SÃO PAULO – O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) vai denunciar pelo menos 11 envolvidos na máfia de apostas em jogos de futebol no Brasil, revelada pela Operação Game Over. As penas pelos crimes de formação de quadrilha e manipulação de resultados somam 10 anos de prisão. Até agora, a Polícia Civil já prendeu oito participantes no esquema que envolvia apostadores em bolsas asiáticas. O chefe da quadrilha brasileira, Anderson Silva Rodrigues, ainda não foi encontrado.
Nesta quarta-feira, policiais de São Paulo cumpriram 10 mandados de prisão e três de busca e apreensão em cidades do estado, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Ceará. Em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, prenderam o ex-jogador Marcio Souza da Silva, subchefe do esquema, que atuou futebol asiático por oito anos, em clubes da Indonésia e Malásia. Na capital foi preso ainda um jogador e aliciador, identificado apenas como Rodrigo.
Anderson Silva Rodrigues, também com residência no Rio, não foi encontrado ainda, mas a Polícia Civil não o considera foragido. A expectativa é de que ele se entregue, assim como um ex-técnico e aliciador, identificado apenas como Marcos, que mora no Rio Grande do Norte.
De acordo com Mário Sérgio de Oliveira Pinto, delegado responsável pelo caso, disse que além da manipulação de resultados em jogos das séries A2 e A3 do Campeonato Paulista, há provas de que houve combinação prévia de placares em estaduais do Rio Grande do Norte, Maranhão, Ceará e Acre. Segundo ele, os relatórios da Fifa, que apontam indícios de fraude em duas partidas do Campeonato Carioca de 2013 (Botafogo 4 x 0 Quissamã e Vasco 3 x 1 Quissamã) ainda não foram incorporados à investigação.
– Não recebemos essa documentação. Naturalmente, vamos apurar. Pode ser que tenha sido fruto dessa quadrilha. Essa informação vai ser investigada.
Há indícios de que tenha havido manipulação em campeonatos estaduais no Paraná e no Mato Grosso também. O material apreendido vai apontar, através de transações financeiras feitas, se houve fraude. Não há indícios no Rio de Janeiro por enquanto. Mas, como captamos muito material no Rio, não descartamos essa possibilidade. Eles (os investigados) se deslocam muito, principalmente para São Paulo e Nordeste – explicou Oliveira Pinto.
Investigações começaram na Áustria
As investigações começaram na Áustria, e a empresa Indexxdata foi a primeira a levar informações sobre a máfia de manipulação para a Fifa. Segundo o delegado, a estimativa é de que o esquema envolva pelo menos 8 clubes brasileiros. Por partida, eram pagos valores entre 20 e 30 mil dólares, a jogadores, técnicos e dirigentes. As quantias eram entregues em dinheiro vivo logo após o final do árbitro por um emissário enviado a campo.
Parte da quadrilha asiática chegou a vir o Brasil para visitar clubes envolvidos no esquema. Não há indícios de propina paga aos times vencedores e juízes, apenas às equipes que entregavam os jogos:
– Através de um pivô no Brasil, as quadrilhas manipulavam resultados de campeonatos menores para que os times perdessem seu jogos em placares bem abertos, como 4 a 0. A complexidade era tanto que definia que o primeiro gol fosse sofrido aos 15 minutos do 1º tempo, por exemplo, porque as apostas permitem que coloquem as apostas em cima dessas probabilidades.
Em interceptações telefônicas, aliciadores foram flagrados dando orientações de como jogadores e técnicos deveriam “entregar o jogo”.
– Eles davam instruções de como atingir determinado resultado: ‘Pega a bola com a mão, provoca pênalti, se vira!’. Um jogo que nem televisionado, com pouca presença de público, é muito mais fácil de manipular – detalhou o delegado.