Opinião

Coluna Amparar: Existe uma alma gêmea?

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Existe uma alma gêmea?

 

Certamente você já ouviu falar que cada um de nós tem uma alma gêmea à nossa espera. Sem esta alma gêmea seríamos só pela metade. Completos – e felizes – só quando tivéssemos encontrado nossa alma gêmea. O que você acha dessa ideia? Eu, da minha parte, tenho dúvidas…

 

A origem desta ideia está no diálogo Banquete do filósofo grego Platão. Neste diálogo, os convidados são desafiados a definir o que é amor. Um dos convidados – Aristófanes – explica o amor apelando a uma narrativa mitológica. Segundo essa narrativa, no começo os seres eram autossuficientes como homem e como mulher. A soberba fez com que se revoltassem contra os demais deuses. Zeus, chefe dos deuses, decidiu puni-los cortando-os ao meio. Desde então cada um busca a sua “outra metade” perdida. Assim, o amor pleno nada mais seria do que encontrar nossa outra metade, ou seja, nossa “alma gêmea”.

 

O equívoco de fundar nessa narrativa mitológica a busca do nosso parceiro ou da nossa parceira ideal está no fato de cada um de nós já nascer completo, único e inconfundível. Por isso, não existe uma outra metade nossa perdida no cosmos. Isso, porém, não diminui o desafio de pensar como nos convertemos em casal.

 

Viver a vida como casal não está na nossa natureza. É resultado de uma escolha. Como escolha, implica em termos clareza dos motivos pelos quais nos decidimos por alguém. O único motivo que oferece uma chance razoável para o êxito em uma relação de casal é o amor. Quando o casal se escolhe um ao outro por outros motivos, as chances de fracasso da relação são muito grandes. Entre tais motivos costumam estar: boa situação financeira, aspecto físico, estimação intelectual, religião ou porque gostaria de ter esta pessoa como o futuro pai ou mãe dos filhos; da parte do homem, muitas vezes conta ainda o fato de ter alguém para cozinhar, cuidar da roupa, administrar a casa, etc..

 

O que faz com que nos tornemos um casal? Nos convertemos em casal quando o homem se torna marido e a mulher se torna esposa. Nesta unidade formamos uma realidade nova, de certo modo um “corpo” unificado que, no entanto, preserva a individualidade de cada um. O mito da alma gêmea tem por limitação a ideia de que existe uma pessoa perfeita à nossa espera e só com ela seríamos felizes. Na verdade, a visão sistêmica nos ensina que unicamente o imperfeito é amável. Não é possível amar ao perfeito, porque diante dele somos sempre menos, e a relação de casal é de essencial igualdade.

 

E a “alma gêmea”? Alma gêmea é a pessoa que escolhemos amar. Simples assim!

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp: https://bit.ly/2FzW58R