Wanda Z e Landritter devem estar orgulhosos. Seu filho BH Landpeter do Feroleto será um dos representantes brasileiros no time de saltos do hipismo. Mineiro, de 13 anos, terá a honra de formar o único conjunto 100% nacional na modalidade, ao lado do carioca Stephan Barcha, algo que não acontecia desde os Jogos de Sydney-2000, quando Aspen (Doda Miranda) e Calei (André Johannpeter) ajudaram o Brasil a trazer o bronze por equipe.
Um cavalo de criação nacional chegar ao nível mais alto dos esportes equestres não é algo fácil, nem comum. Mas a qualidade do DNA, vindo da mistura de uma das principais matrizes (mãe) do país com um dos maiores garanhões (pai), preparou o BH Landpeter para este momento. Como todo cavaleiro ou amazona, porém, a Europa tinha de ser o seu destino se quisesse saltar mais longe.
? Os concursos no Brasil estão em evolução, mas para chegar ao mais alto nível é preciso vir para a Europa, pela quantidade e qualidade das provas ? admite Barcha, que mora na Bélgica há três anos.
Em um esporte no qual o animal tem a mesma importância que o ser humano, Landpeter do Feroleto foi fundamental para que Stephan Barcha, aos 26 anos, fosse convocado para sua primeira Olimpíada. Os duplos zeros ? percurso completo sem faltas ? conquistados em duas etapas da Copa das Nações, este ano, determinaram a escolha do carioca, que deixou o experiente campeão olímpico Rodrigo Pessoa para trás.
? O cavalo sempre mostrou ser muito bom, e eu acreditava que pudesse chegar ao nível olímpico nos saltos, o suprassumo do esporte. Já ganhei Brasileiro com ele, mas precisava alcançar outros patamares. Aqui estava difícil evoluir mais, e eu não podia sair do Brasil, deixar meu emprego, minha família ? conta Sérgio Marins, que começou a preparar Landpeter quando este tinha 6 anos.
A amizade de Marins com Barcha permitiu que o cavaleiro carioca desse o salto que faltava na carreira.
? Conheço Barcha há anos, somos muito parceiros. Ele estava sem um cavalo realmente bom, e fizemos esse acordo (de ele montar o cavalo na Europa), com o aval da proprietária.Um cavalo BH numa Olimpíada é uma grande conquista. Me sinto presente nos Jogos também.
O potencial de Landpeter despertou interesse do mercado equestre e, não fosse o respaldo da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), ele poderia ter deixado Barcha. A ida para a Europa valorizou o cavalo, e a proprietária mineira Chiara Besenzoni recebeu várias propostas ? neste mercado de altas cifras, os valores não são revelados. Porém, havia a perspectiva de ele ser convocado para os Jogos do Rio.
? Ela nunca quis vendê-lo, mas poderia. Quando recebeu proposta, informou à CBH, que disse para não vender, pois esse conjunto tinha grande chance de estar na Olimpíada se continuasse junto ? explica Marins.
SINTONIA FINA
A sintonia dos dois tem ares de magia. Encontrar a montaria ideal é o sonho de qualquer atleta de hipismo, e Barcha só achou o seu há pouco mais de um ano. Até então, o cavaleiro não tinha grandes resultados nas competições cinco estrelas, mesmo sob a tutela do técnico Nelson Pessoa (pai de Rodrigo), que o convidou, em 2013, para treinar na Europa.
? Eu tive uma passagem curta na Europa, em 2011, mas o cavalo que eu montava foi vendido. Voltei e fui para Belo Horizonte. Em 2013, recebi esse convite do Nelson, pessoa fundamental na minha carreira, um ser humano fantástico, e montei dois cavalos dele. Até que surgiu a possibilidade de trazer o Landpeter para cá. Nelson ajudou em todo o processo ? declara Barcha.
Apesar do pouco tempo com o cavalo, Barcha e Landpeter têm proximidade de anos. Por ser amigo de Marins e dos donos dos haras ao qual o cavalo pertence, ele acompanhou o desenvolvimento do animal de perto. Essa cumplicidade foi fundamental para a rápida adaptação de ambos.
? Eu o conheço há muito tempo, desde potro, mas não montava. Isso facilitou muito quando passei a montá-lo. Foi só aplicar o conhecimento ? diz Barcha, que destaca a inteligência e a elasticidade como principais qualidades de Landpeter. ? Esse ano está sendo mágico. Agora, é só deixar tudo acontecer.
