Brasília – Além de membros da oposição e até mesmo apoiadores do governo petista que teceram críticas ao discurso do presidente Lula de que o desrespeito aos direitos humanos cometidos pelo governo venezuelano comandado pelo ditador Nicolás Maduro é uma mera “narrativa”, o presidente do Chile, Gabriel Boric, também criticou o presidente brasileiro afirmando que “não é uma construção narrativa; é uma realidade séria”.
“Eu manifestei, respeitosamente, que tenho uma discordância com o presidente Lula quando ele diz que a situação dos direitos humanos na Venezuela é uma construção narrativa. Não é uma construção narrativa. É uma realidade séria”, declarou Boric. A declaração do presidente chileno, que também é de esquerda, foi feita em pronunciamento nos jardins do palácio do Itamaraty, que sediou a reunião de cúpula dos líderes dos países da América do Sul.
Para ele, os milhares de imigrantes venezuelanos que deixaram seu país por causa da situação política “exigem uma posição firme e clara de que os direitos humanos sejam respeitados sempre e em todos os lugares, independentemente do viés político do governante de plantão. Isso se aplica para todos nós”.
Apesar da crítica a Lula, Boric defendeu a volta da Venezuela nos debates multilaterais. “Nos alegra que a Venezuela retorne às instâncias multilaterais porque cremos que é nesses espaços que se resolvem os problemas, e não com declarações em que somente nos atacamos uns aos outros. Entretanto, isso não pode significar fazer vista grossa a temas que, para nós, são de princípios importantes”.
Boric disse ainda que, “sem pretensão de gerar polêmica”, todos os presidentes vão trabalhar juntos para assegurar que “as próximas eleições (na Venezuela) vão ter todas as garantias que se requer”.
Uruguai também critica
Na mesma linha do presidente do Chile, o presidente do Uruguai, Lacalle Pou, também criticou o discurso de lula sobre “narrativa”. “Fiquei surpreendido quando se falou que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Já sabem o que nós pensamos a respeito da Venezuela e do governo da Venezuela. Agora, se há tantos grupos no mundo que estão tratando de mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que os direitos humanos sejam respeitados e não haja presos políticos, o pior a fazer é tapar o sol com um dedo”, disse Lacalle Pou.
Foto: ABR
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Ex-integrante do MST diz na CPI que “éramos massa de manobra”
Brasília – A CPI da Câmara dos Deputados que investiga as ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) ouviu ontem (30) dois ex-integrantes do movimento. Nelcilene Reis e Ivan Xavier foram chamados pela comissão como “convidados” para esclarecer como funcionam as operações de ocupação de terra e as motivações das manifestações. No início do seu depoimento, Nelcilene disse que participou do movimento de 2016 a 2019 e que trabalhou no financeiro do movimento, com a venda de mercadorias em uma mercearia de um acampamento no Distrito Federal.
Nilcilene informou que todo dinheiro arrecadado com as vendas era passado para os dirigentes do MST. “Nós não aceitávamos a maneira, não só eu como os outros acampados, de como éramos tratados […] Saímos porque éramos massa de manobra do MST”, disse.
Mais convidados
Ainda ontem a CPI MST aprovou cinco requerimentos. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e o ex-presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) Xico Graziano são dois dos quatro convidados pela comissão para falar sobre as invasões de terra do MST. Foram também convidados o ex-presidente do Incra durante o governo de Jair Bolsonaro, Geraldo Melo Filho e os professores José Geraldo de Souza Junior, professor da Universidade de Brasília, e Raquel Rigotto, da Universidade Federal do Ceará.
Conselho de Ética
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados instaurou ontem processos disciplinares contra sete deputados: Carla Zambelli (PL-SP), Márcio Jerry (PCdoB-MA), Nikolas Ferreira (PL-MG), José Medeiros (PL-MT), Juliana Cardoso (PT-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Entre os processo está Representação 6/23, em que o PL acusa a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) de quebra de decoro parlamentar por, durante reunião da CPI do MST, ter acusado o relator do colegiado, deputado Ricardo Salles (PL-SP), de fraudar mapas e ter relação com o garimpo.