Política

Compliance para tornar campanhas mais éticas

São Paulo – Contratar consultorias que assegurem o cumprimento de normas legais e regulamentares ao longo de campanhas políticas pode fazer com que elas se tornem mais éticas e mais baratas. Essa foi uma das sugestões levantadas ao longo do primeiro painel do Fórum Estadão-Faap Campanha Eleitoral e Fake News, realizado ontem em São Paulo.

Para o publicitário Lula Guimarães, atual coordenador de campanha eleitoral de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, é possível fazer uma campanha com ética e sem os recursos disponíveis nos últimos anos, mas, para isso, ele sugere a contratação por candidatos, partidos ou menos escritórios de marketing de consultorias que chequem a origem do dinheiro.

“A última campanha que fiz foi para João Doria, que disputava a Prefeitura de São Paulo, em 2016. Nessa campanha, nosso escritório contratou uma consultoria da Abraecom (Associação Brasileira de Integridade, Ética e Compliance) para que tivéssemos a tranquilidade da origem de todos os recursos”, disse Lula, um dos entrevistados do primeiro painel do evento: “Como fazer campanha com mais ética e menos dinheiro”.

Segundo o presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, “mecanismos de integridade”, como ferramentas de compliance, são necessários para fazer a gestão das campanhas.

Magri cita dados de uma pesquisa realizada pelo Ethos juntamente com a Ibracem (Instituto Brasileiro de Certificação e Monitoramento) para comprovar que é preciso fiscalizar de forma mais eficaz os recursos empregados nas campanhas políticas, especialmente nesta eleição, que será custeada por dinheiro público dos fundos eleitoral e partidário – cerca de R$ 2,6 bilhões no total.

“Aplicamos nove certidões de conformidade legal aos 3 mil fornecedores das últimas eleições, como agências de publicidade, consultorias, postos de gasolina. O mínimo exigido para qualquer um vender para o setor público. E encontramos 92% de não conformidade”, afirmou.

Para ilustrar a importância desse debate, Magri citou o custo do voto no Brasil. “Em 2002, para vencer a eleição, Lula gastou R$ 2,50 por voto. Em 2014, esse custo para Dilma foi de R$ 25.”

Descrença

O painel também debateu a descrença do eleitorado com a política brasileira e as chances dos atuais candidatos, seja nas candidaturas majoritárias ou proporcionais. “As regras do jogo foram reiteradas por aqueles que querem se manter no jogo”, disse Magri, em relação aos parlamentares que buscam a reeleição. “Há a necessidade, portanto, de os partidos perceberem a insatisfação popular, sendo capazes de dialogar com a sociedade para reversão deste quadro.”