Brasília – O deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) apresentou na tarde de ontem relatório em que recomenda à Câmara barrar a tramitação da denúncia criminal contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
Bonifácio fez um texto de pouco mais de 30 páginas no qual faz fortes críticas ao Ministério Público, à Polícia Federal e ao Judiciário. O documento foi apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, primeiro passo da tramitação.
Logo ao desembarcar na Câmara, o tucano foi recebido por deputados aliados de Temer e pelo tucano Paulo Abi-Ackel (MG), autor do relatório favorável ao presidente durante a tramitação da primeira denúncia.
Essa é a segunda denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República contra Temer, que é acusado de chefiar uma quadrilha que desviou quase R$ 600 milhões de vários órgãos públicos, além de tentar obstruir as investigações. Na primeira denúncia, em que era acusado de corrupção passiva, a Câmara também barrou a tramitação, em agosto, por 263 votos a 227. Pela Constituição, é preciso o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados para que o STF (Supremo Tribunal Federal) seja autorizado a analisar o caso. Se isso não ocorrer, a denúncia é congelada até o fim do mandato de Temer, em dezembro do ano que vem.
Críticas
No início a leitura do seu voto, Bonifácio não citou as acusações especificamente, mas fez fortes críticas ao Ministério Público, afirmando que ele "comanda" a Polícia Federal, "mancomunado com o Judiciário", causando um desequilíbrio entre os poderes e se tornando em um "novo poder".
Para o tucano, o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal têm tido um poder exacerbado, eivado de abusos, em detrimento do Legislativo e do Executivo. "Basta verificar que nesses autos a Presidência da República não é tratada com a devida reverência", disse Bonifácio em seu relatório, que afirma que o Ministério Público tenta criminalizar a política. Ele também criticou juízes por autorizar buscas e prisões sem embasamento.
Ao se referir à acusação em si, o tucano diz que o ex-chefe do Ministério Público Rodrigo Janot tentou descrever Temer como o "capo [chefe da máfia], o dirigente da Cosa Nostra, da Camorra [organizações criminosas italianas]".
Após o tucano ler integralmente seu voto, os advogados de Temer, Padilha e Moreira também se pronunciaram.
Um pedido de vista do parecer empurrará a votação na CCJ para a semana que vem.
Expectativa do governo
Com o relatório a seu favor, agora o Governo Temer espera repetir o placar da primeira denúncia, quando um relatório pró-Temer foi aprovado por 41 votos a 24 na CCJ. A votação em plenário deve ocorrer na semana do dia 25.
Assim como na primeira denúncia, Temer tem recebido uma romaria de deputados no Palácio do Planalto com o objetivo de angariar votos contra a acusação. As moedas de troca usadas nesses casos são a liberação de verbas para obras apadrinhadas pelos parlamentares, nomeação de aliados em cargos federais e atendimento de outras demandas na máquina pública federal.