Policial

Contrabando rendeu R$ 2,5 bi no trimestre

Foram apreendidos somente no primeiro trimestre deste ano, 17,1 milhões de maços de cigarro, destes 8,1 milhões em Foz , 4,8 milhões em Cascavel e R$ 5 milhões em Guaíra

Foz – Com uma rota viciada para o tráfico de drogas, para o contrabando de cigarros e para o descaminho, as BRs 277, 467 e 163, todas passando pela região Oeste do Paraná, são protagonistas de crimes sem castigo ou com punições brandas demais. Por elas passa o transporte de quase todo cigarro que entra clandestinamente para abastecer o Brasil. Transportados em caminhões e em carros de passeio, estes com motores potentes para fugir da fiscalização, o contrabando segue se mostrando, há anos, uma prática muito rentável e com penas “convidativas” para quem o pratica.

O crime, que na visão dos cigarreiros é um excelente negócio, conta com um forte aliado. Aliás, são dois: a falta de efetivo em segurança pública para a fiscalização e o envolvimento de agentes públicos na conivência do transporte destas mercadorias.

Nesta terceira matéria da série que volta à fronteira do Brasil com o Paraguai para ver o que mudou nos últimos cinco anos quando o assunto são as fiscalizações, o que se vê ainda é desesperador e  preocupante.

Segundo dados das delegacias regionais da Receita Federal de Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, foram apreendidos somente no primeiro trimestre deste ano, 17,1 milhões de maços de cigarro, destes 8,1 milhões na regional de Foz do Iguaçu, 4,8 milhões na de Cascavel e cinco milhões na de Guaíra. Com exceção de Foz do Iguaçu, as apreensões cresceram. No primeiro trimestre do ano passado elas se apresentavam da seguinte forma: 3,4 milhões de maços na regional da RF de Cascavel, 8,5 milhões na de Foz do Iguaçu e 3,9 milhões em Guaíra. Porém, o que mais chama a atenção é quanto isso gira em cifras. Considerando que no mercado cada maço custa, em média, R$ 3, as apreensões em três meses ultrapassam R$ 50 milhões. Com mais exatidão, foram R$ 51,3 milhões.

Parece bastante, não é? Mas se isso for comparado àquilo que efetivamente é retraído, ou seja, que deixa de chegar ao seu destino final porque é apreendido no meio do caminho, o montante é quase irrisório e outros dados são alarmantes.

“Acreditamos que na prática a gente consegue chegar, apreender, 2% daquilo que passa ilegalmente pela fronteira. Isso significa que 98% acabam andando livremente e chegam onde precisam chegar”, reforça um policial federal que investiga o contrabando na fronteira e que por questões de segurança, prefere não ser identificado. “Estamos no dia a dia combatendo este tipo de ação. Há anos que o cigarro é a principal irregularidade vinda do Paraguai e que passa pelas nossas fronteiras, pelas nossas rodovias, mas às vezes sentimos que este trabalho serve para enxugar gelo, pois enquanto pegamos um, dezenas de outros carros e caminhões passam”, segue.

Se os R$ 51,3 milhões tirados de circulação representam 2% daquilo que passa, isso significa que o crime organizado do tabaco, comandado por pelo menos 20 quadrilhas somente na região, movimentou no primeiro trimestre deste ano o equivalente a R$ 2,565 bilhões. Em todo o ano são mais de R$ 10 bilhões enriquecendo quadrilheiros e fomentando um crime que, com frequência, tem atraído mais pessoas.

Na próxima reportagem da série você vai descobrir porque o contrabando é quase um tabu entre líderes públicos na fronteira e como estão os prefeitos que foram ameaçados de morte ao denunciar as quadrilhas.