Política

EDITORIAL: Juros: o escancarado estelionato nacional

Numa economia onde a taxa de juros básica é de 6,50% ao ano, o que justifica pagar 11% por mês no cheque especial, mais de 300% no ano? A conta disso é simples: em tempos em que empresas fecham as portas, demitem, contabilizam prejuízo, os grandes bancos brasileiros registram lucros bilionários em trimestres.

Os bancos argumentam que os juros seguem altos devido à inadimplência. Oras, se as dívidas fossem corrigidas por uma taxa mais real, será que os correntistas ainda teriam tanta dificuldade para pagar as contas?

Um dos problemas do País é o sistema oligárquico bancário. O socorro aos bancos em 1995, chamado Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), criou uma rede de grandes bancos dominantes. E são eles quem decidem as taxas de juros, com pouca ou quase nenhuma concorrência entre si.

Em abril os bancos anunciaram mudanças no cheque especial, cujas regras valem a partir de julho. Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), os clientes que utilizarem mais de 15% do limite do cheque durante 30 dias consecutivos vão receber a oferta de parcelamento, com taxa de juros menor, a ser definida pela instituição financeira. Parece outra maquiagem a exemplo da “reforma” que houve com o parcelamento do cartão de crédito. Quem viu a conta ficar mais barata após as mudanças feitas no início do ano?

O sistema bancário nacional há tempos deixou de ser piada. É um drama na vida do empresário e da pessoa física. Em tempos em que nove de cada dez famílias estão com dívidas atrasadas, em que a economia patina por falta de crédito, a realidade deveria ser outra. Toda nação precisa de um sistema bancário forte e estável. Agora, que nome pode se dar a quem lucra em cima da desgraça alheia?