A declaração do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, de que a gigante do varejo deixaria de comprar carne dos países do Mercosul, mexeu com o setor produtivo de proteína animal do Brasil.
Em entrevista concedida nesta quinta-feira à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o presidente da Padrão Beef, Lindonez Rizzotto, classificou a declaração como “devaneio e sem conhecimento de causa”. Segundo ele, nenhum país do mundo tem um tratamento tão respeitador como o Brasil. “Além do que, a alimentação é balanceada segundo as melhores dietas ricas em fibras e energia”. No entendimento de Lindonez, a fala se deve à pressão dos produtores franceses, que se sentem ameaçadas e estão perdendo competitividade no mercado global.
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) encaminhou nota à Redação sobre seu posicionamento diante da polêmica declaração: “A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) lamenta a infeliz e infundada declaração do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, em nota publicada na rede social X em que se utiliza de argumentos equivocados ao dizer que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês. A argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado – o que se faz por meio da complementaridade, com produtos de alta qualidade e que atendam a todos os critérios determinados pelas autoridades sanitárias dos países importadores, como é o caso da proteína brasileira. A manifestação de Bompard foge à lógica de uma organização global, com forte presença no Brasil, que deve atuar dentro dos princípios da competitividade e respeito ao livre mercado. Por fim, a ABPA lembra que o protecionismo é, também, uma atitude de desrespeito aos princípios de sustentabilidade. Ao impulsionar o bloqueio injustificado a produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, o Senhor Bompard coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas”, diz a nota da ABPA.
O CEO do Carrefour compartilhou uma carta dirigida ao presidente dos sindicatos agrícolas da França, Arnaud Rousseau, por meio de uma publicação em suas redes sociais.
Na mensagem, ele afirma que, em apoio aos agricultores franceses diante da proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, a rede de varejo pretende formar uma aliança com o setor agrícola e se compromete a não comercializar carne proveniente do Mercosul.
Mercosul reage
A Farm (Federação das Associações Rurais do Mercosul), divulgou uma nota de repúdio, assinada por Gedeão Pereira, presidente da federação e vice-presidnte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). A nota representa as entidades da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai.
“Embora decisões comerciais sejam competência interna das empresas, a postura pública do CEO do Carrefour, ao transformar uma política de compras em palco para questionamentos infundados, ultrapassa os limites aceitáveis”, afirma o documento. A FARM avalia a decisão como um ataque direto à credibilidade do setor agropecuário do Mercosul e à sua contribuição para a segurança alimentar global.
O Mato Grosso, que detém o maior rebanho bovino do País, com 34 milhões de cabeças, também se manifestou sobre o assunto, por intermédio da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso). Para a associação, países como a França criam “barreiras fantasmas” para reduzir a capacidade produtiva de seus principais concorrentes.
“A solução encontrada por esses países, principalmente a União Europeia e nitidamente a França, foi criar a ‘Lei Antidesmatamento’ para nos impor regras que estão acima do nosso Código Florestal. Ora se temos uma lei, que é a mais rigorosa do mundo e a cumprimos à risca qual o motivo de tanto teatro? A resposta é que a incapacidade de produzir alimentos em quantidade suficiente e também a incapacidade de lidar com seus produtores faz com que joguem o problema para nós”, diz nota da Acrimat.
O Carrefour França informa que a medida anunciada se aplica apenas às lojas na França. Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise.
Paraná encerra colheita de cevada, última cultura de inverno, com 286 mil toneladas
As condições climáticas ajudaram nesta última semana e a colheita de cevada da safra de inverno 2023/24 está encerrada no Paraná. A estimativa atual indica produção de 286 mil toneladas, superando em 8% as 265,4 mil toneladas do ciclo anterior. A regional de Guarapuava, ainda que tenha plantado área inferior à de Ponta Grossa, manteve a hegemonia na produção do cereal.
Esse é um dos assuntos do Boletim de Conjuntura Agropecuária preparado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento.
A cevada foi cultivada em 78 mil hectares do Paraná, área 7% inferior aos 83,5 mil hectares semeados no período 2022/23. Mesmo com a produção superior à desse período, as 286 mil toneladas ficaram aquém da estimativa inicial de produção, que era de 340 mil toneladas, resultado das condições de tempo não favoráveis durante o desenvolvimento das plantas.
Praticamente 30% do que foi colhido no ano passado teve como destino a ração, em razão das chuvas excessivas. Isso limitou a oferta de cevada paranaense para as indústrias. Em consequência, a importação alcançou 363 mil toneladas até outubro deste ano. O volume supera em muito as 165 mil toneladas importadas no ano todo de 2023.
Soja
O boletim registra ainda que nos primeiros dez meses deste ano as exportações paranaenses do complexo soja tiveram aumento de 11,7% comparado com o mesmo período de 2023. Foram 15,1 milhões de toneladas ante 13,5 milhões de toneladas. A exportação da soja em grão apresentou o maior crescimento, seguido do farelo. Em relação à safra, as perspectivas são de boa produção, com possibilidade de se atingir mais de 22 milhões de toneladas. No campo o plantio dos 5,8 milhões de hectares se aproxima do fim. As lavouras já plantadas apresentam bom desenvolvimento.