
O Instituto Brasileiro dos Feijões e Pulses – Ibrafe, dedicado ao apoio à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à comercialização de diferentes variedades de feijão, recomendou que federações de agricultura dos estados do Sul e cooperativas agrícolas iniciem imediatamente o processo de solicitação de recursos governamentais.
Em entrevista ao Jornal O Paraná, o presidente do Ibrafe, Marcelo Lüders, relata que o objetivo é o de financiar a formação de estoques reguladores de feijão‑preto, medida considerada fundamental para conter a volatilidade de preços no mercado interno, diante da proximidade dos valores atuais com o preço mínimo oficial de R$ 152,91 por saca para a safra 2024/25.
O feijão é base da alimentação de cerca de 200 milhões de brasileiros e integra a cesta básica nacional, reforçando a importância de medidas que assegurem sua oferta estável. A constituição desses estoques reguladores tem dupla finalidade: adquirir feijão‑preto de produtores quando a oferta está elevada, evitando quedas abruptas de preços, e liberar gradualmente essas reservas em períodos de escassez, assegurando o abastecimento e remunerando adequadamente os agricultores.
De acordo com o Ibrafe, essa estratégia contribui para fortalecer a confiança no ciclo agrícola e para mitigar oscilações de custos aos consumidores. Em 2024, a produção nacional de feijão‑preto somou cerca de 1,5 milhão de toneladas, mas custos elevados de fertilizantes afetaram a produtividade em diferentes regiões. Além disso, o Ibrafe sugere que as compras governamentais voltadas a programas de alimentação escolar, cestas básicas, ajuda humanitária, unidades militares e presídios priorizem o feijão‑preto em vez do feijão‑carioca. “Enquanto o feijão‑carioca registra cotações mais elevadas, há excedente de feijão‑preto em várias regiões do país, o que torna vantajoso social e economicamente concentrar as aquisições públicas nessa variedade, aliviando o orçamento sem comprometer a oferta”, declarou Lüders.
Preço mínimo de R$ 152,91
O preço mínimo de R$ 152,91 por saca foi definido com base nos custos médios de produção apurados em levantamentos governamentais. Para levar adiante essa proposta, o Ibrafe acionará a Câmara Setorial do Feijão, fórum oficial que reúne representantes do setor produtivo, instituições de pesquisa e órgãos públicos. A recomendação seguirá para a Companhia Nacional de Abastecimento, responsável por políticas de compra, estocagem e comercialização regulada. O instituto ressalta que, desde a desvinculação administrativa da Conab do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, são necessários esforços políticos adicionais para implementar medidas emergenciais.
Como complemento às ações domésticas, o Ibrafe destacou que as exportações de feijão‑preto atingiram 17 mil toneladas no período recente, volume recorde para a variedade. No entanto, conforme relatos de produtores, essa demanda externa ainda não foi suficiente para absorver o excedente interno e elevar os preços. “Existem preocupações com projeções de cotações abaixo de R$ 150 por saca para a próxima safra”, afirmou.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, os principais destinos do feijão‑preto brasileiro são Paraguai, Uruguai e países africanos. No segmento do feijão‑carioca, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada registrou preços médios de R$ 210 por saca em Minas Gerais e R$ 205 em Mato Grosso.
O Cepea observa que, apesar do avanço acelerado da colheita em algumas regiões, a oferta limitada de grãos de alta qualidade e a postura cautelosa da indústria devem sustentar, ainda que levemente, as cotações no curto prazo. Produtores consultados pelo Cepea relatam que mantêm em câmaras frias seus lotes de melhor qualidade, mas afirmam que a necessidade de liquidez para custear insumos e preparar a próxima safra tem levado à venda de grãos de qualidade inferior, pressionando os preços. De acordo com relatório da Conab, até 5 de abril, 77,1% da área plantada na primeira safra 2024/25 havia sido colhida, ritmo alinhado com médias históricas, mas sujeito a variações climáticas nos próximos meses.