RIO ? China e Sérvia fazem neste sábado, às 22h15m, no Maracanãzinho, uma final olímpica inédita no vôlei de quadra feminino. As duas equipes chegaram à decisão após derrotarem os finalistas de Londres-2012 e em Pequim-2008: as chinesas tiraram o Brasil ainda nas quartas de final, e as sérvias derrotaram as americanas na semifinal. Brasil e EUA fizeram as últimas duas finais, com duas vitórias das brasileiras, bicampeãs olímpicas.
A China, terceira do ranking mundial da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), busca a terceira medalha de ouro olímpica: venceu em Los Angeles-1984, quando a técnica Lang Ping ainda jogava e era conhecida como ?Martelo de Ferro?, por causa de seus poderosos ataques, e em Atenas-2004. Já as sérvias, sextas no ranking, experimentam essa sensação pela primeira vez: elas sequer haviam avançado à zona de medalha olímpica e numa ascensão incrível, saíram da 11ª e penúltima colocação em Londres-2012, sem vitórias, para a final no Rio-2016. Na outra participação, em Pequim-2008, elas foram quintas colocadas.
A Sérvia, que já havia eliminado a Rússia nas quartas de final, surpreendeu ao vencer os EUA, campeões mundiais em 2014, por 3 a 2 (20/25, 25/17, 25/21, 16/25, 15/13), na semifinal, tornado-se o primeiro time europeu a se classificar para uma final olímpica desde Atenas-2004 (a Rússia). De Londres para cá, foi medalha de bronze no Grand Prix (2013) e prata na Copa do Mundo e no Campeonato Europeu (2015).
? Não me surpreendi com a Sérvia. Elas jogam bem no ataque e na defesa. No ano passado, venceram os EUA (na Copa do Mundo) e estão jogando melhor ? disse Ping, que perdeu para o rival por 3 a 0 na fase de grupos. ? Essa pode ser uma partida muito intensa ou não, já que elas nos venceram por 3 a 0 na primeira etapa. Espero que desta vez o jogo seja melhor e que não acabe num 3 a 0.
Apenas três remanescentes de 2012
A China, que também ganhou um bronze em Seul-1988 e uma prata em Atlanta-1996, volta ao pódio olímpico após sequência interrompida em 2012, quando foi eliminada nas quartas de final pelo Japão, após perder um tenso tie- break por 18/16 e terminar em quinto. Desde Sydney-2000, subia ao pódio: além do ouro em Atenas-2004, foi bronze em Pequim-2008.
A assim como a Sérvia, a China teve um ciclo olímpico de recuperação. Em 2013, ganhou sua primeira medalha no Grand Prix desde 2007 (prata) e, em 2014, a primeira medalha em Campeonatos Mundiais desde 1998 (mais uma prata). Ping, no entanto, chegou aos Jogos dizendo que sua equipe estaria ?um degrau abaixo? de Brasil e EUA. Explicou que tem time novo, com apenas três atletas remanescentes de Londres. Entre elas, a capitã Ruoqi, que defende a seleção desde 2009 e voltou ao time após cirurgia no coração.
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Questionada sobre a responsabilidade de ter levado a China à final, Ping, que também levou os EUA à prata em Pequim-2008, disse que é sua obrigação melhorar a equipe, mas que os bons resultados são mérito de todas:
? Nunca pensei sobre o que merecia. Sou técnica desta equipe, indo bem ou mal. É tudo minha responsabilidade. Se a equipe não vai bem o suficiente, tenho de puxar todas para cima. Se a equipe está bem, então o esforço de todos deu certo. Só preciso fazer o meu melhor ? afirmou a única técnica mulher na elite do vôlei.
Ela acredita que ser isso tem relação com o fato de que muitas jogadoras encerram suas carreiras e querem se dedicar à família, ter filhos. Algo complicado quando se defende uma seleção. Ela bem que sabe. Quando atleta, Ping fez a China ganhar tudo: além do ouro em Los Angeles-1984, o bicampeão mundial (1982 e 1986) e o ouro na Copa do Mundo (1981 e 1985). Não por acaso, é reverenciada no seu país. Ping, que tem 55 anos, já teve até seu rosto estampado em selos na China. Quando se casou, no final dos anos 1980, a cerimônia foi transmitida pela principal emissora de televisão do país.
Apesar de rígida e de pouco demonstrar emoções, foi bastante carinhosa quando suas comandadas derrotaram a Holanda por 3 a 1 (27/25, 23/25, 29/27 e 25/23), em semifinal de tirar o fôlego. É que nos tempos de jogadora, ela enfrentou um regime severo e por isso diz que não submete suas atletas ao que passou. Ela já disse que em sua época era ?era só treinar e jogar? e lamentou que em Los Angeles não puderam ir à Disneylândia.
Quando a China passou à final, ela chorou em quadra e abraçou atleta por atleta, incluindo Ting Zhu, que arrasou o Brasil (28 pontos) e a Holanda (33 pontos). Zhu entrou no seleto grupo das que marcaram mais de 30 pontos num único jogo em Olimpíadas. Só é superada pela brasileira Mari (37 pontos) e pela coreana Kim (34).