básica que vai desde a produção de água, energia elétrica e saneamento até a rede de saúde e educação. Uma prática bastante comum e não tão distante, há apenas algumas décadas atrás, tem causado preocupação e deixando uma pulguinha atrás da orelha de muitos moradores, principalmente no município vizinho de Corbélia, onde um incidente nada peculiar deixou a cidade estarrecida com a forma em que aconteceu.

No fim da tarde do dia 26 de dezembro, um buraco – literalmente – se abriu no meio da cozinha de uma família bastante conhecida e querida da cidade. O acidente matou a mãe Ercília Soares, de 70 anos e a filha Elisandra Pereira da Silva, de 50 anos – que caíram no buraco de pelo menos 10 metros de profundidade de uma fossa desativada, bem no meio da cozinha. Desde então, a casa foi interditada e ainda não se sabe se ela será ou não demolida.

Neste domingo vai completar um mês da tragédia, mas o Município ainda aguarda um laudo pericial e do setor de engenharia para definir qual será a ação a ser tomada, já que – dependendo do laudo – a casa pode ser demolida ou ficar condenada. Na cidade, que tem 77% de cobertura com rede de esgoto, os moradores comentam que mãe e filha receberam por diversas vezes propostas para vender o terreno que tem bom valor comercial, mas que se recusavam, já que estariam guardando suas economias para reformar o imóvel.

Foto: Prefeitura de Corbélia

Cidade dos buracos

O fato é que a cidade que já passou por um problema parecido, já que em 2015 – também no mês de dezembro – uma cratera se abriu em uma rua da cidade, passou a ser uma preocupação de muitos moradores que buscaram ajuda do Poder Público com medo de acontecer o mesmo desastre. E quando o interesse é urgente, a coisa acontece: a lei foi logo encaminhada e aprovada pelos vereadores em três sessões extraordinárias.

No dia 16 de janeiro, o atual prefeito Thiago Stefanello sancionou uma lei que garante a doação de terra para que os moradores possam desativar as fossas e até poços artesianos esquecidos. Até agora, 12 famílias já receberam a terra e outras 10 famílias estão aguardando a entrega da terra que está sendo doada por agricultores com apoio da Prefeitura, que faz o transporte de forma voluntária.

A identificação de um possível buraco escondido é responsabilidade do dono do imóvel, e em alguns casos o local da tal fossa chamou a atenção. Na casa de uma moradora, a fossa estava bem na sua lavanderia que teve de ter o chão quebrado para consertar, mas ainda tem casos que ficam no quintal e até no jardim das residências.

Foto: Prefeitura de Corbélia

Fossa deve ser desativada

A capital do Oeste está chegando a 100% de rede coletora de esgoto e, segundo a Sanepar, quando a rede é instalada os moradores precisam fazer a ligação na rede que passa em frente à sua casa e fazer o fechamento correto da fossa que antes existia na residência, trabalho que é de responsabilidade do dono do imóvel e claro, de forma correta, já que deve seguir as normas da ABNT para garantir que ela seja fechada de forma correta, já que existe o benefício do esgotamento sanitário, melhoria da qualidade de vida da população e meio ambiente – já que a fossa atrai vetores, como baratas e outros tipos de insetos.

Quatro tipos de fossa

Valdir da Cruz de Oliveira é engenheiro e explica que existem quatro tipos de fossa, que é parte de um sistema de tratamento de esgoto, ou seja, ela pode ser fossa seca, fossa séptica, fossa absorvente e uma fossa negra – que é proibida no Brasil. Da forma técnica, ele disse que no caso de tratamento de esgoto doméstico é a fossa séptica, composta pelo processo primário, que faz todo o processo até o material ir para o sumidouro.

Já o tamanho, segundo o engenheiro, a fossa deve ser dimensionada de acordo com os dejetos que serão armazenados ou nela tratados, isso varia muito de acordo com a quantidade de moradores na residência ou de pessoas no comércio, um cálculo dependendo de diversos fatores, mas atualmente ela não pode ter mais de três metros de profundidade, bem diferente de anos atrás quando as perfurações eram bem maiores.

Só terra

Oliveira explicou ainda que existe uma maneira correta de se fechar uma fossa, que tem que ser drenada e o produto sugado com caminhão de autofossa e no buraco deve ser jogado somente terra. “Não pode ser jogado nenhum outro produto, resto de entulho, resto de madeira, porque são materiais diferentes, já que isso pode gerar uma decomposição de forma não homogênea”, detalhou.

Ocorre que a decomposição pode deixar espaços vazios e, consequentemente, trazer problemas de desmoronamento ou de emissão de gás, porque toda a matéria orgânica na decomposição gera gás e emite gás, entre eles, o sulfito, gás metano, sulfeto de hidrogênio e são gáses asfixiantes e gáses explosivos. “Com isso, além do risco de desmoronamento, existe o risco de explosão quando uma fossa é fechada de forma inadequada, por isso, é importante seguir os processos corretos”, detalhou.

Feito por profissional

Como o assunto é sério, o engenheiro reforçou que o processo deve ser feito de maneira correta, com um especialista ou uma empresa especializada atendendo às leis municipais e às normas existentes. “A norma diz que se ela for fechada de forma correta, a partir de 60 dias você já não tem mais vestígio, o externo já está acomodado, você pode fazer um acompanhamento e pode ser utilizado em cima sem problema nenhum”, finalizou ele.

Foto: Prefeitura de Corbélia