Londrina – Cautela e pesquisas. Essa é a síntese das conclusões que chegaram os mais de 100 técnicos, pesquisadores e produtores que participaram de reunião esta semana em Londrina para discutir a ocorrência da estria bacteriana em lavouras de milho no Paraná. O encontro foi promovido pelo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná).
Até agora desconhecida no Brasil, a doença – causada pela bactéria Xanthomonas vasicola pv. vasculorum – foi detectada em lavouras na região oeste (municípios de Cafelândia, Corbélia, Nova Aurora, Palotina, Santa Tereza do Oeste, Toledo e Ubiratã), centro-oeste (Campo Mourão e Floresta) e norte do Paraná (Londrina, Rolândia, Sertanópolis e Mandaguari).
“É, sem dúvida, um problema grave, mas que deve ser tratado com critérios técnicos e sem comoção”, afirmou o diretor de pesquisas do Iapar, Tiago Pellini.
Presente no encontro, Cezar Augusto Pian, representante do Mapa (Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Pecuária), esclareceu que a entidade reconheceu a ocorrência do patógeno e está monitorando a situação das lavouras para delimitar sua distribuição e, eventualmente, subsidiar ações no campo legislativo.
De acordo com o fitopatologista Adriano de Paiva Custódio, do Iapar, a estria bacteriana tem potencial para reduzir à metade a capacidade produtiva de cultivares altamente suscetíveis.
Controle
Doença de difícil controle por meio de agroquímicos, a resistência genética é apontada como a melhor estratégia para, no curto prazo, enfrentar o novo problema. A identificação das cultivares mais suscetíveis atualmente no mercado é a medida mais urgente a se tomar, segundo os participantes da reunião.
Os representantes de cooperativas presentes informaram que já estão fazendo essa triagem, com base nas informações já disponíveis em seus centros de experimentação.
O Iapar já desenvolve um trabalho de avaliação de cultivares nas duas safras de milho. “Estamos trabalhando também na perspectiva de incluir no projeto o estudo da estria bacteriana”, acrescentou Custódio.
A pesquisa também será chamada para esclarecer os mecanismos envolvidos na disseminação da bactéria por meio das sementes, um ponto crucial e ainda não esclarecido, segundo os presentes na reunião.
Também foi sugerida uma avaliação em âmbito nacional, por meio de parceria que deve ser estruturada com a Embrapa e as empresas obtentoras de cultivares.
Já se sabe que a bactéria pode sobreviver de uma safra para outra na palhada, em restos de culturas e em outras plantas hospedeiras que podem funcionar como inóculo da doença – espécies invasoras ou cultivadas, como arroz, aveia e forrageiras. “São temas para a pesquisa, sobretudo em nossa região, onde a produção é intensiva e diversificada, com duas e até três safras por ano”, acrescenta Custódio.
Clima
Outro ponto que deve merecer estudos é a relação da doença com o clima. “Ao contrário da Argentina e Estados Unidos, onde a doença também está presente, no Brasil há condições de umidade e temperatura favoráveis à bactéria ao longo de todo o ano, e precisamos entender melhor o comportamento da bactéria em função das chuvas”, explicou o pesquisador Rui Pereira Leite, do Iapar.
Com tantas questões ainda em aberto, a recomendação para a próxima safra é que os produtores usem sementes idôneas e mantenham permanente contato com a assistência técnica.
Informe técnico
O Iapar preparou o boletim técnico “Estria Bacteriana do Milho no Paraná”, publicação que apresenta as características da doença, do patógeno, seu modo de disseminação, potencial de danos econômicos e discute potenciais medidas de prevenção e controle.
Interessados devem fazer o pedido pelo e-mail [email protected]. A publicação é gratuita. Também há uma versão em PDF, que pode ser baixada no endereço www.iapar.br.