Um ginásio lotado, de pé, com todos gritando seu nome e uma medalha em casa. Ninguém poderia ser mais merecedor de um reconhecimento tão grande quanto o judoca Antônio Tenório. E nem a perda do ouro atrapalhou a festa do que pode ter sido a última luta do atleta de 45 anos em uma edição de Paralimpíada.
A prata foi o suficiente para que o judoca voltasse a pensar em Tóquio-2020. Tenório ficou em segundo lugar na categoria meio pesado (100kg), classe B1 (cegueira total), depois de perder para o sul-coreano Gwanggeun Choi por Ippon. Foi o sexto pódio, em sua sexta Paralimpíada.
Tenório foi um dos precursores do esporte paralímpico no Brasil. Em sua primeira participação, em Atlanta-1996, já ganhou o ouro. De lá paa cá, sempre esteve no pódio (ouro em Atenas-2004, Sydney-2000 e Pequim 2008, bronze em Londres-2012 e prata no Rio-2016). O adversário da tarde de ontem não poderia ser mais carrasco. Choi foi responsável por interromper a sequência de medalhas de ouro do brasileiro.
Há quatro anos, depois de derrotar Tenório na semifinal, o sul-coreano conquistou o ouro, e o brasileiro ficou com o bronze. Ontem, mais uma vez, Choi atrapalhou a festa do brasileiro. Mas nada que ofuscasse a carreira vitoriosa do judoca de São José do Rio Preto (SP). E a torcida sabe disso.
? Não sei se vou parar ou se continuo. Essa medalha me credita para Tóquio-2020. Eu cheguei aqui desacreditado, mas provei para mim mesmo que ainda sou capaz. Então, vou lutar o Mundial (de 2018), mas talvez, quem sabe eu vá para mais uma Paralimpíada ? disse Tenório, despistando sobre a aposentadoria. ? Eu fiquei muito feliz de lutar em casa. Pude sentir que a arena estava lotada e me aplaudindo muito.
O judoca contou que perdeu alguns patrocínios pouco antes dos Jogos. Apesar disso, ele acredita que o esporte paralímpico está evoluindo no país.
? Eu comecei quando quase ninguém conhecia (o esporte paralímpico). Eu, que sou medalhista desde a minha primeira participação em Jogos, perdi apoio esse ano. Só fiquei com a Caixa. Isso desestimula. Mas não podia desistir ? contou Tenório. ?Agora, ver o apoio do Governo Federal, das pessoas e dos patrocinadores é muito bom. Isso não pode acabar. Tem que crescer.
Aos 13 anos, o judoca sofreu um descolamento de retida depois que uma semente de babosa caiu em seu olho esquerdo enquanto brincava na rua. 
Anos depois, uma infecção o cegou completamente dos dois olhos. Tenório pratica judô desde os 8 anos e nunca parou por causa da sua deficiência.
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? Acho que, com a prata, eu consegui representar bem o país e princialmente as pessoas deficientes. No Brasil, 25% da população têm alguma deficiência e acho que representei essas pessoas que muitas vezes passam despercebidas. Acredito que elas estejam orgulhosas de mim? disse um emocionado Tenório.
Não são só elas que estão orgulhosas. Pelo menos foi o que provou o público presente na Arena Carioca 3. Ao entrar e sair do tatame , foi reverenciado pelas pessoas, que ficaram de pé na arquibancada para aplaudi-lo. Depois do pódio, todos queriam abraçá-lo. E ele, com a simpatia que sempre o caracterizou, foi ao encontro do público. Um campeão sabe como retribuir o carinho genuíno.
IPPON RELÂMPAGO
Agora, Tenório vai descansar para se preparar para o próximo Mundial e depois avaliar se essa foi, ou não, sua última competição paralímpica. Ele garantiu que só vai ao Japão se, com 49 anos, tiver condições de defender bem o país e brigar pela sétima medalha. Se o futuro é incerto, pelo menos ontem ele foi dormir com algumas certezas. Entre elas, a de que sua sexta participação paralímpica foi histórica.
Além dele, subiram ao pódio, ontem, outros dois judocas. Mas, ambos com a prata.
A primeira foi Alana Maldonado (-70kg) pela classe B2 (enxerga vultos), que perdeu a disputa do ouro para a mexicana Fabiola Ruvalcaba por dois wazaris.
Na última luta do dia, que encerrou as competições de judô nessa Paralímpiada, Wilians Silva foi derrotado por Adiljan Tuledibaev, do Uzbequistão, na categoria +100kg na classe B1 (completamente cegos).
A torcida não tinha nem terminado de gritar o nome do Wilians quando a luta acabou. Foram dois segundos. Provavelmente a luta mais rápida dessa edição. No primeiro e único golpe, Tuledibaev derrubou o brasileiro com um ippon e a torcida precisou de mais do que dois segundos para entender o que tinha acontecido.
