Agronegócio

Embargo entra em vigor e põe exportações em xeque

Toledo – A proibição de importação de carne de frango de 20 frigoríficos brasileiros pela UE (União Europeia) que entra em vigor hoje traz apreensão ao setor produtivo regional. É que, dessas unidades, 12 pertencem à BRF, incluindo a unidade de Toledo, que passa a adotar férias coletivas aos funcionários de parte do setor de aves já no próximo mês. Mas na lista do embargo existem outras unidades da região (veja relação abaixo).

A decisão tomada pela Comissão Europeia em abril depois da terceira etapa da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, tinha como objetivo investigar denúncias de fraudes cometidas por empresários e fiscais agropecuários federais, especialmente quanto à presença de salmonela na carne de frango.

Como o embargo foi anunciado ainda em abril, o setor se articulou para tentar minimizar os impactos. Enquanto o governo federal tenta suspender o embargo, no campo houve maior intervalo nos alojamentos de aves e, consequentemente, menor renda para os avicultores. O setor também espera do governo federal outras ações de incentivo ao setor, como aumento no consumo interno.

Para o economista do Sistema Faep Jefrey Kleine Albers, o segmento é hoje um dos mais afetados do ponto de vista financeiro, em se tratando de pecuária, ao lado da suinocultura, que enfrenta problemas com o alto custo de produção e o mercado menos aquecido.

Dívidas

Por essa razão, esses pecuaristas encontram ações facilitadas no maior agente financiador do agronegócio para a prorrogação das dívidas. O Manual do Crédito Rural indica os prazos e os procedimentos burocráticos para isso, que geralmente depende de laudos técnicos, comprovantes de frustrações ou longos períodos de preços baixos. Depois o produtor deve apresentar um cronograma com sua capacidade de pagamento que será analisado pelo agente financiador. No caso da avicultura, por exemplo, como esse cenário está amplamente conhecido, o avicultor com dificuldades de pagamento tem feito apenas o protocolo pedindo a renegociação das dívidas. A tendência é para que essa procura cresça ainda mais a partir de agora.

Exportações

Além desses problemas, outro impacto já certo é o de queda nas exportações. De janeiro a abril deste ano o volume de vendas externas do oeste paranaense – onde mais de 70% de suas transações internacionais estão relacionadas à avicultura – manteve crescimento perante o mesmo período de 2017. Isso porque o que foi vendido, sobretudo no mês passado, inclusive antes do anúncio do embargo, correspondia a contratos antigos, de vendas feitas ainda no fim de 2017 e no começo deste ano. “Então o maior impacto nas exportações [para o oeste do Paraná] certamente virá neste mês de maio e em junho”, alerta.

A Operação Trapaça e a Decisão da União Europeia

Este momento de embargo vivido pelo mercado brasileiro está diretamente associado à Operação Trapaça, que correspondeu à terceira fase da Carne Fraca e que teve justamente como alvo a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. O grupo é investigado por fraudar resultados de análises laboratoriais relacionados à contaminação pela bactéria Salmonella pullorum. Em nota, a BRF negou riscos para a saúde humana.

Com a limitação da exportação para o mercado europeu, a expectativa é de que aumente a oferta no mercado interno, o que tornará o frango mais barato momentaneamente para o consumidor brasileiro. Por outro lado, não estão desconsideradas as demissões no segmento.

As vendas para a União Europeia já vinham apresentando quedas. De acordo com o Ministério da Agricultura, no ano passado, o Brasil exportou 201 mil toneladas para o bloco. Em 2007, chegou a exportar 417 mil toneladas, que, em valores correspondem a US$ 765 milhões em frango.

Projeção feita recentemente pela Abpa (Associação Brasileira de Proteína Animal) indica que o embargo da União Europeia ao frango brasileiro deverá gerar, neste ano, perda de 30% sobre o total do produto exportado pelo Brasil para o bloco, que é composto por 28 países. A decisão de embargo terá impacto em 20 plantas exportadoras (unidades de produção) de nove empresas.

De acordo com a Abpa, o Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. Ao longo de quatro décadas, o País embarcou mais de 60 milhões de toneladas de carne de frango, em mais de 2,4 milhões de contêineres para 203 países.

No fim do mês passado, os ministros da Camex (Câmara de Comércio Exterior) autorizaram por unanimidade o início das tratativas de abertura de contencioso na OMC (Organização Mundial do Comércio), contestando barreiras impostas pela União Europeia à carne de frango brasileira. A Camex argumenta que, apesar de a comunidade europeia argumentar tratar-se de questão sanitária, bastaria aos frigoríficos brasileiros pagarem uma tarifa de 1.024 euros por tonelada e mandarem tudo como carne in natura, produto que entra no bloco sem problemas sanitários.