Cotidiano

Democratas escalam Hillary para confrontar Trump

Com projeções de fotos de pioneiras do movimento feminista, Hillary Clinton celebrou na noite de terça-feira uma conquista histórica nas primárias de Califórnia, Nova Jersey, Novo México e outros estados americanos: pela primeira vez uma mulher obteve o número suficiente de delegados para disputar a presidência dos EUA por um grande partido ? o Democrata. E a vitória não poderia ter ocorrido em melhor momento, quando a campanha do rival republicano, Donald Trump, vive mais uma crise interna provocada por suas bravatas de cunho racista.

No mesmo dia em que Hillary alcançou a cota mínima de delegados, Trump enfrentava uma chuva de críticas, inclusive de altos membros do partido, como Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes, e o senador Mark Kirk, que anunciou que desistiu de votar no histriônico empresário. Trump acusou o juiz Gonzalo Curiel, que analisa uma ação contra a Universidade Trump, de ser tendencioso contra ele por ter origem mexicana. ?Dizer que uma pessoa não pode fazer seu trabalho devido à sua raça é o equivalente à definição de manual de um comentário racista?, criticou Ryan.

Por ora, analistas são unânimes em afirmar que a candidata democrata tem excelentes chances de derrotar o oponente, apesar do apelo popular de Trump em muitos segmentos da sociedade americana, graças a um discurso que promete restituir a grandeza dos EUA. O temperamento do republicano preocupa os aliados. O senador Kirk justificou sua decisão de não votar mais em Trump, pois ele ?não demonstrou possuir o equilíbrio necessário para assumir o maior emprego do mundo?.

Apesar do bom momento, os desafios de Hillary são enormes, como ela própria reconheceu em seu discurso de agradecimento, no qual reafirmou que sua tarefa será unificar o partido em torno de sua candidatura. Será preciso, no entanto, convencer o rival, o senador Bernie Sanders, que, mesmo derrotado, prometeu continuar em campanha até o fim. Com relação a Trump, assessores da democrata dizem que a estratégia é seguir a velha regra da política americana: quando seu oponente está se autodestruindo, basta dar corda.

Trump, por sua vez, convidou ontem os eleitores de Sanders, insatisfeitos com o sistema político americano, a aderir à sua campanha, já que ele é também um candidato antiestablishment, embora à direita. Analistas, porém, acreditam que as diferenças entre Sanders e Trump são bem maiores e mais difíceis de superar do que as existentes entre os dois pré-candidatos democratas.

Ao que parece, o maior desafio para Hillary para se sair vitoriosa em novembro será, como sempre, a economia, que, apesar de ter se recuperado da pior crise desde 1929, ainda não está em terreno firme.